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07/06/2004 - 07h09

Reforma deve resgatar Biblioteca Mário de Andrade

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JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

A Biblioteca Mário de Andrade não chegou a se tornar um exemplo dignificante da prefeitura na área cultural. Pelos primeiros planos, sua reforma e ampliação deveriam terminar em janeiro de 2003. As obras, no entanto, começarão apenas em 2005.

Na última semana, aquela biblioteca municipal foi objeto de polêmica na seção "Tendências/ Debates", da Folha. O historiador Marco Antonio Villa publicou na quarta-feira artigo intitulado "A destruição de uma biblioteca", respondido na sexta por José Castilho Marques Neto, diretor dela, com o texto "Verdades a respeito da Mário de Andrade".

Duas cartas, uma de Marco Aurélio Garcia, ex-secretário de Cultura da prefeita Marta Suplicy, e outra de Francisco Foot Hardman, coordenador do programa Colégio de São Paulo, defenderam a atual gestão da instituição.

Há fortes contrastes no cotidiano no prédio inaugurado em 1942 no centro paulistano. O site da biblioteca permite pesquisar o catálogo por temas e autores (http:// www4.prefeitura.sp.gov.br/bi blioteca/PaginaInicial.asp). Mas, com apenas um quarto do acervo informatizado, a localização de livros por consulentes precisa ainda ser feita de forma manual, em gaveteiros e fichas datilografadas.

O Colégio de São Paulo --com cursos e ciclos de conferências abertas a qualquer um-- foi em parte responsável pelo salto de 400 para 1.300 pessoas que em média freqüentam diariamente a biblioteca. Cynthia Gusmão, musicista, acaba de dar um curso sobre música erudita brasileira. Walnice Nogueira Galvão, professora da USP, está para iniciar um outro, sobre o romance policial.

Mas, ao mesmo tempo, os bibliotecários, que eram 34 no início da atual administração, são hoje apenas 21. As vagas abertas por aposentadorias não foram preenchidas por pessoas desencorajadas pelos baixos salários.

"Ganhamos pouco mais que R$ 1.300", diz a presidente da Associação de Bibliotecários Municipais de São Paulo, Olga Estorelli. Na vizinha São Bernardo do Campo, por exemplo, o salário inicial é de R$ 2.032.

Entre os funcionários, a referência de excelência foi a administração anterior do PT, a de Luiza Erundina (1989-1992), pelos salários, mas também pelo acervo e equipamentos comprados.

A Mário de Andrade é relativamente barata para a administração municipal. Seu orçamento está crescendo. Foi de R$ 577 mil no ano passado. Poderá chegar neste ano, com o Colégio de São Paulo, a R$ 1,18 milhão.

Comparando: essa cifra é 17 vezes menor que o custo de construção de um CEU (Centro Educacional Unificado). E, mantendo-se o orçamento da biblioteca de 2004, ela poderia ser mantida por 185 anos se lhe fossem destinadas as verbas que a prefeitura gastará com as passagens de nível da Rebouças e da Cidade Jardim.

Ainda assim, não é correta a idéia de que a Biblioteca Mário de Andrade está em colapso. O repórter da Folha a visitou na sexta à tarde, anonimamente. Havia 34 pessoas na sala de leitura. O xerox e as leitoras de microfilmes funcionavam sem problemas. Os banheiros estavam limpos, e funcionavam só dois dos quatro computadores conectados à internet (a Eletropaulo dará de presente 19 outros em julho).

A seção dos 47 mil livros e obras raras permanece aberta. Mas o acesso é restrito a pesquisadores que preencham um questionário e discutam seus projetos com uma das bibliotecárias.

É possível que a impressão de morosidade se deva ao contraste com os planos que de início a atual administração anunciou para a Mário de Andrade.

Seus 11 mil m2 deveriam ter virado 16 mil m2 no primeiro semestre do ano passado, de acordo com o segundo prazo para o término das obras de um projeto preparado pelo escritório de arquitetura Fábio Penteado.

Mas o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que entraria com R$ 4 milhões dos R$ 7 milhões orçados para a reforma há dois anos, concordou com o financiamento integral e emprestará R$ 22 milhões. É um empréstimo com seis anos de carência e, depois, juros de 2,5% anuais.

A biblioteca será um dos 130 projetos beneficiados pelo empréstimo internacional no centro da cidade. O protocolo inicial foi assinado na última quarta-feira.

Há duas outras boas notícias, e quem diz é o diretor da Mário de Andrade, José Castilho Marques Neto. A primeira são os entendimentos com o governo do Estado para que passem à instituição os 5.000 m2 de um prédio vizinho, na praça Dom José Gaspar, que hoje pertence ao Ipesp (Instituto de Previdência do Estado).

A segunda está na criação da Sociedade de Amigos e Patronos da Biblioteca Mário de Andrade. Ela teve na última quinta-feira sua primeira reunião. Seu presidente, Wander Soares, diretor da editora Saraiva, disse à Folha que só a prefeitura não consegue pôr a casa em ordem e dinamizar suas atividades. Empresários e representantes da sociedade civil embarcaram no projeto.

Ou seja, há algo que lentamente acontece. Mesmo assim, diz a bibliotecária Olga Estorelli, "a prefeitura investiu pouco nas bibliotecas e preferiu investir bastante naquilo que dá mais visibilidade, que são as grandes obras".
 

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