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18/08/2004
-
07h22
VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo
Na praça da Estação, centro da cidade, os performáticos atores do grupo australiano Strange Fruit desafiam a gravidade dentro e fora de esferas luminosas, suspensas. Na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro Sion, o Anjo, ou também Adão e Eva, experimentam a dor da queda em "O Paraíso Perdido", do grupo paulista Teatro da Vertigem.
As duas atrações da primeira noite, hoje, refletem a vocação do Festival Internacional de Teatro - Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) para incentivar a ressignificação do espaço na cena contemporânea, sina que carrega no próprio nome desde o nascimento, dez anos atrás.
Ônibus, cadeia, hospital, palacete e até o zoológico tornam-se lugar do teatro na programação.
A sétima edição do evento bienal (era para ser a 6ª, mas houve uma edição suplementar no centenário de Belo Horizonte, em 1997) reata com o prestigiado grupo Galpão, que ajudou a criar o festival e depois se afastou por discordar das linhas conceituais --ontem, como hoje, trata-se de realização da prefeitura, via Secretaria Municipal da Cultura.
O Galpão remontou duas comédias do repertório especialmente para o evento: "Um Molière Imaginário", encenado num hospital para pessoas com problemas mentais, e "O Inspetor Geral", num antigo palacete.
Uma das características do FIT-BH é o investimento na formação do público e dos artistas da cidade. A mostra oficial começa agora, mas os projetos especiais vêm desde julho. Exemplos: seminário de teatro de rua, auxílio-montagem (R$ 40 mil) para dois espetáculos do gênero, curso de inglês para técnicos, oficinas do público (comentários e análises das peças), escalação de duas famílias do sul do país dedicadas ao circo-teatro, a Bebé (RS) e a Biriba (SC) e um segundo seminário, voltado para o teatro de bonecos.
Aliás, foi preparada homenagem ao grupo de bonecos Giramundo, cujos fundadores, Terezinha Veloso e Álvaro Apocalypse, morreram no ano passado. Haverá uma exposição e a encenação de "Cobra Norato" (1979), um clássico da trupe, baseado no poema de Raul Bopp.
Há uma semana, houve conferência do diretor inglês Peter Brook. Lotou o teatro Francisco Nunes. Mesmo após fechar a grade de programação, o festival conseguiu que Belo Horizonte não só testemunhasse o pensamento vivo de um dos maiores encenadores do planeta, como o visse traduzido no palco.
"Tierno Bokar", a nova montagem do Centro Internacional de Criação Teatral (Cict), com sede no Théâtre des Bouffes du Nord, em Paris, ganhou até uma sessão extra, dada a procura por ingressos (a R$ 8, antecipado). Serão cinco apresentações, de 26 a 30/8.
Entre as atrações internacionais, destacam-se ainda "La Casa de Rigoberta Mira al Sur", da Nicarágua, com o grupo Justo Rufino Garay. O texto, que trata das revoluções latino-americanas e o sonho de uma sociedade mais justa, a partir do passado e do presente da personagem-título, foi escrito pelo argentino Arístides Vargas, radicado no Equador com o grupo Malayerba.
O palhaço Tortell, do Circ Crac, da Espanha, apresenta na rua um mix de seus melhores números. O Teatro Tascabile de Bergamo, na Itália, encena "Valse", dançado por dez atores em pernas-de-pau. No solo "No Fear!", a inglesa Linda Marlowe conjuga música, mímica e trapézio.
Do México, o Teatro de Ciertos Habitantes traz "El Automóvil Gris" e mostra como a busca por um lugar pode levar a outros. Trata-se de uma prospeção à Cidade do México de 1915, por meio de um clássico do cinema mudo daquele país. A inspiração vem da tradicional técnica japonesa "benshi" (narração para filmes mudos). São entrecruzados espaços, linguagens, culturas e tempo.
Nacionais
Grupos de outros Estados marcam presença com "Otelo", do grupo Folias d'Arte (SP); "O Que Diz Molero", do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (RJ); "Antônio, Meu Santo" e "Os Desvalidos", do Imbuaça (SE); "De Malas Prontas", do Pé de Vento (SC); e "Toré', um ritual na rua com a tribo Kariri-Xocó (AL).
Ao todo, são 28 cias. (oito internacionais). Segundo o coordenador-geral do FIT-BH, Marcelo Bones, 43, "a programação foi definida a partir do aprimoramento do conceito do festival, em discussões com a classe artística e a sociedade desde 2003". Os coordenadores-adjuntos são Bya Braga e Guilherme Marques.
Bones estima que os espetáculos (palco, rua e alternativos) e demais atividades atraiam de 120 mil a 130 mil pessoas. O orçamento é de R$ 2,8 milhões.
