29/07/2004 - 14h35

"Fahrenheit 11 de Setembro" aumenta interesse por documentários

MARÍA LORENTE
da France Presse, em Los Angeles

O filme "Fahrenheit 11 de Setembro", que no último fim de semana superou a barreira dos US$ 100 milhões de bilheteria e que estréia amanhã nos cinemas do Brasil, se tornou um marco na história dos documentários, aumentando o interesse do público por este gênero, relegado nos últimos anos a salas de cinema independente.

O filme, que virou uma das maiores armas dos opositores do presidente americano, George W. Bush, é o primeiro documentário a conseguir arrecadar mais de US$ 100 milhões nos Estados Unidos e Canadá.

"Antes, você não conseguia convencer os distribuidores de que existia um público para filmes de não-ficção", afirmou o diretor do longa-metragem, Michael Moore.

"Agora o meu desafio e o de outros cineastas é continuar fazendo filmes para este público", disse.

O longa-metragem incendiário do polêmico Moore, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, arrecadou US$ 4,7 milhões no último final de semana, o que elevou sua arrecadação total a US$ 103 milhões desde sua estréia no final de junho.

O filme conseguiu superar o documentário anterior de Moore, o vencedor do Oscar "Tiros em Columbine", que registrava a maior bilheteria do gênero com US$ 21,6 milhões.

"Nunca antes um documentário havia conseguido alcançar o status de um filme de Hollywood. 'Fahrenheit 11 de Setembro' conseguiu e acredito que, pela primeira vez, um documentário será indicado ao Oscar de melhor filme", disse o crítico Tom O'Neil, especialista em premiações de cinema e televisão.

Este ano, o circuito nos Estados Unidos e Canadá oferece 45 documentários, 16 a mais do que no ano passado e 17 a mais que em 2002, segundo a empresa de análise cinematográfica Nielsen EDI.

"Houve uma transformação extraordinária. Os ingressos para os documentários foram vendidos de maneira tão rápida no Festival de Sundance este ano que tivemos que aumentar o número de salas. Durante anos eles estiveram estigmatizados em programas de escola. Agora, olhe quantas opções", afirmou Geoff Gilmore, programador do Festival de Sundance, ao jornal "USA Today".

Lançado este ano nos cinemas, o documentário "Super Size Me", uma crítica do ex-apresentador da MTV Morgan Spurlock à alimentação fast food americana, arrecadou US$ 10,9 milhões nos Estados Unidos, o que o deixou na terceira colocação da lista de dez documentários mais assistidos da história.

No filme --que custou apenas US$ 65 mil-- Spurlock virou cobaia e se alimentou durante um mês com lanches da rede McDonald's.

O resultado: engordou 12 quilos, suas taxas de colesterol atingiram níveis altíssimos e quando os médicos que acompanhavam a experiência observaram que seu fígado praticamente se transformara em patê, recomendaram o abandono do projeto.

Também lançado este ano, o documentário "Touching the Void", baseado no best-seller internacional homônimo e dirigido por Kevin Macdonald, arrecadou US$ 4,6 milhões, o que o deixou na oitava posição entre os mais assistidos do gênero.

"O que aconteceu este ano é uma clara demonstração de que os americanos estão ávidos por filmes mais reais", afirma o especialista da Universidade do Sul da Califórnia, Marty Kaplan.

"Porém, além disso, a qualidade dos documentários aumentou muito", acrescenta.

Os especialistas destacam que estes documentários deram mais o que falar que filmes de grande arrecadação como "Homem-Aranha 2" ou "Shrek 2".

"Fahrenheit 11 de Setembro", por exemplo, com o qual Moore pretende ajudar a tirar Bush da Casa Branca, se tornou o centro de um debate de todo um país e vários republicanos admitiram seu temor de que o filme influencie os eleitores.

"Foi o centro de um debate nacional, todo mundo fala dele e é muito bem realizado: vai ganhar o Oscar de melhor filme", prevê O'Neil.

"O que não acredito é que Bush receba o prêmio de melhor ator", disse, entre risadas.

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