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02/07/2004 - 14h37

Marlon Brando foi um dos últimos símbolos sagrados do cinema

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da France Presse, em Los Angeles

Ídolo de uma geração, símbolo de rebeldia e eterno galã, Marlon Brando era um dos últimos monstros sagrados da sétima arte. O ator morreu ontem, aos 80 anos, em Los Angeles (EUA).

Brando, reconhecido por ser metódico, reescreveu as regras de atuação e, com sua impactante sensualidade, redefiniu a forma do astro de cinema masculino.

Um de seus papéis mais memoráveis foi o do mafioso Don Vito Corleone, em "O Poderoso Chefão", de Francis Ford Coppola.

Nos últimos anos, Brando continuou a ocupar as manchetes da imprensa mundial, não por seu talento, mas sim pelas tragédias familiares pelas quais passou.

"Ele tinha o que se pode chamar de combinação perfeita", afirmou certa vez o ator Rod Steiger, co-protagonista de "Sindicato de Ladrões" (1954). "Tinha um talento incrível, era um símbolo sexual e se negava a aceitar compromissos. Tornou-se a expressão de uma interpretação verdadeira e realista, que nunca teria existido sem ele", disse Steiger.

Sob a direção de grandes diretores, Brando se transformou no principal expoente da nova geração de atores do pós-guerra, com filmes como "Uma Rua Chamada Pecado", "Viva Zapata!", "Sindicato de Ladrões" e "O Selvagem".

Bud, como era chamado pela sua avó, nasceu em 3 de abril de 1924 em uma família modesta de Omaha (Nebraska). Sua mães era uma atriz depressiva e alcoólatra, e seu pai era um vendedor mulherengo "com sangue composto de testosterona, adrenalina, álcool e ira", segundo o próprio Brando.

Após ser expulso de uma escola militar, o jovem Brando se mudou para Nova York para estudar arte dramática na escola de Stella Adler e no Actor's Studio, onde aperfeiçoou o "método" Stanislavsky, que consiste em recorrer a suas próprias emoções para encarnar um personagem.

Em 1947, Brando causou sensação na Broadway com o papel do brutal Stanley Kowalsky na adaptação da obra "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams, que logo abriu as portas de Hollywood para ele. No Brasil, o filme ganhou o título de "Uma Rua Chamada Pecado".

Inicialmente recusou as ofertas da meca do cinema, ao indicar em 1948 que os produtores de Hollywood "nunca nunca fizeram um filme honesto em sua vida e, provavelmente, nunca o farão".

Dois anos mais tarde, estreou com grande êxito de crítica no filme de de Fred Zinnemann "Espíritos Indômitos", onde interpretava um soldado paraplégico, antes de trabalhar sob a direção de Elia Kazan para a adaptação cinematográfica de "Um Bonde Chamado Desejo".

Além de render a ele em 1952 a primeira das quatro indicações consecutivas ao Oscar de melhor ator, o longa-metragem deixou gravada a imagem de Brando com símbolo sexual, com sua camiseta branca suada.

Depois encarnou o famoso revolucionário mexicano em "Viva Zapata!", também de Kazan, e Marco Antônio em "Júlio César", de de Joseph Mankievicz, antes de se converter no símbolo da rebeldia ao interpretar o líder de um bando de motoqueiros no filme de Laslo Benedek em "O Selvagem" (1954).

"Nenhum de nós que estávamos envolvidos no filme nunca imaginamos que instigaria ou incitaria uma rebelião juvenil", escreveu Marlon Brando em sua biografia autorizada "As Canções que Minha Mãe me Ensinou", publicada em 1994.

Brando chegou a fazer ainda alguns filmes que destoavam de seu currículo, como "Casa de Chá do Luar de Agosto" (1956), onde curiosamente vivia um asiático, e o musical "Eles e Elas" (1955), onde cantou ao lado de Frank Sinatra.

Brando ganhou dois Oscars de melhor ator: em 1955 pelo retrato de um ex-boxeador fracassado, em "Sindicato de Ladrões", de Elia Kazan, e em 1972, com o papel de Don Corleone em "O Poderoso Chefão", que marcou a recuperação de sua carreira.

Seu poder de atrair público diminuiu nos anos 60 devido à sua participação em filmes considerados medíocres.

Embora tenha merecido o Oscar de "O Poderoso Chefão", Brando não compareceu à cerimônia de entrega e enviou no seu lugar a [suposta] índia Sacheem Littlefeather, na verdade uma atriz hispânica, para manifestar ao público o descontentamento com a forma como Hollywood tratava os nativos americanos.

A polêmica cercou sua vida após a estréia do polêmico drama erótico "O Último Tango em Paris" (1973), de Bernardo Bertolucci, no qual interpretou um homem de meia-idade, desorientado após o suicídio da esposa.

Reconciliado com a fama, Brando --que dizia atuar para "sobreviver"-- fez o filme mais comercial de sua carreira, "Superman - O Filme" (1978), de Richard Donner, no qual interpretou Jor-El, o pai do super-herói, antes de encarnar o desesperado coronel Kurtz em "Apocalypse Now" (1979), de Francis Ford Coppola.

Depois disso, anunciou repentinamente sua aposentadoria para se dedicar a fundo às causas sociais, embora tenha continuado fazendo aparições esporádicas no cinema. Seu último filme, "A Cartada Final", estreou em 2001.

No fim da vida, Marlon Brando tornou-se o herói trágico de uma sórdida história familiar.

Ele teve pelo menos nove filhos, frutos das várias relações que mantinha com mulheres geralmente morenas e exóticas, entre elas as atrizes porto-riquenha Rita Moreno e a mexicana Movita Castenada.

Em 1990, seu primogênito Christian, fruto do casamento com a primeira esposa, a atriz Anna Kashfi, assassinou o namorado de outra filha do ator, Cheyenne, nascida de sua relação com a taitiana Tarita Teriipaia. Christian passou cinco anos na prisão e Cheyenne se suicidou em 1995, depois de uma longa depressão.

Obeso, Brando chegou a pesar 160 quilos e voltou a ficar recluso na Polinésia francesa, paraíso que o encantou durante as filmagens de "O Grande Motim" (1962) --onde ele conheceu Tarita-- e onde costumava passar longas temporadas desde que comprou a ilha de Teti'aroa, em 1966.

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