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18/06/2004 - 10h03

Ibrahim Ferrer desfruta do sucesso musical depois dos 70

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CARLOS BATISTA
da France Presse, em Havana

O cantor cubano Ibrahim Ferrer, que iniciou nesta semana uma turnê por quatro países latino-americanos, incluindo o Brasil, começou adolescente no mundo musical, atuou ao lado de figuras de destaque do seu país, mas teve que esperar 70 anos para conquistar a fama.

Após apresentar o repertório de seu último álbum, "Buenos Hermanos", nos seletos Royal Albert Hall, de Londres, Sydney Opera House e Orchard Hall, de Tóquio, ele iniciou no Peru uma turnê pela América Latina.

O Brasil é sua próxima escala, onde ele se apresentou ontem e toca novamente hoje em São Paulo (Via Funchal), amanhã em Belo Horizonte (Marista Hall) e no domingo (20), no Rio de Janeiro (Canecão). Depois, ele segue viagem para Argentina e Equador.

Nascido em 20 de fevereiro de 1927 em Santiago de Cuba (sudeste), terra de excelente música e rum, este homem de 77 anos, magro e fibroso, de voz suave e modos gentis, parece predestinado à música.

Conta a lenda que sua mãe começou a sentir as contrações num salão de dança, premonição que se completou com um ambiente familiar e local dominado pela música.

Aos 12 anos, sua mãe morreu e Ibrahim teve que ganhar a vida vendendo doces e pipoca nas ruas. Apenas um ano depois, formava seu primeiro grupo musical, Los Jóvenes del Son, para animar pequenas festas do bairro.

Com sua carreira musical já iniciada, Ferrer começou a cantar com vários conjuntos locais de Santiago de Cuba: Sorpresa, Wilson e Maravilla de Beltrán, este último sob a direção de uma importante figura musical em ascensão, Pacho Alonso (1928-1982).

Em 1955, durante uma década de ouro para a música cubana, emplacou seu primeiro sucesso com o disco "El Platanal de Bartolo", como parte da orquestra de Chepin-Choven, dirigida pelo maestro Electo Rosell (Chepin), o mais importante músico da região oriental cubana da época.

Mas a sorte pregou uma peça em Ferrer: seu nome não apareceu nos créditos do disco e o sucesso passou ao longe.

"Ficaria emocionado se meu nome ficasse conhecido", disse anos depois à imprensa, "mas isto nunca aconteceu. Pelo menos, tenho a satisfação de saber que a canção se tornou popular", acrescentou.

Em 1957, Ibrahim mudou-se para Havana, onde trabalhou com a Orquesta Ritmo Oriental, regida por Benny Moré (1919-63), talvez o mais importante músico cubano do século 20, para depois voltar com Pacho Alonso, na época também radicado em Havana com um novo grupo, Los Bocucos.

Nestes grupos Ferrer foi intérprete de guarachas, sones e outros ritmos dançantes, mas os respectivos regentes das orquestras vetaram seu acesso ao bolero.

"Sempre me disseram que não era bom nisso", lembrou. "Com Beny Moré e Pacho Alonso, eu senti que estava fazendo algo importante, mas sempre estive à sombra. Sentia que o público me amava, mas não meus companheiros", acrescentou.

Em 1982, depois da morte de Alonso, Los Bocucos perderam popularidade sem sua figura de destaque. No entanto, Ferrer, um pouco desiludido com a música, permaneceu no grupo até sua aposentadoria, em 1991.

Desde essa data e com seu país em meio a uma forte crise econômica que desvalorizou sua aposentadoria, Ferrer passou a ganhar a vida como engraxate até que, num dia de 1997, a sorte bateu na sua porta através do músico cubano Juan de Marcos González.

De Marcos havia iniciado, junto com o músico americano Ry Cooder, o projeto fonográfico "Buena Vista Social Club", que uniu vários veteranos e ganhou um Grammy e a fama mundial depois do filme homônimo do cineasta alemão Wim Wender.

Cooder pediu uma voz mais suave para os boleros e De Marcos se lembrou do esquecido Ferrer, que renasceu para a música aos 70 anos, e desta vez sob a estrela da sorte.

Além do disco "Buena Vista Social Club", Cooder patrocinou depois o "Buena Social Club apresenta Ibrahim Ferrer", que o lançou para a fama mundial, sobretudo graças à faixa "Silencio", que canta em dueto com a diva Omara Portuondo.

Com sua tranqüila parcimônia, Ferrer admite: "tenho sete anos de nascido".

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