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19/07/2004 - 17h54

Teatro da Vertigem visita ruínas de estação ferroviária em Porto Velho

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IVAN DELMANTO
especial para a Folha Online

O grupo Teatro da Vertigem visitou as ruínas da estação inaugural da ferrovia Madeira-Mamoré e fez um passeio pelo rio Madeira. Leia o relato:

Terça-feira, 13/7/2004: Duas viagens em Porto Velho

Ferrovia

Visita às ruínas da estação inaugural da ferrovia Madeira-Mamoré. Chamada de ferrovia do Diabo, o início de sua construção remonta às últimas décadas do século 19 e, à mercê dos fluxos de capital externo, das doenças e das péssimas condições de trabalho, seu projeto nunca foi concluído.

Estamos em meio a um cemitério de aço, ferro e alumínio, rodas e trilhos, máquinas e locomotivas abandonadas em um imenso galpão, invadido pelo lixo e pelo mato, e o que se vê é o fracassado processo da modernização que via na ferrovia a possibilidade de impor seus padrões civilizatórios à selva.

Deste embate, entre a derrota da modernidade, que deixa seus rastros na miséria que percorre aqueles que seriam beneficiados pelas maravilhas trazidas pelos trilhos, e a derrota da selva, que foi dizimada para ser vítima de locomotivas fantasmas, hoje substituídas por pastos e barracos, nasce a imagem do país fracasso.

Barco

A derrota da modernização surge em outros reflexos, agora nas águas amplas do rio Madeira. Em um passeio de duas horas, navegamos as chagas marrons do grande rio, com direito a um mergulho no final do trajeto.

Mergulho: as águas sujas revelam os que nascem e morrem, os que vivem no enterro no leito do rio. Nas casas de palafita, suspensas em desequilíbrio, morrem diariamente os que vivem da rotina do rio, de seu lento navegar. Para os que habitam essas águas, não restou sequer a esperança pelas promessas da ferrovia: sequer sabem que, durante todo o século 20, tentaram civilizá-los, sem sucesso.

Há algumas centenas de metros do leito do rio, percorrendo enormes castanheiras mortas e secas, como se transitasse por entre um cemitério de árvores gigantes e jurássicas, está a rodovia. Ao contrário da ferrovia, este sim um projeto de sucesso na implantação da civilização e de sua barbárie inerente.

Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil

Especial
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