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09/06/2004 - 07h18

Ibrahim Ferrer faz "buena volta" ao Brasil

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

"Ibrahim, vamos logo", diz a mulher do outro lado do telefone. E silêncio. "Ibrahim, anda, homem." Nada de Ibrahim. "Ibrahim", grita sua mulher, Caridad, alongando a sílaba final. Mais um pouco e eis que chega Ibrahim.

Demora para atender o telefone, lá em Havana, chega ao bocal um pouco resfolegante, mas é só abrir a boca para mostrar sua juventude. "Buenos dias! Don Cassiano?", diz, cheio de energia.

Aos 77 anos, Ibrahim Ferrer só parece devagar mesmo para atender telefones. Depois de ir à Macedônia, ele fez shows pela Romênia, chacoalhou Berlim e assim por diante. E nos dias 17 e 18, a notícia demorou, mas veio, ele se apresenta em São Paulo, no Via Funchal, antes de esticar com um show no Rio e um em Belo Horizonte.

Ferrer não é um novato no país. Desde que o fenômeno "Buena Vista Social Club" estourou, em 1997, levando aos ares Ferrer, Omara Portuondo e os recém-desaparecidos Compay Segundo (1907-2003) e Rubén González (1920-2003), o cantor cubano já passou pelo menos duas vezes ao Brasil, em 1999 e em 2000.

Depois de quatro anos sem pisar por aqui, Ferrer diz que já sente saudades. "Sou apaixonado pelo Brasil há décadas", diz. O namoro começou como começou o namoro de muitos pelo globo afora, nos anos 40: Carmen Miranda, o papagaio Zé Carioca, as paisagens de Copacabana embaladas por Disney.

"Gostava tanto desses filmes que fui trabalhar no cinema, vendendo revistas e doces, para poder assisti-los mais vezes."

Nessas fitas aprendeu a gostar do samba, mas diz que nunca teve coragem nem oportunidade de gravar o ritmo. Não canta "la samba" nem no chuveiro, don Ferrer? "Não", responde firme. "Sou fiel aos boleros e ao son."

São esses os gêneros que ele traz mais uma vez ao país. Acompanhado de "faixas pretas" da música cubana, como o baixista Cachaíto López, o guitarristas Manuel Galbán e o trompetista Guajiro Mirabal, o cantor de Santiago de Cuba diz que apresentará os temas de seu disco mais recente, "Buenos Hermanos" (Warner).

"Perfume de Gardenias", "Boquiñeñe" e "Boliviana" são alguns dos hits. Os temas de "Buena Vista Social Club", que transformaram o então engraxate em um "Cinderelo", também estão indefectivelmente escalados.

"Eu serei sempre e eternamente grato ao 'Buena Vista'. Graças a ele posso ter uma vida um pouquinho melhor." Sem deixar nenhum grão de silêncio, Ferrer logo emenda: "Mas continuo o mesmo. Minha vida mudou só na forma de viver. Minha forma de ser não mudou nada. E espero que nunca mude".

Não muda também de opiniões. Ferrer não gosta de falar em política, mas defende Fidel Castro quando o repórter pergunta se foi o regime do dirigente político que criou um hiato de mais de dez anos na sua carreira musical, começada nos primeiros anos 50 e gradualmente decadente até o silêncio no fim dos 70.

"Se não gostasse de Fidel, não estaria vivendo aqui. Vivo muito bem por aqui. Saio pelas ruas e ninguém mexe comigo. Vivo como tenho que viver. Agora é melhor, posso ter uma posição mais confortável. Quando alguém vem, tenho cadeiras para que as pessoas sentem e tudo o mais. Mas vamos mudar de assunto, não gosto de politicagem", pede.

Combinado. Música: a rica música cubana renasceu para o Ocidente graças a seus veteranos, dois deles mortos em 2003. Os jovens são tão bons quanto a geração "Buena Vista"?

"A morte de Compay e Rubén foi uma lástima. Morreram bem agora que tinham de viver. Mas pelo menos eles ficaram na história. Os jovens que vêm por aí não deixam a desejar. Espere e verá."

Ferrer, provavelmente com o mesmo sorriso maroto que exibiu no documentário "Buena Vista", diz não querer citar nomes.

Outro assunto querido: mulheres. "Ah, tenho viajado bastante e já estive no Brasil algumas vezes, mas ainda não realizei o sonho de ver o Carnaval daí, com todas aquelas mulheres tão lindas. Para elas, eu até cantava samba", e mais prováveis sorrisos marotos do outro lado da linha (que Caridad, a mulher, não veja).

Viajado bastante quanto, don Ferrer? "Já conheci todos os países do mundo", exagera o cantor.

Antes de desligar, uma das vozes mais generosas da canção mundial pede para mandar um recado. Vai lá, Ibrahim: "Mande um abraço a todos os que você imagina que possam gostar de receber um abraço meu. Especialmente mande um beijo a todas as 'muchachas'. E que viva o Brasil".

IBRAHIM FERRER
Quando:
dias 17 e 18, às 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, SP)
Quanto: de R$ 50 a R$ 180
Informações: 0/xx/11/3038-6698 (Ticketronics) e 0/xx/11/2163-2000 (Ingresso Rápido)

Especial
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