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17/06/2004 - 04h07

Legendas desvelam filmes nacionais em mostra para surdos no Rio

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

O cinema brasileiro começa a deixar de ser um segredo para uma parcela do público nacional que precisa ler o que os atores dizem, para desvendar todos os sentidos do que se vê na tela.

É especialmente para portadores de deficiência auditiva que o Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro exibe, a partir deste mês, a mostra gratuita "Cinema Nacional Legendado", com sete títulos, escolhidos em consulta informal à comunidade de surdos, pela internet.

Estima-se que no Brasil a população de pessoas com algum grau de dificuldade auditiva chegue a 12 milhões.

O filme que abre o ciclo, com sessão no próximo dia 26, é "Central do Brasil", de Walter Salles, lançado em 1998. Desde aquele ano, a fonoaudióloga Helena Dale Couto, autora da iniciativa da mostra, tenta organizar exibições regulares de filmes nacionais legendados.

"Quando "Central do Brasil" foi indicado ao Oscar [de melhor filme estrangeiro e melhor atriz, Fernanda Montenegro], houve um movimento muito grande dos surdos. Eles queriam ver o filme. Perguntavam por que fazia tanto sucesso", diz Couto.

Curiosidade

A curiosidade em relação aos títulos nacionais de sucesso explica o caráter da programação, que, além do longa de Salles, agenda "Deus É Brasileiro" (2003), de Cacá Diegues, para 24 de julho.

Os outros cinco títulos --cuja liberação ainda está sendo negociada com suas respectivas distribuidoras, de acordo com Couto-- são: "Carandiru" (2003), de Hector Babenco, "Lisbela e o Prisioneiro" (2003), de Guel Arraes, "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles, o documentário "Janela da Alma" (2001), de João Jardim e Walter Carvalho, e "O que É Isso, Companheiro?" (1997), de Bruno Barreto.

Os filmes serão legendados no Centro de Produção de Legendas, empresa que Couto dirige e que é especializada na tecnologia de legendas ocultas "closed caption".

Diferentemente das legendas comuns, encontradas nos filmes estrangeiros em exibição nos cinemas, o "closed caption" descreve, além dos diálogos, o ambiente sonoro das cenas. A legenda enumera, por exemplo, as características das músicas de fundo (música triste, música animada, música de suspense) e os ruídos que acrescentam significados à trama, como os de tiros ou portas que se abrem e fecham.

Estrangeiros

Com a inexistência de oferta de filmes brasileiros legendados, os espectadores surdos acabam consumindo apenas filmes estrangeiros. A pedagoga e bibliotecária Ana Regina e Souza Campello, 46, diz que costuma ir ao cinema uma vez por semana ou duas por mês.

"Assisto sempre aos filmes estrangeiros, por causa da legenda. Eu queria acompanhar os filmes brasileiros, mas não consigo encontrar nenhum deles legendado", diz Campello.

Doutoranda em educação da Universidade Federal de Santa Catarina, ela se mudou do Rio de Janeiro para Florianópolis há três meses e diz que gostaria de acompanhar os filmes selecionados na mostra "pelo seu processo histórico e cultural".

Mesmo sendo capaz de ouvir com o uso de aparelho, a paulista Tânia Camargo, 50, também evita os filmes brasileiros no cinema, pela falta de legendas. "Consigo ouvir o que uma pessoa fala comigo diretamente. No cinema, por causa do uso do microfone e porque, em geral, as cenas têm mais de uma pessoa falando ao mesmo tempo e, às vezes, até gritando, não consigo entender nada. Fica uma confusão."

Camargo aposentou-se como coordenadora de pessoal de uma instituição cultural em São Paulo e agora está "tentando ser atriz", num grupo de surdos coordenado pela professora de libras (língua de sinais específica dos surdos) Carina Casuscelli.

O grupo prepara uma peça de teatro para o mês de setembro ("Sinais de um Sonho") e um documentário em média-metragem ("Sinais de Linguagem").

A atriz estreante apóia a iniciativa do CCBB-RJ e diz que a mostra de filmes nacionais legendados deveria se estender a todo o país. "Os surdos não se localizam só no Rio ou em São Paulo, mas no Brasil inteiro." Ela afirma também que "os ouvintes deveriam ajudar nessa luta", tendo em conta "a terceira idade e o dia de amanhã, que a gente nunca sabe".

A fonoaudióloga Helena Couto afirma que não conseguiu obter patrocínio para o projeto inicial, que pretendia exibir em âmbito nacional 60 títulos brasileiros legendados. O projeto havia sido aprovado pelo Ministério da Cultura, para captar recursos através de lei de incentivo cultural.
 

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