16/07/2004 - 08h13

Dicionário compila 10 mil verbetes ligados à música

IRINEU FRANCO PERPETUO
da Folha de S.Paulo

Foram 19 mil horas de trabalho para compilar 10 mil verbetes, condensados em um volume de 382 páginas. Culminando pesquisas iniciadas em 1999, o mineiro Henrique Autran Dourado, 51, coordenador da Escola Superior de Música da Faculdade Cantareira e diretor da Escola Municipal de Música, lança pela editora 34 seu "Dicionário de Termos e Expressões da Música".

A capa, sobre um fundo verde, traz o desenho de uma colcheia, que, de acordo com o dicionário, é, "na notação musical, figura rítmica que corresponde a um oitoavos de uma semibreve, um quarto de uma mínima e metade de uma semínima".

"Meu sonho para o dicionário foi o seguinte: diga uma palavra em música, e ela vai estar aqui", explica o autor. A ambição de abrangência contempla áreas das mais variadas, da música antiga à música eletrônica de pistas de dança, passando por jazz, rock, pop e termos técnicos que abrangem gêneros, instrumentos, formas e conceitos musicais. Os diversos gêneros são tratados em pé de igualdade, sem hierarquizar a música dita "erudita" como mais "importante" do que as diversas manifestações de música popular.

Personagens

E, embora não seja um dicionário biográfico, em alguns verbetes encontram-se citações de nomes representativos de suas respectivas áreas.

Assim, na definição de twist ("música e dança norte-americanas derivadas do rock'n'roll que surgiram no início da segunda metade do século 20") encontramos a menção a Chubby Checker ("um dos grandes nomes da era do twist"), enquanto em sci-fi rock é citado David Bowie.

A idéia do dicionário partiu do romancista Autran Dourado, 78 (vencedor do Prêmio Camões de 2000 e autor de "Uma Vida em Segredo" e "Ópera dos Mortos", entre outros), pai de Henrique, que, ao ler o "Glossário Interessantíssimo" de termos musicais com que o filho terminava seu livro anterior, "Pequena Estória da Música" (Irmãos Vitale, 1999), sugeriu que ele elaborasse um pequeno dicionário para leigos.

"Acabei fazendo o livro que eu sempre quis ter", afirma Henrique. Consultando mais de 200 fontes e empregando largamente a internet como fonte de pesquisas, ele tocou grande parte do trabalho sozinho, contando, na reta final, com a colaboração de especialistas como Antonio Ribeiro, Carin Zwilling, Mauro Domenech e Vera Lúcia Costa.

Completo

Embora tal adjetivo esteja extremamente gasto devido a seu uso indiscriminado, não parece exagero qualificar o "Dicionário de Termos e Expressões da Música" como indispensável tanto ao estudante quanto ao professor de música, bem como aos profissionais da área (não apenas musicistas, mas técnicos de gravação, produtores e todos aqueles direta ou indiretamente envolvidos no fazer musical) e ao público leigo interessado.

Afinal, em um só volume, que cabe na mochila, na mesa de trabalho, no porta-luvas do carro e até (em casos como violão e violoncelo) na caixa do instrumento, estão concentrados todos aqueles termos técnicos cujo significado a gente deveria saber, mas não consegue guardar na cabeça (não só em português, mas também nos idiomas mais utilizados na linguagem musical, como italiano, inglês, francês e alemão); e a presença de gírias e jargões específicos acaba dando ao folhear do dicionário um sabor especial e quase borgiano de desvendamento de um mundo cujos seres não são imaginários, mas bem o parecem, como os sugestivos "olifante" e "frevioca".

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