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30/06/2004
-
16h30
JANAINA FIDALGO
da Folha Online
A primeira conferência da Convenção Global do Fórum Cultural Mundial foi aberta hoje de manhã no Anhembi, em São Paulo, com uma discussão sobre o acesso à cultura como direito fundamental do cidadão, o respeito à diversidade e o aculturamento imposto aos países do Sul por modelos econômicos dominantes.
A antropóloga argelina Tassadit Yacine, especialista em sociedades berberes, discursou por quase dez minutos, em francês, sem tradução. A demora em corrigir o problema técnico na tradução simultânea para os participantes da conferência causou mal-estar entre os organizadores e um atraso de mais 20 minutos --o debate já havia começado meia hora depois do previsto.
A mesa da primeira conferência, cujo tema era "Cultura e Desenvolvimento Social: Partilhando Responsabilidades", contou ainda com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, a ministra da Cultura da Espanha, Carmen Poyato, e o diretor do Instituto Cultural Casa Via Magia, Ruy Cezar Silva.
Recomeçando seu discurso, a antropóloga argelina criticou a globalização, relacionando a perda de costumes e línguas à imposição dos modelos culturais dos países ricos. Para ela, a integração internacional pode significar uma desintegração nacional.
"Na Argélia, acreditava-se que o atraso da civilização estava relacionado à inferioridade de sua raça e à incapacidade genética dos colonizados. Está claro, porém, que esta visão era eficaz para os colonizadores", disse.
Yacine propôs a formação de um "cinturão de segurança" para garantir não apenas proteção comercial e financeira, mas também social e cultural ao países da América Latina, África, Caribe, regiões do Pacífico, do Mediterrâneo e Oriente Médio.
"Não pode haver uma cultura mundial. Só pode haver a coligação de culturas que preservem sua originalidade", disse, mencionando a idéia do antropólogo francês Claude-Lévi Strauss.
Defendendo o direito à diversidade cultural, a ministra da Cultura da Espanha salientou a importância da cultura no desenvolvimento econômico e social. Para ela, seu financiamento deve ser prioridade dos governos.
"A inclusão social é a solução para a exclusão econômica. A cultura tem um papel fundamental. É a base do desenvolvimento econômico e social, e não o contrário", disse.
Relembrando que os direitos culturais fazem parte da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ministro brasileiro disse ser impossível conceber um desenvolvimento que não seja cultural.
"A cultura e o desenvolvimentos são conceitos e processos necessariamente interligados e compartilhados. O crescimento econômico e as trocas internacionais devem ser culturalmente e ambientalmente sustentáveis."
Gil criticou o modelo de economia vigente, afirmando que este sistema tem sido eficiente na produção de crescimento econômico, mas ineficiente no aproveitamento de recursos vitais.
A indústria cultural foi apontada pelo ministro como um meio de colocar em posição de destaque os países em desenvolvimento, tornando-os produtores e não apenas consumidores. Segundo ele, a indústria cultural vai gerar em 2005 um valor global de US$ 1,3 trilhão.
"A cultura e as indústrias criativas desempenham papel importante na geração de renda e emprego, na qualificação das relações entre os indivíduos e na construção da paz entre os países", afirmou.
Em um momento mais filosófico de seu discurso, Gil criticou a adjetivação da palavra "desenvolvimento" (econômico, social ou cultural). Para ele, a obsessão por adjetivos denota "concepções parciais e excludentes do processo de desenvolvimento da humanidade".
"Assim como o homem não é apenas econômico, social ou cultural --o homem é a soma e a multiplicação das várias dimensões de sua existência--, também o desenvolvimento é necessariamente econômico, social e cultural. Tudo ao mesmo tempo agora, conforme definição do nosso poeta e músico Arnaldo Antunes", disse.
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da Folha Online
A primeira conferência da Convenção Global do Fórum Cultural Mundial foi aberta hoje de manhã no Anhembi, em São Paulo, com uma discussão sobre o acesso à cultura como direito fundamental do cidadão, o respeito à diversidade e o aculturamento imposto aos países do Sul por modelos econômicos dominantes.
A antropóloga argelina Tassadit Yacine, especialista em sociedades berberes, discursou por quase dez minutos, em francês, sem tradução. A demora em corrigir o problema técnico na tradução simultânea para os participantes da conferência causou mal-estar entre os organizadores e um atraso de mais 20 minutos --o debate já havia começado meia hora depois do previsto.
A mesa da primeira conferência, cujo tema era "Cultura e Desenvolvimento Social: Partilhando Responsabilidades", contou ainda com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, a ministra da Cultura da Espanha, Carmen Poyato, e o diretor do Instituto Cultural Casa Via Magia, Ruy Cezar Silva.
Recomeçando seu discurso, a antropóloga argelina criticou a globalização, relacionando a perda de costumes e línguas à imposição dos modelos culturais dos países ricos. Para ela, a integração internacional pode significar uma desintegração nacional.
"Na Argélia, acreditava-se que o atraso da civilização estava relacionado à inferioridade de sua raça e à incapacidade genética dos colonizados. Está claro, porém, que esta visão era eficaz para os colonizadores", disse.
Yacine propôs a formação de um "cinturão de segurança" para garantir não apenas proteção comercial e financeira, mas também social e cultural ao países da América Latina, África, Caribe, regiões do Pacífico, do Mediterrâneo e Oriente Médio.
"Não pode haver uma cultura mundial. Só pode haver a coligação de culturas que preservem sua originalidade", disse, mencionando a idéia do antropólogo francês Claude-Lévi Strauss.
Defendendo o direito à diversidade cultural, a ministra da Cultura da Espanha salientou a importância da cultura no desenvolvimento econômico e social. Para ela, seu financiamento deve ser prioridade dos governos.
"A inclusão social é a solução para a exclusão econômica. A cultura tem um papel fundamental. É a base do desenvolvimento econômico e social, e não o contrário", disse.
Relembrando que os direitos culturais fazem parte da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ministro brasileiro disse ser impossível conceber um desenvolvimento que não seja cultural.
"A cultura e o desenvolvimentos são conceitos e processos necessariamente interligados e compartilhados. O crescimento econômico e as trocas internacionais devem ser culturalmente e ambientalmente sustentáveis."
Gil criticou o modelo de economia vigente, afirmando que este sistema tem sido eficiente na produção de crescimento econômico, mas ineficiente no aproveitamento de recursos vitais.
A indústria cultural foi apontada pelo ministro como um meio de colocar em posição de destaque os países em desenvolvimento, tornando-os produtores e não apenas consumidores. Segundo ele, a indústria cultural vai gerar em 2005 um valor global de US$ 1,3 trilhão.
"A cultura e as indústrias criativas desempenham papel importante na geração de renda e emprego, na qualificação das relações entre os indivíduos e na construção da paz entre os países", afirmou.
Em um momento mais filosófico de seu discurso, Gil criticou a adjetivação da palavra "desenvolvimento" (econômico, social ou cultural). Para ele, a obsessão por adjetivos denota "concepções parciais e excludentes do processo de desenvolvimento da humanidade".
"Assim como o homem não é apenas econômico, social ou cultural --o homem é a soma e a multiplicação das várias dimensões de sua existência--, também o desenvolvimento é necessariamente econômico, social e cultural. Tudo ao mesmo tempo agora, conforme definição do nosso poeta e músico Arnaldo Antunes", disse.
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