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25/06/2004 - 07h09

Mais maduro, Sonic Youth relê o rock clássico

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GUILHERME WERNECK
Editor-adjunto da Ilustrada

"Sonic Nurse", terceiro disco do Sonic Youth com o multiinstrumentista e produtor Jim O'Rourke, e 15º álbum de estúdio da banda, vai ainda mais fundo na busca por brandura impressa em álbuns recentes, como "NYC Ghosts & Flowers" (2000) e "Murray Street" (2002).

Num primeiro momento, isso significa que a banda está mais contida e madura. As antes características explosões de ruído violentas são raras e abafadas; o embate dissonante das guitarras, marca registrada do Sonic Youth, também arrefece. Por outro lado, há uma delicadeza maior na construção das melodias, em fazer com que as afinações pouco usuais se encaixem na música de forma menos aberrante, deixando as linhas melódicas menos fraturadas e com um leve sabor pop.

Em entrevista recente à revista americana "Rolling Stone", o guitarrista Thurston Moore disse que "Sonic Nurse" era como "uma jam de Fleetwood Mac da época de 'Bare Trees' com Black Flag dos tempos de 'Jealous Again'". Pode ser uma piada, mas ilustra bem a sensação de que "Sonic Nurse" é um disco em que o Sonic Youth tenta dar seu próprio significado ao rock clássico.

Para perceber essa relação, é necessário voltar um pouco para as raízes da banda, na Nova York do começo dos anos 80, e entender qual é o sentido de rock e de clássico para o Sonic Youth.

O encontro entre Lee Ranaldo e Thurston Moore foi intermediado pelo compositor Glenn Branca. Os dois tocaram em sua orquestra de guitarras, marco zero do movimento no wave, com o qual a banda foi identificada.

Contudo, desde os primeiros discos, o som que saía do encontro dos dois guitarristas --embora ambos flertassem com a música atonal e com afinações diferentes típicas da vanguarda nova-iorquina-- seguia uma linha evolutiva que vinha do Velvet Underground, passava pelo rock dos Stooges e do MC5, para desembocar na poesia punk de Patti Smith e no hardcore do Black Flags.

Combinando essa forte influência do hardcore às conexões com o mundo das artes plásticas, com a famosa cena dos lofts de Nova York, de onde saía a música experimental de gente como John Zorn e Tom Cora, e com o free jazz, a banda formou um estilo inconfundível, caraterizado pelas mudanças de dinâmica comandadas pela bateria de Steve Shelley, pelas guitarras arredias e pelos vocais instintivos de Moore, Ranaldo e Kim Gordon, que alternavam o canto levemente desafinado com gritos e sussurros.

Espécie de imperador do indie rock na vanguarda, a banda chega ao grande público em dois momentos. Primeiro com "Daydream Nation" (1988) e, depois, com "Dirty" (1992), que teve edição de luxo lançada em 2003.

Na época de "Dirty", o Sonic Youth estava em alta por ter sido a banda que indicou o Nirvana para ser contratado por sua gravadora, a Geffen. Talvez por isso tenha optado pela guinada pop e por dar mais visibilidade às letras cantadas por Kim Gordon.

A síntese pop de "Dirty" aparece de volta em "Sonic Nurse". Mas ela não vem sozinha. Tem de se debater com a chegada de O'Rourke à banda e com seu gosto por criar tramas intrincadas ao mesmo tempo em que busca dar ordem ao caos.

Não por acaso, a matriz para as canções de "Sonic Nurse" é "Rain on Tin", de "Murray Street", que capricha numa estrutura sonora tridimensional, com uma melodia complexa. A diferença é que, desta vez, a melodia foi aplainada, domesticada, e, com isso, Kim Gordon, com sua voz entre o sublime e o rascante, pôde cantar como não fazia desde "Dirty".

Avaliação:

Sonic Nurse
Artista: Sonic Youth
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 35, em média

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