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09/07/2004
-
15h45
IVAN DELMANTO
especial para a Folha Online
Ainda na visita a Brasília, o grupo Teatro da Vertigem conheceu Adão Lopes, um poeta popular, que emocionou a expedição. Ele é de Taguatinga, cidade satélite, e mostrou sua poesia aos participantes do projeto BR3, que vai até o Acre em busca de novas realidades pelo interior do Brasil. Acompanhe:
Quarta, 7/7/04: Poeta popular
"É como um trovão para chover / É uma festa em Noite de São João / É um bumba-meu-boi no Maranhão / É casamento de branca com Moreno / É passar a escritura de um terreno / É um Divino cantando no sertão".
Este é um trecho de um dos poemas de Adão Lopes, poeta, cantor e artesão que encontramos em Taguatinga, cidade satélite.
Enquanto ele declamava e cantava, as pessoas em volta choraram. E talvez o triste seja nos emocionarmos desta forma diante de alguém que transforma tudo em poesia.
Talvez a emoção tenha nos vindo porque esta seja uma realidade que não existe mais, uma realidade que estava dando ali, diante de nós, os seus últimos suspiros.
A realidade de Adão é a realidade em que a arte não é mercadoria, mas é um presente. É a realidade em que a música é som, e não objeto.
Quando ele colocou um CD com suas músicas para tocar, objeto caro, produzido em uma gravadora de quintal com a ajuda financeira de toda família, o encanto se quebrou.
O fascínio vinha da resgatada experiência coletiva e comunitária da arte, em que o poeta (aedo, como na época de Homero) simplesmente cantava, em homenagem e comunhão com os que ouviam.
Método e utopia
Um dos nossos desafios como pesquisadores, colocado desde o início da expedição, é relacionar-se com os universos encontrados sem nos tornarmos turistas ou predadores de informações.
Hoje experimentamos uma forma simples de trabalho que pode nos ajudar neste desafio: ao invés de visitarmos cada local desejado com a equipe toda, formada por quase 20 pessoas, dividimo-nos em grupos pequenos, que se espalharam pela cidade.
E a própria forma fragmentária e diversificada da pesquisa nos trouxe uma descoberta importante: há muitas cidades utópicas dentro de Brasília.
A Favela Estrutural, o Vale do Amanhecer da Tia Neiva, as seitas místicas e seus cultos, são todas maneiras de se criar, dentro de uma cidade planificada e absoluta, o sonho de um espaço que realmente pertença a quem o habite.
Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil
Especial
Acompanhe o diário de viagem do Teatro da Vertigem
Arquivo: saiba o que já foi publicado sobre o Teatro da Vertigem
Teatro da Vertigem descobre emoção em poeta popular de Brasília
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especial para a Folha Online
Ainda na visita a Brasília, o grupo Teatro da Vertigem conheceu Adão Lopes, um poeta popular, que emocionou a expedição. Ele é de Taguatinga, cidade satélite, e mostrou sua poesia aos participantes do projeto BR3, que vai até o Acre em busca de novas realidades pelo interior do Brasil. Acompanhe:
Quarta, 7/7/04: Poeta popular
"É como um trovão para chover / É uma festa em Noite de São João / É um bumba-meu-boi no Maranhão / É casamento de branca com Moreno / É passar a escritura de um terreno / É um Divino cantando no sertão".
Este é um trecho de um dos poemas de Adão Lopes, poeta, cantor e artesão que encontramos em Taguatinga, cidade satélite.
Enquanto ele declamava e cantava, as pessoas em volta choraram. E talvez o triste seja nos emocionarmos desta forma diante de alguém que transforma tudo em poesia.
Talvez a emoção tenha nos vindo porque esta seja uma realidade que não existe mais, uma realidade que estava dando ali, diante de nós, os seus últimos suspiros.
A realidade de Adão é a realidade em que a arte não é mercadoria, mas é um presente. É a realidade em que a música é som, e não objeto.
Quando ele colocou um CD com suas músicas para tocar, objeto caro, produzido em uma gravadora de quintal com a ajuda financeira de toda família, o encanto se quebrou.
O fascínio vinha da resgatada experiência coletiva e comunitária da arte, em que o poeta (aedo, como na época de Homero) simplesmente cantava, em homenagem e comunhão com os que ouviam.
Método e utopia
Um dos nossos desafios como pesquisadores, colocado desde o início da expedição, é relacionar-se com os universos encontrados sem nos tornarmos turistas ou predadores de informações.
Hoje experimentamos uma forma simples de trabalho que pode nos ajudar neste desafio: ao invés de visitarmos cada local desejado com a equipe toda, formada por quase 20 pessoas, dividimo-nos em grupos pequenos, que se espalharam pela cidade.
E a própria forma fragmentária e diversificada da pesquisa nos trouxe uma descoberta importante: há muitas cidades utópicas dentro de Brasília.
A Favela Estrutural, o Vale do Amanhecer da Tia Neiva, as seitas místicas e seus cultos, são todas maneiras de se criar, dentro de uma cidade planificada e absoluta, o sonho de um espaço que realmente pertença a quem o habite.
Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil
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