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17/07/2004 - 03h49

Relação entre literatura e vida aproxima autores

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JOCA REINERS TERRON
Especial para a Folha de S.Paulo

Depois do "boom" latino-americano de García Márquez, Cortázar e Vargas Llosa, nada de novo aparecia. Então um interessante fenômeno começou a ocorrer na literatura contemporânea de língua espanhola: prêmios tradicionais como o Rómulo Gallegos e o Herralde de Novela forneceram visibilidade a alguns escritores de alcance apenas mediano, como o barcelonense Enrique Vila-Matas e o chileno Roberto Bolaño, entre outros.

Morto em 2003, Roberto Bolaño (de quem a Companhia das Letras lança "Noturno do Chile" em setembro) teve uma vida aventurosa e soube explorá-la em seus livros. Depois de viver no México, Bolaño retornou ao Chile em 1973, às vésperas do golpe. Preso, foi solto por um ex-colega que montava guarda na prisão, numa piada do destino que traduz as relações acidentais que regem a vida e a literatura.

Após a premiação de seu romance "A Viagem Vertical" pelo Rómulo Gallegos em 2001, Enrique Vila-Matas pôde distanciar-se da pista de decolagem, ainda que sua obra ficcional anterior houvesse alcançado considerável recepção crítica.

No livro, Vila-Matas narra com terrível ironia a situação de um agente de seguros obrigado pela esposa a sair de casa, e deixa transparecer sua fé no acaso como legislador máximo a reger dois planos da realidade: a literatura e a vida.

O contraponto entre literatura e vida, além da predileção por escritores como protagonistas, talvez sejam os principais pontos de contato entre os autores do "boom" hispano-americano.

Porém como fazer com que a vida solitária de escritores renda ficção com algum atrativo e não resvale em acrobacias herméticas para intelectual ler? Dialogando com a longa tradição da metaliteratura a partir de "Dom Quixote" (e com representantes mais recentes em Jorge Luis Borges, Osman Lins e Paul Auster), Vila-Matas e Roberto Bolaño sobrevivem a esses riscos sem arranhões.

Em seus livros, os protagonistas estão em movimento perene, feito "detetives selvagens" (título da obra-prima de Bolaño premiada com o Rómulo Gallegos em 2001), cuja sobrevivência se resume precisamente a esse palmilhar errático que é o seu próprio fim.

E nunca é demais lembrar que uma obra não sai do lugar e muito menos atinge o status de real literatura sem correr algum risco.

Joca Reiners Terron é escritor; publicou "Hotel Hell" (Livros do Mal) e "Curva de Rio Sujo" (Planeta), entre outros
 

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