Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/06/2004 - 09h00

Estilista Jum Nakao ataca a "fogueira das vaidades" fashion

Publicidade

FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Uma imagem marcou a São Paulo Fashion Week, encerrada anteontem: as 15 modelos do estilista Jum Nakao rasgando as perfeccionistas roupas de papel no final do desfile. Num evento que cada vez mais reforça o caráter comercial da moda e, para alguns, se aproxima perigosamente de uma Fenit, a feira da indústria têxtil, apontar para o efêmero do vestir-se ganhou marca de manifesto.

"É uma crítica a quem trabalha sem a consciência do que faz. Há muita gente que faz moda apenas por uma questão egocêntrica. O que acredito é que o artista é capaz de animar, dar alma ao objeto. Mas não vejo mesmo como uma crítica e, sim, como falar da responsabilidade de quem trabalha com moda, de escapar da fogueira das vaidades, de fugir da banalização comum nesse meio. Por isso, esse trabalho é a valorização da moda", diz Nakao, 37, em seu ateliê na Vila Mariana.

De acordo com o estilista, contudo, esse desfile é a continuidade de outras coleções: "É uma evolução do que tenho feito, por isso ele não pode ser visto separadamente. Eu queria que as pessoas pensassem sobre a impossibilidade do ter no ciclo do desejo e materializei, de certa forma, a questão do inatingível ao destruir, para gerar a falta, o vazio e criar uma reflexão sobre isso".

Entretanto seria a SPFW o lugar correto para esse manifesto? "Só poderia ser lá, pois é onde se concentra o grupo de pessoas que justamente trabalham em torno da moda, da imagem, do desejo. Se fosse em outro lugar, soaria pretensioso e, por outro lado, não seria impactante. Eu não imaginava que o público iria invadir a passarela para pegar partes das roupas, mas, quando vi o que ocorreu, percebi que a proposta havia funcionado", afirma.

Com isso, o estilista aproxima-se de obras e performances da arte conceitual, que se utilizam dos próprios elementos da arte para questioná-la. "Quis gerar o pensar de pessoas que já pensam a moda. Em outras coleções, já apontava para a linguagem pasteurizada da moda. Toda revista que abro, tudo o que vejo, é muito pasteurizado. São manuais de como ser estilista. Por isso resolvi ir na contramão, utilizando, por exemplo, técnicas absurdas de construção, resgatando tudo o que fosse muito artesanal", continua Nakao.

Mas, inevitável a pergunta, e a coleção comercial? "Hoje eu penso cada vez menos em produzir, até pelas dificuldades que temos enfrentado. Mas há uma tendência, e consigo me encaixar nela, que é o estilista estar ligado a grandes grupos. Nem Alexander McQueen nem Marc Jacobs detêm as marcas deles, elas são produzidas e comercializadas por empresas com esse perfil. Por meio de parcerias, consigo viabilizar a manutenção da minha marca. O que tenho buscado mesmo é me dedicar a projetos especiais como esse [desfile] e, no início do ano que vem, numa parceria com o Masp, a Abit e a Faap, vou fazer a direção criativa do Instituto Brasil de Arte e Moda, que irá funcionar no Masp Centro."

Especial
  • Confira as fotos da temporada de moda em São Paulo
  • Fique na moda e acompanhe a São Paulo Fashion Week
  • Arquivo: veja o que mais foi publicado sobre moda
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre Jum Nakao
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página