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26/09/2000 - 04h13

Crítica: Artista desfruta a leveza de ser filho de Jair

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da Folha de S.Paulo

Há uma questão que se agrava a cada vez que um dos Artistas Reunidos lança um novo disco pela Trama -já foram Max de Castro, Wilson Simoninha e Pedro Mariano, agora é Jairzinho Oliveira.

É que todos eles pertencem a um círculo referencial íntimo, fechado. Amontoados, uns discos vão soando mais parecidos com os outros do que de fato são. É possível pensar em erro estratégico da gravadora ou em desejo afobado demais em fundar um novo centro na música pop brasileira.

Se no geral esses artistas todos estão nitidamente acima dessas questões colaterais -e conquistam, enfim, espaço há muito merecido-, por outro exibem, sim, uma tendência ao isolamento na panela de "filhos de", no círculo de amigos e chapas. Isso pode também uniformizar sua música além do merecido.

Pois bem, Jairzinho Oliveira é o "filho de" Jair Rodrigues, e talvez não por acaso se expõe em "Dis'Ritmia" mais liberto da influência do pai que os colegas filhos de Simonal e de Elis Regina. É mais leve para ele ser do Jair, e isso está nítido em sua música.

"Dis'Ritmia", em que pese o que foi exposto no início, é um disco de artista entregue, solto, que poderá surpreender quem ainda guarde preconceitos contra o molequinho da Turma do Balão Mágico (bem, pensando bem, sua infância nem foi assim tão leve).

Na fibra relaxada -mas lapidada- do CD se colocam os princípios autorais de Jairzinho (todas as canções são dele, e a poesia luta, não sem arranhões, por se libertar da brutalização vigente) e os princípios grupais do novo samba-soul nacional (mais toques de jazz, rap, samba -caso de "Papo de Psicólogo"-, pagode, MPB).

Desprendido do pai, ele faz muitas vezes lembrar mais o soul flutuante de Tim Maia e Cassiano que o samba pesado de Jairzão.

Nem há que citar essa ou aquela canção, elas são uniformes em qualidade, sinceridade, canto gostoso, elegância instrumental e estética. O disco desliza suave, e só peca (estranho isso) pelo início e pelo fim, quando paga o preço de a presença dos Artistas Reunidos começar a ficar ostensiva.

O início, "Música É", alinha palavras redundantes do tipo "música é isso", "música é aquilo". No desfecho, após aquele artifício antipático de final falso, o músico volta recitando seus agradecimentos pessoais -rumor de gag publicitária, espaço precioso roubado da música para o individualismo extra-artístico.

Bem, quaisquer que sejam as ressalvas possíveis, eis aí mais um nome (já há muito conhecido, mas nunca levado a sério) integrado à ainda tateante nova música popular brasileira. Que a Trama invista também (e tanto quanto) nos "filhos de ninguém", para não parecer lobby. Mas Jairzinho já é revelação.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Dis'Ritmia
Artista: Jairzinho Oliveira
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 20, em média

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