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20/06/2004 - 02h56

Padrões da moda contradizem gosto nacional

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ERIKA SALLUM
ANDRÉ DO VAL

free-lance para a Folha de S.Paulo

É temporada de moda, entra em cena um tipo especial de beleza. Meninas que muitas vezes são chamadas de "esqueletos", "esquálidas", "famintas" e que na adolescência receberam todo o tipo de apelidos relacionados à magreza. Adolescentes, transformam-se em tops nas passarelas do Brasil e do mundo. No universo fashion, só entram meninas peso pena de, no mínimo, 1,75 m de altura, quadril até 90 cm e pernas longilíneas.

"A magreza é imprescindível para o bom caimento da roupa", diz o booker Alexandre Gomes, da agência de modelos L'Equipe, a mesma da supertop Jeisa Chiminazzo (incríveis 1,78 m de altura e quadril com 86 cm). "Num desfile, uma mulher assim dá leveza e elegância à criação do estilista. São ótimos cabides."

Não basta ser magra, é preciso ser magérrima, com manequim transitando entre 36 e 38, salvo raríssimas exceções. "Trata-se de matemática pura e simples: quanto mais magra, melhor. Mas tem de ter corpo bonito, tipo a Ana Hickmann", diz Eli Hadid, da agência Mega.

Na vida real, entretanto, a história é outra. O que conta são coxas grossas, seios fartos, quadril (melhor dizendo, bunda) e, como se diz, "o que pegar". "Como homem, é muito melhor uma pessoa mais cheinha. Elas são muito esquálidas. Braço fino...", diz Mauricio Celico, que passeava pelos corredores da São Paulo Fashion Week na última quinta à noite.

Uma das sensações do momento na cidade é justamente a carioca Danielle Winits, em cartaz em São Paulo com o espetáculo teatral "Chicago", com 54 kg desigualmente espalhados por 1,66 m de altura, concentrados em 94 cm de busto e quadril, duas vezes capa da "Playboy".

"Podem falar o que quiser, mas o brasileiro gosta é mesmo de mulher com curva", diz o redator-chefe da revista, Ricardo Villela. "De 30 anos para cá, a única mudança é que o público masculino agora curte seios maiores, só." Na última edição da publicação, foi divulgada uma pesquisa em que 41% dos homens confirmavam que a bunda é a parte mais amada da anatomia feminina.

"Estampar algumas dessas magrelas na capa seria encalhe total. O povo quer perna grossa, bumbum empinado", afirma Edson Aran, diretor de Redação da "Sexy", cujas musas favoritas dos leitores são, ainda, Tiazinha e Viviane Araújo (a morena namorada do cantor Belo). "Não tem nada a ver com o mundo real esse 'Auschwitz fashion'."

Versões de corpo

Desde que surgiram, no início do século passado, as modelos sempre foram esbeltas. Mas o estilo dos corpos ganhou variadas versões ao longo das décadas.

"Num desfile, as roupas precisavam ser vistas da passarela por qualquer pessoa da platéia, então se percebeu que as manequins tinham de ser grandes", conta Kathia Castilho, professora de história da moda da Universidade Anhembi-Morumbi.

O resultado disso foi a imposição de padrões de beleza rígidos e, muitas vezes, cruéis. "A indústria da moda vendeu uma estranha idéia de que gordura é feio, e ninguém questiona isso na sociedade em que vivemos", diz Maria Lucia Montes, professora de antropologia da USP. "Enquanto na Renascença estar acima do peso significava abundância e riqueza, hoje ter corpo de modelo virou sinônimo de distinção social, de status. É uma triste ditadura."

Pelo menos fora do universo da moda, o estilo gostosona parece que vem ganhando cada vez mais adeptos, inclusive entre as mulheres. Principalmente depois que gente, digamos, mais encorpada caiu nas graças do público. Quem não se lembra da musculosa Daniela Cicarelli chamando a atenção entre as franzinas modelos em um recente desfile de moda praia da São Paulo Fashion Week?

Endocrinologista de famosos paulistanos, o médico Maurício Hirata diz que já se foi o tempo em que suas pacientes o procuravam querendo emagrecer a qualquer custo. "Elas desejam hoje ser mais fortes, mais definidas e saradas", diz ele.

As refeições baseadas em saladas e filé de frango dão lugar a muita proteína, para alimentar e manter os músculos, e exercícios. "Os conceitos de beleza estão mudando rápido. Ninguém mais quer ter aquele físico anoréxico. Essa onda já passou."

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