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19/06/2004 - 03h41

Autores criticam oposição de Ubaldo à Festa Literária de Parati

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

A desistência de João Ubaldo Ribeiro de participar da Festa Literária Internacional de Parati chacoalhou a comunidade literária brasileira, mas não teve muito eco entre seus pares.

O romancista de "Viva o Povo Brasileiro" teve sua "baixa" anunciada em nota do jornal "O Globo", com o qual colabora semanalmente, na quarta-feira. "Inferi, pela divulgação, que se trata, basicamente, de realização voltada para autores da Companhia das Letras", declarou o escritor, editado pela Nova Fronteira.

Até a manhã de ontem, o romancista não havia tido nenhuma "adesão" entre os demais 37 escritores escalados para o evento, que começa no dia 7 de julho, no litoral do Rio de Janeiro.

A Folha ouviu oito escritores que vão participar da Flip, que manifestaram, de modo geral, respeito pela decisão do romancista baiano, mas discordam de suas críticas ao evento.

Em entrevista à Folha, anteontem, Ubaldo disse que preferia ficar em casa a "ser explorado como parte de um cenário composto para os autores publicados por uma editora", disse sobre a Companhia das Letras (que não quis se pronunciar sobre o tema), e criticou mais uma vez a divulgação.

"Não acredito que todos os redatores do Rio encarregados de editar matérias sobre a Flip tenham dito: 'Ó, Deus meu, o nome de João Ubaldo está aqui, vou telefonar ao meu editor'. O editor ouvindo isso diria: 'Tire o nome desse idiota da relação'. Não acredito nessa hipótese."

"Sou um escritor que já transcendi o nível do etc. e não atingi nem esse nível na divulgação", disse, citando reportagens do próprio "O Globo" e da "Veja Rio" que não haviam citado ou dado nenhum destaque para ele.

A assessora de imprensa do evento, Selma Caetano, diz: "Demos a mesma importância a todos os autores, todos eles citados em qualquer material produzido por nós. Ubaldo está me dando um poder que eu não tenho".

Sérgio Sant'Anna, considerado um dos principais contistas do país, diz que "Ubaldo deve ter as razões dele", mas defende que a questão da divulgação é o que menos importa. "Nem estou olhando se estou sendo citado ou não. Importante é que o festival é extremamente positivo para a literatura brasileira."

Lygia Fagundes Telles, que teria a companhia de Ubaldo (e de Moacyr Scliar) na mesa "Os Clássicos dos Clássicos", fala no mesmo tom. "Ele tem toda a liberdade de agir como o coração ou a razão dele determinam, mas nós, autores brasileiros, omitidos por natureza, deveríamos dar as mãos."

Citando o crítico de cinema e escritor Paulo Emílio Salles Gomes (1916-77), com quem foi casada, disse: "Como todas as coisas do mundo (coisas importantes e menos importantes) é muito bom o encontro com outra gente, porque acontece, às vezes, que nesses encontros alguém de repente pode encontrar a si mesmo".

Lygia e Verissimo, autor que substitui Ubaldo no evento dedicado a "clássicos brasileiros", foram os autores citados por um dos "caçulas" do evento, Marcelino Freire, publicado pela Ateliê Editorial, para discutir a divulgação da Flip.

"É evidente que os autores de fora, que nunca estiveram no país, vão receber mais destaque no primeiro momento. Verissimo e Lygia, e o próprio Ubaldo, têm espaço o ano inteiro. Seria a mesma coisa se Ubaldo fosse a um festival na Inglaterra", diz. Trocadilhista contumaz, ele lamenta, porém, a ausência do escritor: "Ele jogou um 'ubaldo' de água fria na minha expectativa de contar com a pimenta dele em meu acarajé".

A falta da "pimenta" ubaldiana também foi lamentada por autores como Luiz Vilela, Moacyr Scliar e, com algum humor, por Joca Reiners Terron.

Escritor e editor da pequena Ciência do Acidente, assim como Freire presente no ano passado em Parati como "flipenetra" e agora na programação oficial do evento, ele diz: "Com essa história Ubaldo reinventa a tradição baiana de João Gilberto, ainda que Caetano seria a figura mais adequada para debandar da festa. Por outro lado acho que assim o ziriguidum literário fica mais equilibrado, entre imortais, leitores e pára-quedistas letais, feito eu".

Entre os defensores de Ubaldo, o maior entusiasmo partiu de fora da comunidade de escritores: de uma livraria.

Depois de saber há alguns dias que não seria parceira da Flip, como no ano passado, a dona das únicas duas livrarias da cidade, Norma Reis, decidiu criticar o evento homenageando Ubaldo.

"Vou colocar uma faixa em desagravo a ele e expor todos os seus livros com destaque", disse a proprietária da Nova Parati, que perdeu o título de "livraria oficial" para a paulistana Livraria da Vila, que levará equipe de São Paulo.

Informado disso pela Folha, Ubaldo solidarizou-se com a livreira. "Em um país com mais editoras do que livrarias, esse estabelecimento é mantido há anos heroicamente por essa senhora. E na única ocasião no ano em que ela poderia faturar alguma coisa eles montaram lá outra livraria", ponderou Ubaldo.

Especial
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre João Ubaldo Ribeiro
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