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26/07/2004
-
18h20
IVAN DELMANTO
especial para a Folha Online
O grupo Teatro da Vertigem conhece Xapuri, cidade de Chico Mendes. Lá, os moradores tentam manter viva a história da tragédia do líder seringueiro. Leia:
Quarta-feira, 21/7/2004: Xapuri e o Rio da Memória
Xapuri é mais uma cidade que encontramos nas margens de um rio. O rio que a percorre, com águas tão barrentas quanto cristalinas, é o rio da Memória. Aqui as casas e suas paredes, os hálitos e os sons, os gatos e as flores têm no seu tecido o vapor que emerge das margens e não os deixa esquecer, estão sempre debruçados sobre transparências, bebendo vestígios.
Memória 1: o colecionado
Xapuri é a cidade de Chico Mendes. Há uma grande preocupação dos habitantes em conservar viva a história da tragédia, pelos mais variados motivos: para que não ocorra de novo, para curtirem o alívio destes novos tempos de paz (a ação dos pistoleiros de aluguel a serviço dos latifundiários, com a demarcação das Reservas Extrativistas, foi anulada) e para ganharem dinheiro com os mais diversificados produtos com a imagem do líder, desde camisetas e picolés até campanhas eleitorais.
Andando nas ruas é possível esbarrar e conversar com antigos militantes, membros dos mais diversos sindicatos, professores, seringueiros e agricultores que viveram o tempo da mata em sangue, construtores e pedaços da história do homem na floresta.
Memória 2 o colecionador
Visita aos dois grandes galpões --museu de Seu Antonio, morador veterano em Xapuri. A figura do colecionador é caracterizada por sua atividade que insiste em limpar dos materiais sua poeira do valor. Para o colecionador, os objetos não têm valor. Quando ele os coloca lado a lado não lhe interessam seus preços e utilidades. O colecionador quer apenas contar a história do tempo por meio de concretudes.
No espetáculo impressionante dos galpões empoeirados de Seu Antonio, acumulam-se páginas de jornais penduradas no teto, ao lado de peles de onça, cartazes de antigos governadores junto de inúmeros diários, por todos os cantos, garrafas vazias e instrumentos incompreensíveis, livros abertos e latas de ferro, bicicletas e miniaturas, pinturas e colchões antiquíssimos.
É uma instalação plástica. É a memória do colecionador. São os recortes de uma cidade que insiste em ser história e testemunha, colagens nas margens da memória.
Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil
Especial
Acompanhe o diário de viagem do Teatro da Vertigem
Arquivo: saiba o que já foi publicado sobre o Teatro da Vertigem
Em expedição, grupo de teatro conhece cidade de Chico Mendes
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especial para a Folha Online
O grupo Teatro da Vertigem conhece Xapuri, cidade de Chico Mendes. Lá, os moradores tentam manter viva a história da tragédia do líder seringueiro. Leia:
Quarta-feira, 21/7/2004: Xapuri e o Rio da Memória
Xapuri é mais uma cidade que encontramos nas margens de um rio. O rio que a percorre, com águas tão barrentas quanto cristalinas, é o rio da Memória. Aqui as casas e suas paredes, os hálitos e os sons, os gatos e as flores têm no seu tecido o vapor que emerge das margens e não os deixa esquecer, estão sempre debruçados sobre transparências, bebendo vestígios.
Memória 1: o colecionado
Xapuri é a cidade de Chico Mendes. Há uma grande preocupação dos habitantes em conservar viva a história da tragédia, pelos mais variados motivos: para que não ocorra de novo, para curtirem o alívio destes novos tempos de paz (a ação dos pistoleiros de aluguel a serviço dos latifundiários, com a demarcação das Reservas Extrativistas, foi anulada) e para ganharem dinheiro com os mais diversificados produtos com a imagem do líder, desde camisetas e picolés até campanhas eleitorais.
Andando nas ruas é possível esbarrar e conversar com antigos militantes, membros dos mais diversos sindicatos, professores, seringueiros e agricultores que viveram o tempo da mata em sangue, construtores e pedaços da história do homem na floresta.
Memória 2 o colecionador
Visita aos dois grandes galpões --museu de Seu Antonio, morador veterano em Xapuri. A figura do colecionador é caracterizada por sua atividade que insiste em limpar dos materiais sua poeira do valor. Para o colecionador, os objetos não têm valor. Quando ele os coloca lado a lado não lhe interessam seus preços e utilidades. O colecionador quer apenas contar a história do tempo por meio de concretudes.
No espetáculo impressionante dos galpões empoeirados de Seu Antonio, acumulam-se páginas de jornais penduradas no teto, ao lado de peles de onça, cartazes de antigos governadores junto de inúmeros diários, por todos os cantos, garrafas vazias e instrumentos incompreensíveis, livros abertos e latas de ferro, bicicletas e miniaturas, pinturas e colchões antiquíssimos.
É uma instalação plástica. É a memória do colecionador. São os recortes de uma cidade que insiste em ser história e testemunha, colagens nas margens da memória.
Ivan Delmanto é pesquisador e coordenador teórico e de dramaturgismo do projeto Vertigem BR3, do Teatro da Vertigem. Escreve periodicamente um "Diário de Viagem" para a Folha Online, narrando a experiência do grupo pelo interior do Brasil
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