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29/09/2000
-
05h36
VALMIR SANTOS, da Folha de S.Paulo
Gabriel Villela e equipe querem errar com causa no musical "A Ópera do Malandro". "Não aceito o certo, quero o errado", diz o diretor.
Villela, 41, define o seu novo projeto como uma "provocação estética" ao musical norte-americano, um "desbunde" no cânone da Broadway, a "fôrma" da qual não escapam as produções que aportaram em São Paulo recentemente -caso de "Rent".
"Não se trata de uma oposição à vinda de musicais da Broadway, mas seria desagradável montar "Jesus Christ Superstar" no TBC, o nosso epicentro histórico." No limite, a montagem do musical do compositor Chico Buarque se pretende "antimusical".
A interpretação "suja", o canto "desafinado", o improviso, o uso imoderado dos recursos de cenografia, figurino e iluminação -que, na concepção barroca do encenador mineiro, não constitui novidade-, enfim, tudo converge para um "teatro do equívoco", na definição de Villela.
"É um salvo-conduto para o elenco. A Globo dita o padrão de interpretação hoje no país, então, por favor, que errem a Globo."
O objetivo, diz, é destruir para construir. Quer preencher o hiato que separa as novas gerações de autores como Arthur Azevedo (da burleta "O Mambembe", já encenada pelo próprio Villela), da irreverência de uma Dercy Gonçalves e de projetos como o do grupo Arena nos anos 60 ("Conta Zumbi", "Conta Tiradentes").
Esse teatro do equívoco, definição que não tem fundamento teórico e surgiu à guisa dos quatro meses de ensaios, é também uma maneira de "gerar uma dialética brechtiana".
"A Ópera do Malandro" é baseada na "Ópera dos Três Vinténs" (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill, dupla que, por sua vez, foi inspirada pela "Ópera dos Mendigos" (1728), de John Gay. Em comum, expõem a máfia, a bandidagem, o conluio que monitora explorados e exploradores.
Na primeira criação musical que assinaria sozinho, depois de "Calabar" (1973, parceria com Ruy Guerra) e "Gota D"Água" (1975, com Paulo Pontes), Chico Buarque transpõe a história para o subúrbio carioca da Lapa, nos anos 40.
Villela assistiu à primeira montagem de "A Ópera do Malandro" há 22 anos, dirigida por Luiz Antonio Martinez Corrêa, irmão de Zé Celso.
Segundo o encenador, Martinez Corrêa já acenava com um jeito brasileiro de fazer teatro musical. "Para onde vai a prosódia brasileira com o advento dos microfones?", pergunta o diretor. Ele desdenha do "aparelho" que "virou moda" e diz que os atores têm de cantar "no gogó".
A direção musical é da preparadora vocal Babaya, do grupo Ponto de Partida (Barbacena, MG), também responsável pela Escola do Canto, em Belo Horizonte.
Babaya vem de parcerias com Villela desde 92 ("Romeu e Julieta", "A Rua da Amargura"), além de trabalharem em shows de Milton Nascimento e Maria Bethânia.
"Os atores cantam lindamente, mas o desafio é justamente desafinar, variando os timbres do operístico ao popular, ora mascando chiclete, mas conscientes do que queremos comunicar no campo das idéias", afirma Babaya, 49.
O cenógrafo J.C. Serroni e equipe superpõem três planos de ação em um espaço que lembra um "saloon", com suas estruturas em madeirite. Há caixotes, garrafas de uísque falsificado e um amontoado de objetos que lembram um almoxarifado.
"É o caos em sua absoluta coesão", como quer Villela.
Peça: Ópera do Malandro
Autor: Chico Buarque
Direção: Gabriel Villela
Com: Companhia Estável de Repertório
Quando: estréia nesta sexta (29), às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 17/12
Onde: Teatro Brasileiro de Comédia -sala TBC (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/3115-4622)
Quanto: R$ 10 a R$ 25
Patrocinador: Schahin
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Villela quer antimusical em "Ópera do Malandro"
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Gabriel Villela e equipe querem errar com causa no musical "A Ópera do Malandro". "Não aceito o certo, quero o errado", diz o diretor.
