Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/07/2004 - 09h34

Indústria cultural crescerá mais que economia mundial

Publicidade

SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Todos os dias, a paulistana Sandra Bezerra, 18, deixa sua casa no Tatuapé para enfrentar 40 minutos de ônibus e metrô até seu trabalho. Uma das quatro meninas de uma família de oito filhos, ela é bilheteira da recém-aberta sala HSBC Belas Artes, na esquina da Paulista com a Consolação, na região central de São Paulo.

Sandra pode não saber, mas toda vez que vende um ingresso ou mesmo quando, nos horários de folga, dá uma espiada nos filmes que estão em cartaz --"adorou" "Cazuza - O Tempo Não Pára", que teve de assistir "a prestação", um pedaço por folga--, está contribuindo para uma das indústrias, a do entretenimento, que mais devem crescer no mundo.

Na verdade, segundo estudo feito pela PriceWaterhouse Coopers e divulgado na semana passada, intitulado "Global Entertainment and Media Outlook - 2004-2008", a previsão é que nos próximos quatro anos o setor cresça mais do que se prevê que crescerá a economia mundial em geral.

Será um aumento médio de 6,3% ao ano, ante um crescimento econômico global previsto de 5,7%, segundo números do Banco Mundial, da própria PWC e da Wilkofsky Gruen Associates.

Ou seja, no geral, a cultura vai estar melhor do que os países.
Originalmente, o estudo da empresa de auditoria multinacional é dividido em receita gerada pela publicidade e aquela gerada diretamente pelos consumidores e engloba 14 segmentos, entre eles os de mídia (jornais, revistas, rádio), acesso à internet e os diretamente ligados à cultura, como cinema e indústria fonográfica.

A pedido da Folha, foi feito um corte que levasse em conta apenas os gastos dos consumidores e apenas nestes setores culturais, que totalizam oito categorias. O resultado é que aqui a receita global pulará dos atuais US$ 607,2 bilhões (em 2003) para US$ 807,7 bilhões em 2008, com crescimento médio ainda maior, de 6,8%.

É muito dinheiro e muito crescimento. Para ter uma idéia, alguns setores da economia estimam que o crescimento do PIB brasileiro em 2004 será em torno de 3,5%. E o total de dólares que os consumidores de cultura do mundo todo gerarão em 2008 equivale a quase duas vezes este PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas) hoje.

Uma região e uma atividade puxam a caravana da alegria: a Ásia e o videogame. "Liderada pela China e pela Índia, que estão fazendo investimentos importantes, essa região vai ser a que mais crescerá nos próximos cinco anos, atingindo 9,8% ao ano", disse Marcel Fenez, vice-presidente da PriceWaterhouse para a região.

Já o videogame literalmente explodirá, segundo o estudo. Será uma indústria que passará dos atuais US$ 22,3 bilhões para US$ 55,6 bilhões em 2008, com uma taxa de crescimento anual de incríveis 20,1%. "E isso é só o começo", acredita André Vaisman, diretor do programa televisivo "G4 Brasil" e especialista do setor.

Enquanto isso, no Brasil...

A Folha teve acesso aos números relativos especificamente ao Brasil, até então inéditos. Aqui, tanto a indústria quanto sua expansão são mais tímidas --para começar, os números são expressos em milhões, não bilhões-, mas ainda assim expressivas.

"A avaliação é que o mercado passou por muita turbulência, mas a economia voltará a crescer", disse Tim Leonard, responsável de entretenimento e mídia da PWC para a América Latina.

Assim, de acordo com os dados do levantamento, depois de ter saltado 17% em 2003 em relação ao ano anterior, principalmente devido ao boom do cinema nacional, a bilheteria brasileira total cairá 4% neste ano, mas chegará a 2008 com uma média positiva de crescimento de 3,8% no período.

"A América Latina tem uma característica peculiar entre as regiões pesquisadas", afirma Leonard. "Aqui o grosso do faturamento da indústria cinematográfica vem dos ingressos, e não do aluguel e da venda de vídeos e DVDs, diferentemente de nos EUA, por exemplo, em que esta última atividade já domina."

Para ele, isso se deve à pirataria da região, "algo comentado com bastante ênfase no relatório". Pelo que ouviram os auditores, diz ele, não se espera que esse problema seja resolvido tão cedo. "Principalmente no Brasil e no México."

Neste caso, quem já andou pelo centro da cidade de São Paulo pode dar rosto aos números. Na semana passada, em frente à praça da República, foi oferecido à reportagem da Folha um DVD de "Kill Bill 2", o segundo capítulo do filme de Quentin Tarantino com estréia nos cinemas prevista apenas para outubro no Brasil.

Custava R$ 10 (ante R$ 15 de um ingresso num cinema de shopping center e R$ 45 de um DVD de um título novo) e vinha com um cartão de visitas do vendedor pirata, com direito a nome e telefone. Nele, explicitada a garantia do produto: "Não devolvemos o dinheiro, trocamos a mercadoria. Filmes, desenhos, shows. Só lançamentos". Não era mentira.

Em sua banca, ao lado de "Kill Bill", sucessos atuais das telas como "Homem-Aranha 2", que acaba de estrear, "Shrek 2" e "O Dia Depois de Amanhã". Durante o período em que a reportagem esteve lá, houve duas correrias entre os camelôs, causadas pela presença de fiscais da prefeitura.

O estudo

O estudo da PriceWaterhouse Coopers está em sua quinta edição, mas desde 2001 não tinha alcance global. "É a primeira vez, também, que a América Latina é incluída", disse Tim Leonard, do escritório brasileiro. "Minha insistência ajudou", brincou.

Foram estudados 58 países de cinco regiões, denominadas EUA, EMEA (Europa, Oriente Médio e África, na sigla em inglês), Ásia/ Pacífico, Canadá e América Latina. Nesta, foram analisados Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e Venezuela.

Leia mais
  • Mercado de games gera milhões

    Especial
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre indústria cultural
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre games
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página