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05/07/2004
-
17h45
IVAN DELMANTO
especial para a Folha Online
No sábado, dia 3, o Teatro da Vertigem conheceu importantes locais que abrigam o poder político e administrativo do país em Brasília. Acompanhe.
Sábado, 3/7/2004: Espelho sem tempo
Brasília é uma cidade sem tempo. Para quem sai de São Paulo, é impossível não se encantar com o azul do céu, que emerge graças aos prédios baixos e à ausência de poluição.
Brasília é a cidade em que o céu é a parte mais fundamental de sua arquitetura.
Aqui, há tanto espaço reto entre um prédio e outro, tanto céu azul entre uma nuvem e outra, que o movimento parece inexistente. As nuvens, imóveis, espelham o chão, e o chão espalha o tempo, como um caracol.
Hoje, visitamos a Praça dos Três Poderes e o interior do Congresso Nacional.
Há no projeto de Lucio Costa um simbolismo claro: o Congresso Nacional, posicionado na posição central da Praça do poder, revela uma aspiração democrática do urbanista.
Em certo momento da visita, passamos por um túnel do tempo, marcado pelas imagens do poder brasileiro, monárquico e republicano. Em cada corredor, o que mais me espantou não foi o contato com as fotografias do poder, mas os espaços marcados por vidros espelhados.
As fantásticas curvas de Oscar Niemeyer, a pompa dos poderes, os deputados e seus assessores infinitos, nada disso revela Brasília.
Brasília é um enorme túnel do tempo em que os instantes jazem paralisados, à espera de vento. Brasília é o Palácio de Espelhos em que os vazios não refletem os rostos, apenas distorcem, confundem, dissolvem, fazendo do poder um terreno perdido, um labirinto onde cada angústia real funciona como uma saída fechada e perdida.
Como caracóis caminhamos, deixando o rastro de uma gosma de lamentações.
Prontos para abaixar as antenas e voltar atrás, diante do primeiro obstáculo, do primeiro espelho. Acumulando cicatrizes, no espaço fora do tempo.
Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil
Especial
Acompanhe o diário de viagem do Teatro da Vertigem
Arquivo: saiba o que já foi publicado sobre o Teatro da Vertigem
Para Teatro da Vertigem, poder de Brasília é um terreno perdido
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especial para a Folha Online
No sábado, dia 3, o Teatro da Vertigem conheceu importantes locais que abrigam o poder político e administrativo do país em Brasília. Acompanhe.
Sábado, 3/7/2004: Espelho sem tempo
Brasília é uma cidade sem tempo. Para quem sai de São Paulo, é impossível não se encantar com o azul do céu, que emerge graças aos prédios baixos e à ausência de poluição.
Brasília é a cidade em que o céu é a parte mais fundamental de sua arquitetura.
Aqui, há tanto espaço reto entre um prédio e outro, tanto céu azul entre uma nuvem e outra, que o movimento parece inexistente. As nuvens, imóveis, espelham o chão, e o chão espalha o tempo, como um caracol.
Hoje, visitamos a Praça dos Três Poderes e o interior do Congresso Nacional.
Há no projeto de Lucio Costa um simbolismo claro: o Congresso Nacional, posicionado na posição central da Praça do poder, revela uma aspiração democrática do urbanista.
Em certo momento da visita, passamos por um túnel do tempo, marcado pelas imagens do poder brasileiro, monárquico e republicano. Em cada corredor, o que mais me espantou não foi o contato com as fotografias do poder, mas os espaços marcados por vidros espelhados.
As fantásticas curvas de Oscar Niemeyer, a pompa dos poderes, os deputados e seus assessores infinitos, nada disso revela Brasília.
Brasília é um enorme túnel do tempo em que os instantes jazem paralisados, à espera de vento. Brasília é o Palácio de Espelhos em que os vazios não refletem os rostos, apenas distorcem, confundem, dissolvem, fazendo do poder um terreno perdido, um labirinto onde cada angústia real funciona como uma saída fechada e perdida.
Como caracóis caminhamos, deixando o rastro de uma gosma de lamentações.
Prontos para abaixar as antenas e voltar atrás, diante do primeiro obstáculo, do primeiro espelho. Acumulando cicatrizes, no espaço fora do tempo.
Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil
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