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27/07/2004 - 10h09

Cineasta Michael Moore ataca mídia dos EUA e elogia Brasil

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FERNANDO CANZIAN
Enviado especial a Boston

O cineasta Michael Moore afirma que a mídia americana atuou de forma "embaraçosa" e como "animadora de torcida" antes da Guerra do Iraque. "Ninguém é preso neste país por fazer perguntas. Mais de 900 jovens estão mortos pelo fato de a mídia não ter feito seu trabalho direito", disse Moore à Folha, referindo-se aos americanos mortos no Iraque.

O diretor do documentário "Fahrenheit 9/11" (que no Brasil foi traduzido como "Fahrenheit 11 de Setembro") elogiou o fato de o governo brasileiro não ter aceitado os "incentivos" de Bush para participar do que chama de "coalizão do mal". Ele disse não estar surpreso com a expectativa em relação a seu filme no Brasil, onde deve estrear nesta sexta-feira.

Na quarta-feira, a produção, que faz duras críticas ao presidente americano, será exibida por Moore num estádio de Crawford (Texas), onde Bush tem um rancho. O cineasta convidou o presidente para o evento --a Casa Branca não se manifestou.

Neste final de semana, "Fahrenheit 11 de Setembro" ultrapassou US$ 100 milhões nas bilheterias dos EUA, estabelecendo um novo recorde para documentários --o anterior era de "Tiros em Columbine", também de Moore.

"Fico feliz com isso, pois a mensagem de meu filme é tirar as pessoas do sofá. Cansamos de dizer que os EUA são um país dividido ao meio entre democratas e republicanos. Mas há outros 50% que nem sequer votam", disse à Folha enquanto circulava pelo FleetCenter, onde começou ontem a convenção do Partido Democrata. Leia a seguir a sua entrevista.

Folha de S.Paulo - O sr. ficou surpreso com a expectativa em relação a seu filme no Brasil?

Michael Moore - Não, pois acredito que as pessoas no Brasil e em vários outros países do mundo gostem dos EUA e estejam completamente surpresas com o que está acontecendo aqui. Creio que os brasileiros queiram acreditar que os americanos venham a se levantar pelo que é certo e justo e a tirar Bush da Casa Branca.

Meu filme é um exemplo de um americano, eu próprio, que tenta fazer as perguntas na hora certa, cobra as provas e tem certeza de que somos bons cidadãos neste planeta. As pessoas no Brasil precisam saber de uma coisa: a boa notícia é que não é apenas um americano que se sente dessa maneira. São milhões.

Eu sou apenas o cara sortudo com a câmera que consegue colocar seus filmes na tela grande. O fato de que as bilheterias superaram os US$ 100 milhões neste final de semana, de que estamos ao lado de um grupo reduzido de filmes neste ano, "Shrek" e "Harry Potter" [risos], significa que milhões e milhões de americanos concordam comigo.

E quero que as pessoas do mundo inteiro saibam uma coisa sobre os americanos: nós vamos fazer o trabalho que precisa ser feito. Vamos tirar esse sujeito da Casa Branca para que os EUA voltem a ser um bom "cidadão".

Folha de S.Paulo - John Kerry será muito diferente de Bush?

Moore - Completamente. Acho que terei mais chances de tirar férias em seu governo.

Um governo Kerry jamais invadiria um país por causa do seu petróleo ou por interesse de empresas como a Halliburton [já presidida por Dick Cheney, vice de Bush]. A não ser que exista outro país no mundo que seja um grande produtor de tomates [a mulher de Kerry, Tereza Heinz, é dona de fábricas de ketchup]...

Folha de S.Paulo - O Brasil produz muitos tomates...

Moore - Então é melhor vocês irem se preparando [risos].

Folha de S.Paulo - Como o sr. viu a posição do Brasil de não apoiar a guerra?

Moore - Fiquei orgulhoso com o fato de o Brasil ter optado por não ser um dos membros da "coalizão do mal" montada por Bush. Foi uma decisão muito corajosa, pois tenho certeza de que a Casa Branca deve ter oferecido ao Brasil muitos "incentivos" para que participasse dessa farsa. Creio que o povo americano deve um agradecimento profundo ao Brasil pelo fato de o país ter resistido a essas pressões em benefício do mundo.

Folha de S.Paulo - Como o sr. avalia o comportamento da mídia americana antes da guerra?

Moore - Foi um momento de grande embaraço para a nossa mídia, que atuou apenas como animadora de torcida. Isso é absolutamente chocante em um país onde você tem o direito de fazer qualquer pergunta, de criticar abertamente qualquer pessoa. Ninguém pode ser preso neste país por fazer perguntas.

De certo modo, eu acabei me sentindo sozinho nisso tudo, me perguntando: "Onde estão meus irmãos e irmãs?".

A maioria neste país não tem câmera, microfones ou acesso à Casa Branca. Os jornalistas que têm esses meios não fizeram as perguntas que deveriam ter sido feitas antes da guerra. Ao contrário, pregaram pequenas bandeiras em estúdios de TV, se enrolaram na bandeira americana e deram carta-branca a essa administração. Mais de 900 de nossos jovens foram mortos no Iraque como resultado do fato de a mídia americana não ter feito o seu trabalho.

Especial
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