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30/06/2004 - 03h05

Proposta de união de museus causa discórdia

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Uma nova polêmica entre os museus da cidade tem ganhado espaço graças à surpreendente proposta que prevê a fusão de três das mais importantes instituições de arte de São Paulo.

Na última semana, o superintendente do Museu de Arte Moderna (MAM), Ronaldo Bianchi, com o vice-presidente da instituição, Roger Wright, apresentaram à secretária da Cultura do Estado, Cláudia Costin, um documento intitulado "Fusão operacional para administração de recursos das entidades: MAM, Pinacoteca e MAC [Museu de Arte Contemporânea da USP]", sugerindo que os três museus ocupem a Estação Pinacoteca (o antigo Dops) com uma exposição de arte brasileira no século 20 e sejam administrados por uma única organização social.

"Essa é uma proposta minha, apoiada pela diretoria do MAM. Acho que é preciso otimizar recursos, num país miserável como o nosso, e essa proposta se insere nas mudanças propostas pelo governo do Estado em criar organizações sociais para gerenciarem os museus", afirma Bianchi.

A sugestão ganha contornos delicados graças à saída de Milú Villela, como presidente do MAM, anunciada também na última semana, após dez anos à frente da instituição, sem a indicação de um substituto. "Essa proposta não tem nada a ver com a Milú, eu já havia preparado o documento antes mesmo de ela avisar que iria sair, e ela, que sai para se dedicar a um projeto internacional junto às Nações Unidas, não vai fazer parte das negociações", diz Bianchi.

Difícil é não lembrar o que ocorreu com o MAM quando seu fundador, Ciccillo Matarazzo, decidiu, em 1963, entregar o acervo do museu à USP, para se dedicar com exclusividade à Bienal de São Paulo, o que gerou o MAC e acabou com a coleção do MAM. "A Milú não é o Ciccillo, e ela não está saindo do conselho do museu, apenas deixando o cargo de presidente. Creio que há uma oportunidade no ar, pois, até setembro, há um prazo para a Pinacoteca se reestruturar por meio da organização social", afirma Bianchi.

"Acho que se trata de uma proposta inadequada, que não respeita o histórico das três instituições e é totalmente inviável na prática", diz Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca. Já Elza Ajzenberg, do MAC, não tem posição definida: "Sou sempre a última a saber. Não conheço a proposta, prefiro ter mais informações para poder emitir uma opinião".

Entretanto, a sugestão não é bem vista dentro do próprio MAM, ao menos segundo Tadeu Chiarelli, membro do conselho curatorial do museu. "Até vejo com alguma simpatia dois ou três museus ocuparem o mesmo espaço, por razões orçamentárias. Mas o que dá riqueza na nossa vida cultura é a pluralidade, com os caminhos que cada museu persegue. Se os três museus tiverem uma única tutela de curadores, se perderá esse dinamismo. É preciso lutar para sanar as dificuldades dos museus, sem mudar suas características, preservando-se seus acervos", afirma Chiarelli.

A questão é como melhorar o diálogo entre as instituições sem descaracterizá-las. "Existe uma carência, na prática, de articulação entre os museus, que já aconteceu no passado e espero que seja retomada, mas o pressuposto é o respeito ao histórico das instituições. A Pinacoteca tem cem anos, São Paulo tem a necessidade de mais espaços", afirma Araújo. Ao menos, a proposta polêmica instaura um debate necessário.

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