01/07/2004 - 17h41

Como interagir com as cidades sem desfigurar a pesquisa?

IVAN DELMANTO
especial para a Folha Online

No segundo relato da viagem que faz pelo interior do Brasil, o Teatro da Vertigem questiona como aplicar a experiência do conhecimento local no trabalho que deseja desenvolver. Acompanhe:

Quinta-feira, 1º/07/2004: Reflexões preliminares

Este diário tem sido até aqui um relato do olhar. A questão que se coloca agora é como pensar a experiência para além dos olhos, situando-a na ação.

Como interagir com as cidades encontradas sem desfigurar a pesquisa? Como ser mais que um contemplador de paisagens ou um agressivo coletor (e predador) de informações?

Trata-se, no fundo, de estabelecer uma nova relação entre sujeito e objeto. Uma relação que tenha como pressupostos o movimento e a transformação mútuas.

Estrada de pó

Brasília. Caminhos. O céu branco de tão azul. O desolador infinito plano do cerrado. O verde febril de tão amarelo. Os troncos finos e destorcidos, cabelos em pé. O azul do céu vai se cruzar com a cor das terras, abraçando-se em um infinito único. Este infinito é Brasília.

Planos, planos e planos. Desabitações. Sou ínfimo, por estes sem fins, e me escondo, acuado, pelas estradas retas, cegas. Brasília sistematizou este totalitarismo do vasto plano. Tudo é espaço, nada é tempo.

A vegetação me impressiona e me confina. Estou preso nestes galhos que se transformam em minhas mãos, sou árvore de cabelos em pé e assim espero habitar Brasília. (meus pêlos, endurecidos, saltam, tentando alcançar o céu).

As águas por aqui parecem olhos
A esmo
De uma terra que procura
Lábios duros
Ver a si mesma
Como fértil

Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil

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