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19/06/2004 - 02h32

60 anos de Chico Buarque ganha livro-homenagem

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio

O livro-homenagem "Chico Buarque do Brasil" reúne, em suas 432 páginas, textos de 47 autores. Entre eles, estão Antonio Candido, José Saramago (com um artigo publicado pela Folha em setembro de 2003), Frei Betto, Leonardo Boff, Moacyr Scliar, Luiz Tatit e Mário Chamie.

Diante de tantos textos, é apenas uma constatação matemática dizer que o livro resulta irregular. Só que, antes de ser acidental, a irregularidade é conceitual. O organizador, o escritor e crítico Rinaldo de Fernandes, juntou no livro depoimentos de amigos-fãs, artigos de jornalistas e escritores, quatro poemas baseados em "A Banda" e, predominantemente, ensaios acadêmicos.

A soma de tudo não chega a ser uma rica colagem. Os depoimentos, por exemplo, escapam pouco da exaltação óbvia. Alguns são rapidíssimas apologias (casos de Gerald Thomas e do cubano Silvio Rodríguez), enquanto um maior como o do MPB-4 Aquiles Rique Reis escorrega na tentação de fazer jogos de palavras com as letras de Chico.

No bloco "Jornalistas e Escritores", destacam-se os artigos de Carlos Ribeiro e José Castello, que dissecam os romances de Chico com extrema clareza. Ambos têm o mérito de, ao contrário de parte dos ensaístas, observar o escritor sem recorrer ao compositor. "(...) Nos extremos dos que louvam e dos que atacam o ficcionista Chico Buarque parece estar sempre a impossibilidade de desvinculá-lo do homem e da sua persona", assinala Ribeiro.

É pena que o texto de Leonardo Boff, bem escrito como de hábito, se baseie quase todo em "Gente Humilde". Como já é sabido, a música tem apenas um verso de Chico, sendo de Vinicius de Moraes todo o resto da letra.

Erros de informação ou de compreensão do trabalho do artista também aparecem nos ensaios. Um exemplo do primeiro caso é o crédito a Francis Hime como co-autor de "O que Será" (a música é só de Chico), no texto de João Batista de Brito.

No segundo está a tentativa de Luciana Eleonora de Freitas Calado de dar uma dimensão literária às canções que as afaste de sua origem musical.

Ao ser pioneiro na inclusão de letras nos encartes, ele teria "a intenção de que suas composições fossem vistas como 'literatura cantada'"(grifo da autora). Chico já disse considerar "obsceno" publicar letras de música em jornais, pois elas não existiriam sem as melodias.

Quem ressalta essa simbiose é Cecilia Almeida Salles, no melhor de todos os ensaios. Melhor porque analisa a literatura de Chico sem fazer concessões à superficialidade, mas também sem lançar mão de uma selva de conceitos e referências que torne --como na maioria dos ensaios-- a obra de um artista popular um intrincado jogo de charadas. Vale ainda citar a abordagem original que faz Pedro Meira Monteiro da relação entre Sérgio Buarque de Hollanda e seu filho.

Duplos

Chico, que é obcecado pelo tema dos duplos (vide a superposição de mãe e filha em "Benjamim" e o José Costa/Zsoze Kósta de "Budapeste"), deve se sentir um outro Chico ao ler as dissecações de seu método de compor.

São tantas alusões à Grécia, diagramas poéticos e coisas "buarquianas" que, em vez de um encontro entre público e compositor através de novos olhares, prevalece a sensação de que os ensaios são exercícios restritos ao ambiente acadêmico.

Melhor faz mestre Antonio Candido, que diz muito em apenas uma página. "[A integridade de Chico] lhe permite ser tão expressivo quanto significativo para o nosso tempo, sem máscara de qualquer espécie. Louvemos Chico Buarque", resume.

CHICO BUARQUE DO BRASIL
Autores:
vários
Editora: Garamond/Fundação Biblioteca Nacional
Quanto: R$ 54,50 (432 págs.)

Especial
  • Luiz Caversan: Chico, um homem elegante
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