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01/07/2004
-
02h40
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo
"Homem-Aranha, Homem-Aranha, tu é homem, mas apanha." A gozação que Didi Mocó fazia nos tempos dos Trapalhões com a versão brasileira da trilha do desenho finalmente encontra tradução fílmica.
Nos primeiros 40 minutos de "Homem-Aranha 2" --a empolgante continuação da adaptação das HQs de Stan Lee e Steve Ditko--, o aracnídeo vira o Álvaro de Campos/Fernando Pessoa do "Poema em Linha Reta": só toma porrada. Física e sentimental.
Primeiro, Peter Parker (Tobey Maguire) é despedido pelo dono da pizzaria em que trabalha como entregador, por só atrasar. Depois, leva bronca do professor e corre o risco de tomar bomba. Em seguida, descobre que Mary Jane (Kirsten Dunst), a amada, está namorando um astronauta.
Por fim, Harry (James Franco), o melhor amigo, o estapeia duas vezes no mesmo dia em que seus poderes especiais começam a falhar. E não ajuda nada o fato de seu editor ser J. Jonah Jameson (J.K. Simmons, hilariante, o melhor ator do filme). Será o fim de nosso herói? (Sobe a música.)
Não, obviamente, ou ele não seria nosso herói. Mas é no dilema hamletiano que Peter Parker tem de continuar a ser ou não ser Homem-Aranha que o filme cresce. O herói dos nerds, o herói gente-como-a-gente do primeiro filme --e da série de HQ-- dá lugar ao príncipe hesitante, que deve optar entre a dor da fama e a alegria insuportável do anonimato.
Por isso "Homem-Aranha 2" não é só mais um filme de férias. Por ter no comando Sam Raimi, que no início da carreira formava trio com os irmãos Coen, um dos grandes diretores de sua geração.
E por contar no seu time de roteiristas com o Prêmio Pulitzer Michael Chabon, autor de uma das melhores ficções que tem o universo dos quadrinhos como pano de fundo, "As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay".
Juntos, eles dão densidade ao super-herói, mas tomando o cuidado de não descuidar das cenas de ação, que afinal são a razão de ser do filme. Aí se destacam duas seqüências magistrais.
A primeira mostra o momento da transformação de um pacato cientista no vilão da hora, Octopus (Alfred Molina, cada vez mais parecido com FHC). Depois de um acidente, ele vai ser operado para ter seus tentáculos artificiais retirados. O que se passa na sala de operações é puro Kubrick.
A outra é a tentativa do herói de parar um trem desgovernado. Ali está simbolizado todo o sofrimento que Peter Parker tem em ser Homem-Aranha, com um bônus: a reação dos passageiros diante do herói e do vilão é uma clara homenagem à tripulação do vôo 93 da United, que derrubou o avião no dia 11 de Setembro.
Há um senão, que não chega a empanar o resultado final. Raimi (ou seus produtores, ou os roteiristas) se deixam contaminar de leve pelo chauvinismo reinante nos EUA da Doutrina Bush. O patrão que demite Parker é árabe; seu senhorio ganancioso é russo.
Avaliação:
Homem-Aranha 2 (Spider--Man 2)
Direção: Sam Raimi
Produção: EUA, 2004
Com: Tobey Maguire, Kirsten Dunst
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Crítica: Homem-Aranha cresce com dilema
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da Folha de S.Paulo
"Homem-Aranha, Homem-Aranha, tu é homem, mas apanha." A gozação que Didi Mocó fazia nos tempos dos Trapalhões com a versão brasileira da trilha do desenho finalmente encontra tradução fílmica.
Nos primeiros 40 minutos de "Homem-Aranha 2" --a empolgante continuação da adaptação das HQs de Stan Lee e Steve Ditko--, o aracnídeo vira o Álvaro de Campos/Fernando Pessoa do "Poema em Linha Reta": só toma porrada. Física e sentimental.
Primeiro, Peter Parker (Tobey Maguire) é despedido pelo dono da pizzaria em que trabalha como entregador, por só atrasar. Depois, leva bronca do professor e corre o risco de tomar bomba. Em seguida, descobre que Mary Jane (Kirsten Dunst), a amada, está namorando um astronauta.
Por fim, Harry (James Franco), o melhor amigo, o estapeia duas vezes no mesmo dia em que seus poderes especiais começam a falhar. E não ajuda nada o fato de seu editor ser J. Jonah Jameson (J.K. Simmons, hilariante, o melhor ator do filme). Será o fim de nosso herói? (Sobe a música.)
Não, obviamente, ou ele não seria nosso herói. Mas é no dilema hamletiano que Peter Parker tem de continuar a ser ou não ser Homem-Aranha que o filme cresce. O herói dos nerds, o herói gente-como-a-gente do primeiro filme --e da série de HQ-- dá lugar ao príncipe hesitante, que deve optar entre a dor da fama e a alegria insuportável do anonimato.
Por isso "Homem-Aranha 2" não é só mais um filme de férias. Por ter no comando Sam Raimi, que no início da carreira formava trio com os irmãos Coen, um dos grandes diretores de sua geração.
E por contar no seu time de roteiristas com o Prêmio Pulitzer Michael Chabon, autor de uma das melhores ficções que tem o universo dos quadrinhos como pano de fundo, "As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay".
Juntos, eles dão densidade ao super-herói, mas tomando o cuidado de não descuidar das cenas de ação, que afinal são a razão de ser do filme. Aí se destacam duas seqüências magistrais.
A primeira mostra o momento da transformação de um pacato cientista no vilão da hora, Octopus (Alfred Molina, cada vez mais parecido com FHC). Depois de um acidente, ele vai ser operado para ter seus tentáculos artificiais retirados. O que se passa na sala de operações é puro Kubrick.
A outra é a tentativa do herói de parar um trem desgovernado. Ali está simbolizado todo o sofrimento que Peter Parker tem em ser Homem-Aranha, com um bônus: a reação dos passageiros diante do herói e do vilão é uma clara homenagem à tripulação do vôo 93 da United, que derrubou o avião no dia 11 de Setembro.
Há um senão, que não chega a empanar o resultado final. Raimi (ou seus produtores, ou os roteiristas) se deixam contaminar de leve pelo chauvinismo reinante nos EUA da Doutrina Bush. O patrão que demite Parker é árabe; seu senhorio ganancioso é russo.
Avaliação:
Homem-Aranha 2 (Spider--Man 2)
Direção: Sam Raimi
Produção: EUA, 2004
Com: Tobey Maguire, Kirsten Dunst
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