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18/08/2004 - 06h35

Sagrado pontua viagem do Teatro da Vertigem

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da Folha de S.Paulo

Proporções à parte, os integrantes do grupo Teatro da Vertigem experimentaram um tanto daquele espírito desbravador do mato-grossense Marechal Rondon (1885-1958), que conheceu territórios e povos indígenas da Amazônia e de outras regiões do país no início do século 20.

Julho, o mês das férias, foi eleito o período da expedição às outras duas pernas do projeto "BR3", que compreende o distrito paulistano de Brasilândia (zona norte), a capital federal, Brasília, e a cidade de Brasiléia, no Acre.

O grupo partiu de São Paulo para "buscar, nas cidades em que passaremos, suas distâncias e semelhanças, suas cesuras e seus movimentos, suas histórias e imagens, seus tempos, seus olhares a se encontrarem com os olhos da Vertigem", como escreveu o coordenador teórico do projeto, Ivan Delmanto, em diário de viagem na Folha Online.

Essa investigação, na base de "fazer o caminho caminhando", deve resultar no quarto espetáculo do grupo, em 2005.

Algumas expectativas foram revertidas. Por exemplo, era intenção do diretor Antônio Araújo e dos atores desviar do universo do sagrado, que tanto marcou a trajetória do grupo, para um recorte mais sociológico, digamos assim, que já despontara em "Apocalipse 1,11". Pensou-se a expedição como possibilidade de descortinar outros Brasis, de tocar em questões como identidade, ou não-identidade, o caráter, a peleja centro-periferia etc.

Eis que o sagrado, no entanto, roubou a cena novamente. Do Vale do Amanhecer, em Brasília, sob a doutrina da guia espiritual e fundadora Tia Neiva, passando pelos rituais do Santo Daime em Rondônia e no Acre, o grupo deparou com crenças e religiões, cultos e curas.

A própria residência artística em Brasilândia, desde março, já dava pistas dessa tendência, tantas as igrejas evangélicas e pentecostais entre as vielas do distrito.

Outra percepção transformada pela viagem, diz Araújo, é a de que os três pontos do mapa (Brasilândia, Brasília e Brasiléia), emblematicamente carregados pelo radical "Br", não são exclusivamente mais a referência. O próprio ir-e-vir revelou-se pleno de conteúdos, impressões e emoções que inevitavelmente servirão como subsídios ao encenador, atores e ao dramaturgo Bernardo Carvalho, colunista da Folha.

Um exemplo veio da comoção de parte do grupo ao encontrar o poeta, cantor e artesão Adão Lopes, na cidade-satélite de Taguatinga. "É como um trovão para chover / É uma festa em Noite de São João / É um bumba-meu-boi no Maranhão / É casamento de branca com Moreno / É passar a escritura de um terreno / É um Divino cantando no sertão", declamou-cantou o artista popular.

Havia a preocupação de não interagir com as cidades encontradas de modo a desfigurar a pesquisa. Daí a previsão de retorno a Brasília, ainda neste ano, agora para perscrutar efetivamente os poderes político e econômico.

"A viagem nos aproximou de questões, de pessoas e de histórias. Voltamos alimentados, mas ainda não sei o que virá disso", diz Araújo, 38. Em setembro, o grupo entra em sala de ensaio para realizar improvisações e workshop em torno do que trouxe na bagagem.

Apesar das vacinas preventivas, parte da equipe passou mal durante a viagem. Febre, ânsia de vômitos, diarréia. Um ator foi hospitalizado. Nada grave.

A viagem a bordo de um Exploranter, espécie de hotel sobre as rodas de um caminhão Scania (usado para o ecoturismo), com 18 integrantes, foi possível por causa do Programa Municipal de Fomento ao Teatro. Há, em paralelo, a "expedição" por patrocínio, talvez mais difícil do que aquela.

Mal chegou e o Vertigem empreende outra viagem, agora para levar a chamada trilogia bíblica pela primeira vez ao FIT-BH 2004. Nenhuma das três peças ("O Paraíso Perdido", "O Livro e Jó" e "Apocalipse 1,11") havia sido apresentada em Minas, o que dá certo caráter afetivo a Araújo, nascido em Uberaba e criado em Araguari. Na quarta-feira, antes que soassem as badaladas das 18h, ele e equipe tiveram que deixar a igreja Nossa Senhora do Carmo para a celebração da missa.

Ao contrário de São Paulo, a Igreja Católica consentiu com "O Paraíso Perdido". "O frei local se mostrou progressista", afirma o encenador.

Especial
  • Acompanhe o diário de viagem do Teatro da Vertigem
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