08/07/2004 - 15h57

Favela revela ao Teatro da Vertigem outra face da utópica Brasília

IVAN DELMANTO
especial para a Folha Online

Em viagem de descobrimento do interior do país, o Teatro da Vertigem, antes de se despedir de Brasília (DF), conheceu a invasão que deu origem à Favela Estrutural. O caos misturado à cidade utópica é o registro de hoje do "Diário de Viagem", que faz parte do projeto BR3. Acompanhe:

Terça, 6/07/04: Negativo da Alvorada

A outra face da cidade utópica --Brasília foi pensada como modelo para que a arquitetura pudesse inaugurar a modernidade no país-- é a invasão do Parque Nacional de Brasília, assentamento que deu origem à Favela Estrutural.

Utopia no sentido estrito do termo, a Estrutural é o Não-Lugar (u-topos); é o negativo do sonho; é cidade de madeira e tábuas podres, surgida dos restos de Brasília.

O Parque Nacional de Brasília é uma área de proteção ambiental, mancha verde fundamental para manter a umidade nestas terras de seca cerrada.

Andando pelas ruas da gigantesca favela, a paisagem surge marcada por faixas e faixas, pedindo ao governador que transforme o loteamento ilegal em uma cidade satélite.

Ao contrário de Brasilândia, que reproduz a urbanidade caótica de São Paulo em uma organização espacial amontoada, que forma morros de tijolos vermelhos junto à Serra da Cantareira, o que se vê na Estrutural é um arremedo mal-ajambrado dos espaços retos e da amplidão de Brasília.

Há espaços vazios, prestes a serem invadidos, há ruas largas de terra, prestes a tomar conta de todo o verde do Parque.

Na porta de um dos barracos, desenhado a carvão, vimos uma reprodução do Palácio da Alvorada.

Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil

Especial

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