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06/07/2004 - 03h24

"Nenhuma imagem é inocente", diz fotógrado mexicano

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EDER CHIODETTO
Editor de Fotografia da Folha

"Toda fotografia é política. Não acredito em fotografias inocentes." Com afirmações assim o fotógrafo mexicano Pedro Meyer, 69, causou polêmica ao participar, na semana passada, de um ciclo de palestras durante o Fotoarte 2004, que é realizado em Brasília.

Durante a projeção de seus trabalhos, Meyer mostrou imagens obtidas através de fotomontagens que juntam elementos de duas ou até cinco fotos. Questionado sobre a integridade de tais fotografias, Meyer rebateu: "Ao pedir para as pessoas posarem, o fotógrafo está interferindo no mundo visível assim como eu nessas imagens. Por que o espanto?".

Em entrevista exclusiva à Folha, ele falou sobre o impacto das imagens obtidas por telefone celular, as fotografias de tortura de Abu Ghraib, a expansão dos fotologs e o futuro da profissão dos repórteres-fotográficos. Leia a seguir os principais trechos.

Folha - Por quanto tempo ainda existirão filmes em negativo?
Pedro Meyer -
Creio que o negativo sobrevive por mais quatro ou cinco anos. Sobretudo porque as fábricas estão ficando deficitárias. No México várias já fecharam. Para 2005 o número de câmeras acopladas a um telefone será sete vezes maior que a venda total de câmeras digitais e analógicas juntas.

Folha - Teremos um exército de fotógrafos tirando fotos o tempo todo...
Meyer -
Sim, calcula-se que em 2005 serão tiradas 65 bilhões de fotografias com telefone celular.

Folha - É a morte do repórter-fotográfico?
Meyer -
Não, é a transformação da profissão. Até agora acreditava-se que a fotografia tinha a validade de um documento que se autocomprovava. Uma lógica terrível. Como algo pode ser testemunha de si mesmo? Um texto sempre deixa margem para a dúvida, mas a fotografia carrega com ela a aura da veracidade. É um erro. Você pode escrever verdades ou mentiras, não é porque está escrito que é verdade. Fotógrafos temem a foto digital por acharem que a fotografia vá perder a credibilidade pela facilidade em alterar seus elementos no computador. Acho que os fotógrafos deveriam estar contentíssimos. Pois, se a fotografia perde a credibilidade, quem a deverá ter é o fotógrafo, como ocorre com o repórter de texto. Melhor a credibilidade estar com a pessoa, não com seu objeto. Com a digital a fotografia passa a ser tão instável, tão manipulável, quanto o texto.

Folha - Então qual é o caminho do repórter-fotográfico agora?
Meyer -
Os repórteres-fotográficos devem investir em histórias que de fato valham a pena. Acabou a geração de disparadores de botão. Só irão sobreviver fotógrafos que tiverem histórias para contar. Com a facilidade operacional das câmeras portáteis qualquer um pode fazer as fotos corriqueiras, além do que será infrutífero enviar um fotógrafo ao local de um acidente, por exemplo, pois, até ele chegar lá, muitos já terão feito a melhor foto antes.

Folha - Como você vê o fenômeno das imagens de tortura feitas em Abu Ghraib?
Meyer -
Essas imagens inauguram uma nova fase no fotojornalismo. Pelo fato de todas as imagens serem digitais e obtidas por amadores, tão logo elas surgiram a Casa Branca quis desacreditá-las dizendo que eram manipuladas. Mas em seguida surgiram várias outras imagens. A referência cruzada desmontou esse argumento. Não era possível que tantas imagens de diferentes fontes fossem manipuladas. É a primeira vez na história que uma fotografia apenas não é suficiente para provar um fato. É necessário a referência cruzada com outras fontes de informação para lhe dar veracidade. Essas fotos de Abu Ghraib são correlatas às imagens do Vietnã. E as câmeras digitais estão para Bush assim como os gravadores estiveram para Nixon no caso Watergate.

Folha - E o fenômeno dos fotologs?
Meyer -
Esses sites são uma forma de furar o cerco antidemocrático de acesso à informação, como o imposto pelos EUA na Guerra do Iraque, por exemplo. À medida que a CNN se transformou numa agência de publicidade do governo americano, coube aos fotologs revelar ao mundo o que de fato ocorre nos bastidores da guerra. A censura se baseia no controle do sistema de difusão das notícias, mas, quando o meio se torna tão extenso como a internet, não há como controlar.

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