Villela, 41, define o seu novo projeto como uma "provocação estética" ao musical norte-americano, um "desbunde" no cânone da Broadway, a "fôrma" da qual não escapam as produções que aportaram em São Paulo recentemente -caso de "Rent".
"Não se trata de uma oposição à vinda de musicais da Broadway, mas seria desagradável montar "Jesus Christ Superstar" no TBC, o nosso epicentro histórico." No limite, a montagem do musical do compositor Chico Buarque se pretende "antimusical".
A interpretação "suja", o canto "desafinado", o improviso, o uso imoderado dos recursos de cenografia, figurino e iluminação -que, na concepção barroca do encenador mineiro, não constitui novidade-, enfim, tudo converge para um "teatro do equívoco", na definição de Villela.
"É um salvo-conduto para o elenco. A Globo dita o padrão de interpretação hoje no país, então, por favor, que errem a Globo."
O objetivo, diz, é destruir para construir. Quer preencher o hiato que separa as novas gerações de autores como Arthur Azevedo (da burleta "O Mambembe", já encenada pelo próprio Villela), da irreverência de uma Dercy Gonçalves e de projetos como o do grupo Arena nos anos 60 ("Conta Zumbi", "Conta Tiradentes").
Esse teatro do equívoco, definição que não tem fundamento teórico e surgiu à guisa dos quatro meses de ensaios, é também uma maneira de "gerar uma dialética brechtiana".
"A Ópera do Malandro" é baseada na "Ópera dos Três Vinténs" (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill, dupla que, por sua vez, foi inspirada pela "Ópera dos Mendigos" (1728), de John Gay. Em comum, expõem a máfia, a bandidagem, o conluio que monitora explorados e exploradores.
Na primeira criação musical que assinaria sozinho, depois de "Calabar" (1973, parceria com Ruy Guerra) e "Gota D"Água" (1975, com Paulo Pontes), Chico Buarque transpõe a história para o subúrbio carioca da Lapa, nos anos 40.
Villela assistiu à primeira montagem de "A Ópera do Malandro" há 22 anos, dirigida por Luiz Antonio Martinez Corrêa, irmão de Zé Celso.
Segundo o encenador, Martinez Corrêa já acenava com um jeito brasileiro de fazer teatro musical. "Para onde vai a prosódia brasileira com o advento dos microfones?", pergunta o diretor. Ele desdenha do "aparelho" que "virou moda" e diz que os atores têm de cantar "no gogó".
A direção musical é da preparadora vocal Babaya, do grupo Ponto de Partida (Barbacena, MG), também responsável pela Escola do Canto, em Belo Horizonte.
Babaya vem de parcerias com Villela desde 92 ("Romeu e Julieta", "A Rua da Amargura"), além de trabalharem em shows de Milton Nascimento e Maria Bethânia.
"Os atores cantam lindamente, mas o desafio é justamente desafinar, variando os timbres do operístico ao popular, ora mascando chiclete, mas conscientes do que queremos comunicar no campo das idéias", afirma Babaya, 49.
O cenógrafo J.C. Serroni e equipe superpõem três planos de ação em um espaço que lembra um "saloon", com suas estruturas em madeirite. Há caixotes, garrafas de uísque falsificado e um amontoado de objetos que lembram um almoxarifado.
"É o caos em sua absoluta coesão", como quer Villela.
Peça: Ópera do Malandro
Autor: Chico Buarque
Direção: Gabriel Villela
Com: Companhia Estável de Repertório
Quando: estréia nesta sexta (29), às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 17/12
Onde: Teatro Brasileiro de Comédia -sala TBC (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/11/3115-4622)
Quanto: R$ 10 a R$ 25
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