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02/07/2004
-
08h23
free-lance para a Folha
Antes de começar o dinamarquês "Corações Livres", de 2002, aparece na tela o velho certificado do Dogma 95, o movimento que preconiza a volta da "pureza estética" no cinema, criado na própria Dinamarca por Thomas Vinterberg --do incensado "Festa de Família" (98)-- e Lars von Trier --de "Os Idiotas" (98).
O grande desafio da diretora Susanne Bier foi o de criar um cruzamento entre Dogma e melodrama. São duas correntes contraditórias em seus princípios: o primeiro com sua câmera na mão e ambientação 100% naturalista (sem cenários, som externo e maquiagem); o segundo com suas histórias inverossímeis e a música constante a reforçar o drama.
Bier não se sai mal na criação de seu "meloDogma". A câmera na mão e o ambiente naturalmente escuro dos interiores das casas imprimem uma autenticidade surpreendente à história pouco realista.
O enredo melodramático, em que o médico se apaixona pela vítima "emocional" do acidente causado por sua mulher, é digno das melhores novelas das oito (no sentido positivo da comparação), onde a culpa age como um catalisador das relações entre os personagens.
O maior mérito de "Corações Livres" é privilegiar um humor tipicamente nórdico --ácido, cortante, mais negro que o dos ingleses. Ele irrompe em cenas dramáticas pesadas não para aliviar a tensão do espectador, mas para reafirmar o equilíbrio emocional dos personagens em situações massacrantes.
Talvez esteja na hora de os cineastas dinamarqueses se desligarem de um movimento que tem relativa importância estética para eles mesmos e apostarem naquilo que a cultura nórdica tem de bom e de único.
Avaliação:
Corações Livres (Elsker Dig for Evigt)
Direção: Susanne Bier
Produção: Dinamarca, 2002
Com: Sonja Richter, Nikolai Lie Kaas, Mads Mikkelsen
Quando: a partir de hoje no HSBC Belas Artes
Leia mais
"Comunidade Dogma acabou", diz diretora de "Corações Livres"
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o Dogma
"Corações Livres" é união de melodrama com regras estéticas
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Antes de começar o dinamarquês "Corações Livres", de 2002, aparece na tela o velho certificado do Dogma 95, o movimento que preconiza a volta da "pureza estética" no cinema, criado na própria Dinamarca por Thomas Vinterberg --do incensado "Festa de Família" (98)-- e Lars von Trier --de "Os Idiotas" (98).
O grande desafio da diretora Susanne Bier foi o de criar um cruzamento entre Dogma e melodrama. São duas correntes contraditórias em seus princípios: o primeiro com sua câmera na mão e ambientação 100% naturalista (sem cenários, som externo e maquiagem); o segundo com suas histórias inverossímeis e a música constante a reforçar o drama.
Bier não se sai mal na criação de seu "meloDogma". A câmera na mão e o ambiente naturalmente escuro dos interiores das casas imprimem uma autenticidade surpreendente à história pouco realista.
O enredo melodramático, em que o médico se apaixona pela vítima "emocional" do acidente causado por sua mulher, é digno das melhores novelas das oito (no sentido positivo da comparação), onde a culpa age como um catalisador das relações entre os personagens.
O maior mérito de "Corações Livres" é privilegiar um humor tipicamente nórdico --ácido, cortante, mais negro que o dos ingleses. Ele irrompe em cenas dramáticas pesadas não para aliviar a tensão do espectador, mas para reafirmar o equilíbrio emocional dos personagens em situações massacrantes.
Talvez esteja na hora de os cineastas dinamarqueses se desligarem de um movimento que tem relativa importância estética para eles mesmos e apostarem naquilo que a cultura nórdica tem de bom e de único.
Avaliação:
Corações Livres (Elsker Dig for Evigt)
Direção: Susanne Bier
Produção: Dinamarca, 2002
Com: Sonja Richter, Nikolai Lie Kaas, Mads Mikkelsen
Quando: a partir de hoje no HSBC Belas Artes
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