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24/07/2004 - 07h58

"Quero que o público sinta raiva", diz cineasta sueco

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Com "Amigas de Colégio" (1998) e "Bem-Vindos" (2000), seus primeiros longas, o diretor sueco Lukas Moodysson divertiu platéias de diversos países e angariou enfáticos elogios até de Ingmar Bergman ("O Sétimo Selo"), o expoente do cinema de seu país.

Fama feita, Moodysson resolveu fazer os espectadores sentirem "raiva, não tristeza", com a saga de "Para Sempre Lilya", que tem exibição hoje e amanhã no Festival Internacional de Cinema de Brasília, na Academia de Tênis, e na próxima semana (dias 28 e 31) no CCBB do Rio, que abriga um resumo do festival. A estréia nas salas está prevista para o dia 20 de agosto.

A Lilya do título é uma adolescente russa que se prostitui para sobreviver num país que sucumbiu à crise econômica e subtraiu de seus jovens toda perspectiva.

Talvez o relato desesperançado do aviltamento de "Lilya" surpreenda o espectador da obra de Moodysson, 35, no Brasil. Na Suécia, porém, o público habituou-se a vê-lo como um provocador, desde sua estréia, que ganhou o grande prêmio do cinema no país, numa cerimônia (transmitida pela TV) em que Moodysson fez gestos ofensivos para a platéia, reagindo às vaias com que a platéia, por sua vez, reagia ao seu longo e contestatório discurso.

No Brasil para acompanhar as exibições de seu filme, Moodysson usou da ironia de "enfant terrible" para responder ou desviar das perguntas da Folha.

Folha - Depois de dois longas divertidos, por que você fez um filme triste, sombrio, desesperançado?
Lukas Moodysson -
Não foi uma decisão consciente. Não escolho minhas histórias, elas é que me escolhem. Não tenho nem certeza de que quero fazer filmes. Gostaria de ser ciclista, ou trabalhar com crianças, ou escrever poesia, ou ser fotógrafo ou qualquer outra coisa. Infelizmente, tenho de fazer filmes. Alguém assopra no meu ouvido: é isso o que você tem que fazer. E não posso resistir.

Folha - Qual é o sentido de fazer o público sofrer solidariamente com uma situação que desconhece? Você quer provocar nas platéias tanto a diversão quanto a reflexão ou apenas uma das duas?
Moodysson -
Depende de que público se está falando. O filme fez grande sucesso na Moldova, um país em que quase todo mundo conhece alguém que esteve em situação parecida [com a de Lilya]. Esse é meu público-alvo. Mas, se for um público distante da realidade do filme, quero que abram os olhos, que se sintam mal, que fiquem com raiva, não tristes.

Folha - Você já disse que não se importa com os filmes de Bergman e que é menos inteligente do que o dinamarquês Lars von Trier, mas faz filmes melhores do que os dele. É um comportamento de quem diz sempre tudo o que pensa ou de quem quer fama de polemista?
Moodysson -
Não digo sempre tudo que penso. Sou tímido. Mas tento. Não, não tento. Na verdade, tento falar o menos possível.

Folha - Você considera o cinema uma forma de política?
Moodysson -
Especialmente Hollywood, que é uma máquina de propaganda. Logo, também sou. Só que muito menor e, tomara, mais independente.

Folha - Seu próximo filme é sobre relações familiares. Será uma espécie de seqüência de "Bem-Vindos"?
Moodysson -
Não. Será provavelmente mais próximo de "Para Sempre Lilya", mas é algo novo. Sinto como se fosse meu primeiro filme. É o meu primeiro filme.

Folha - Que aspecto do Brasil mais lhe interessa nessa visita?
Moodysson -
A confusão, a gentileza, o clima, o futebol, o fosso entre ricos e pobres, a teologia da libertação e o MST [Movimento dos Sem Terra]. Mas, infelizmente, sou preguiçoso. Acho que minha estada aqui terá mais a ver com as três ou quatro primeiras.

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