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14/08/2004
-
08h09
FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo
Decepção. Na última terça, o produtor Eduardo Francisco, 34, foi ver a exposição "Emoção Art.ficial 2.0", no Itaú Cultural. Levou apenas 20 minutos para passar por toda a mostra, já que 12 das 30 obras estavam em manutenção, muitas sem sinalização. "É impossível emitir um juízo sobre o que vi, já que quase metade não funcionava", disse Francisco.
Para uma exposição que pretende exibir os vínculos entre arte e tecnologia, parece que as instituições não estão capacitadas a manter funcionando o suporte que dá vida à proposta. "É por isso que grande parte das instituições não entra nessa área, pois os trabalhos são caros e precisam de manutenção. O pessoal do Itaú tem feito tudo o que é possível, mas deveria ter uma equipe maior. Nunca vi uma mostra de arte e tecnologia onde tudo funcionasse perfeitamente, mesmo no exterior, acidentes acontecem", conta Arlindo Machado, um dos curadores da mostra, com Gilberto Prado.
Entretanto a decepção de Francisco não ocorreu apenas por conta das obras em manutenção. "Há muitos sites para serem vistos, mas é preciso ficar em pé. Prefiro ver isso em casa", reclama o produtor. Esse debate foi explicitado, recentemente, no texto "Do cubo branco à caixa preta", na revista digital "Trópico", pela professora Giselle Beiguelman, que também tem uma obra na exposição: "A priori, esses projetos [on-line] não precisam estar no espaço expositivo", escreve.
Machado contesta: "Embora o argumento esteja correto, organizamos uma mostra de arte e tecnologia, e o museu faz uma seleção daquilo que vale a pena. Claro que há muitos trabalhos expostos na internet, perdidos no meio de milhões de outros sites, e um leigo nunca chegaria a certos sites que escolhemos. A função dessa exposição é dar visibilidade a bons trabalhos, em meio a um mar de produção, onde a maioria é de uma mediocridade absoluta".
Beiguelman, em seu texto, aponta para outro problema em mostras desse formato: a limitação da participação do observador, que não pode manipular no teclado, mas apenas mexer em algumas teclas, impossibilitando o uso pleno das capacidades dos sites, transformando o visitante em um "espectador programado". "Aí não tem jeito, o Itaú fica na av. Paulista, há muitos atos de vandalismo, é preciso ter controle. Algumas obras foram até saqueadas, se for aberto, a pessoa vai navegar e aí o céu é o limite. A função daquela máquina é acessar um site específico", diz Machado.
Há decepção ainda em torno da exposição por conta do próprio eixo curatorial, que buscou politizar o debate sobre arte e tecnologia. "A primeira vez que fui ver um filme do Eisenstein, lá se vão mais de 20 anos, saí do cinema de punho erguido querendo fazer a revolução. Guardadas as devidas proporções, uma mostra de arte digital inspirada numa vertente política deveria fazer o mesmo com o visitante. Só que estranhamente o visitante sai do Itaú completamente zoado e paralisado", diz o professor Silvio Mieli.
Nessa questão, Machado discorda em parte. "A política hoje é diferente, caiu o Muro de Berlim, Lula é presidente, as pessoas esperam obras conteudísticas, e nossa intenção foi pensar a própria tecnologia. Entretanto também esperava mais politização, fiquei frustrado, pois no Brasil, com exceção de alguns, artistas dessa área são pouco politizados."
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da Folha de S.Paulo
Decepção. Na última terça, o produtor Eduardo Francisco, 34, foi ver a exposição "Emoção Art.ficial 2.0", no Itaú Cultural. Levou apenas 20 minutos para passar por toda a mostra, já que 12 das 30 obras estavam em manutenção, muitas sem sinalização. "É impossível emitir um juízo sobre o que vi, já que quase metade não funcionava", disse Francisco.
Para uma exposição que pretende exibir os vínculos entre arte e tecnologia, parece que as instituições não estão capacitadas a manter funcionando o suporte que dá vida à proposta. "É por isso que grande parte das instituições não entra nessa área, pois os trabalhos são caros e precisam de manutenção. O pessoal do Itaú tem feito tudo o que é possível, mas deveria ter uma equipe maior. Nunca vi uma mostra de arte e tecnologia onde tudo funcionasse perfeitamente, mesmo no exterior, acidentes acontecem", conta Arlindo Machado, um dos curadores da mostra, com Gilberto Prado.
Entretanto a decepção de Francisco não ocorreu apenas por conta das obras em manutenção. "Há muitos sites para serem vistos, mas é preciso ficar em pé. Prefiro ver isso em casa", reclama o produtor. Esse debate foi explicitado, recentemente, no texto "Do cubo branco à caixa preta", na revista digital "Trópico", pela professora Giselle Beiguelman, que também tem uma obra na exposição: "A priori, esses projetos [on-line] não precisam estar no espaço expositivo", escreve.
Machado contesta: "Embora o argumento esteja correto, organizamos uma mostra de arte e tecnologia, e o museu faz uma seleção daquilo que vale a pena. Claro que há muitos trabalhos expostos na internet, perdidos no meio de milhões de outros sites, e um leigo nunca chegaria a certos sites que escolhemos. A função dessa exposição é dar visibilidade a bons trabalhos, em meio a um mar de produção, onde a maioria é de uma mediocridade absoluta".
Beiguelman, em seu texto, aponta para outro problema em mostras desse formato: a limitação da participação do observador, que não pode manipular no teclado, mas apenas mexer em algumas teclas, impossibilitando o uso pleno das capacidades dos sites, transformando o visitante em um "espectador programado". "Aí não tem jeito, o Itaú fica na av. Paulista, há muitos atos de vandalismo, é preciso ter controle. Algumas obras foram até saqueadas, se for aberto, a pessoa vai navegar e aí o céu é o limite. A função daquela máquina é acessar um site específico", diz Machado.
Há decepção ainda em torno da exposição por conta do próprio eixo curatorial, que buscou politizar o debate sobre arte e tecnologia. "A primeira vez que fui ver um filme do Eisenstein, lá se vão mais de 20 anos, saí do cinema de punho erguido querendo fazer a revolução. Guardadas as devidas proporções, uma mostra de arte digital inspirada numa vertente política deveria fazer o mesmo com o visitante. Só que estranhamente o visitante sai do Itaú completamente zoado e paralisado", diz o professor Silvio Mieli.
Nessa questão, Machado discorda em parte. "A política hoje é diferente, caiu o Muro de Berlim, Lula é presidente, as pessoas esperam obras conteudísticas, e nossa intenção foi pensar a própria tecnologia. Entretanto também esperava mais politização, fiquei frustrado, pois no Brasil, com exceção de alguns, artistas dessa área são pouco politizados."
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