7º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO - PALCO & RUA DE BELO HORIZONTE
Quando: de hoje a 30/8
Quanto: R$ 20 e grátis
Informações: tel. 0/xx/31/ 3273-2051; www.fitbh.com.br
Patrocinadores: Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, Telemar, Vallourec & Mannesman do Brasil, Coca-Cola e Cemig
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o Festival Internacional de Teatro - Palco & Rua de Belo Horizonte
Festival de Belo Horizonte amplia o lugar do teatro
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da Folha de S.Paulo
Na praça da Estação, centro da cidade, os performáticos atores do grupo australiano Strange Fruit desafiam a gravidade dentro e fora de esferas luminosas, suspensas. Na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro Sion, o Anjo, ou também Adão e Eva, experimentam a dor da queda em "O Paraíso Perdido", do grupo paulista Teatro da Vertigem.
As duas atrações da primeira noite, hoje, refletem a vocação do Festival Internacional de Teatro - Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) para incentivar a ressignificação do espaço na cena contemporânea, sina que carrega no próprio nome desde o nascimento, dez anos atrás.
Ônibus, cadeia, hospital, palacete e até o zoológico tornam-se lugar do teatro na programação.
A sétima edição do evento bienal (era para ser a 6ª, mas houve uma edição suplementar no centenário de Belo Horizonte, em 1997) reata com o prestigiado grupo Galpão, que ajudou a criar o festival e depois se afastou por discordar das linhas conceituais --ontem, como hoje, trata-se de realização da prefeitura, via Secretaria Municipal da Cultura.
O Galpão remontou duas comédias do repertório especialmente para o evento: "Um Molière Imaginário", encenado num hospital para pessoas com problemas mentais, e "O Inspetor Geral", num antigo palacete.
Uma das características do FIT-BH é o investimento na formação do público e dos artistas da cidade. A mostra oficial começa agora, mas os projetos especiais vêm desde julho. Exemplos: seminário de teatro de rua, auxílio-montagem (R$ 40 mil) para dois espetáculos do gênero, curso de inglês para técnicos, oficinas do público (comentários e análises das peças), escalação de duas famílias do sul do país dedicadas ao circo-teatro, a Bebé (RS) e a Biriba (SC) e um segundo seminário, voltado para o teatro de bonecos.
Aliás, foi preparada homenagem ao grupo de bonecos Giramundo, cujos fundadores, Terezinha Veloso e Álvaro Apocalypse, morreram no ano passado. Haverá uma exposição e a encenação de "Cobra Norato" (1979), um clássico da trupe, baseado no poema de Raul Bopp.
Há uma semana, houve conferência do diretor inglês Peter Brook. Lotou o teatro Francisco Nunes. Mesmo após fechar a grade de programação, o festival conseguiu que Belo Horizonte não só testemunhasse o pensamento vivo de um dos maiores encenadores do planeta, como o visse traduzido no palco.
"Tierno Bokar", a nova montagem do Centro Internacional de Criação Teatral (Cict), com sede no Théâtre des Bouffes du Nord, em Paris, ganhou até uma sessão extra, dada a procura por ingressos (a R$ 8, antecipado). Serão cinco apresentações, de 26 a 30/8.
Entre as atrações internacionais, destacam-se ainda "La Casa de Rigoberta Mira al Sur", da Nicarágua, com o grupo Justo Rufino Garay. O texto, que trata das revoluções latino-americanas e o sonho de uma sociedade mais justa, a partir do passado e do presente da personagem-título, foi escrito pelo argentino Arístides Vargas, radicado no Equador com o grupo Malayerba.
O palhaço Tortell, do Circ Crac, da Espanha, apresenta na rua um mix de seus melhores números. O Teatro Tascabile de Bergamo, na Itália, encena "Valse", dançado por dez atores em pernas-de-pau. No solo "No Fear!", a inglesa Linda Marlowe conjuga música, mímica e trapézio.
Do México, o Teatro de Ciertos Habitantes traz "El Automóvil Gris" e mostra como a busca por um lugar pode levar a outros. Trata-se de uma prospeção à Cidade do México de 1915, por meio de um clássico do cinema mudo daquele país. A inspiração vem da tradicional técnica japonesa "benshi" (narração para filmes mudos). São entrecruzados espaços, linguagens, culturas e tempo.
Nacionais
Grupos de outros Estados marcam presença com "Otelo", do grupo Folias d'Arte (SP); "O Que Diz Molero", do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (RJ); "Antônio, Meu Santo" e "Os Desvalidos", do Imbuaça (SE); "De Malas Prontas", do Pé de Vento (SC); e "Toré', um ritual na rua com a tribo Kariri-Xocó (AL).
Ao todo, são 28 cias. (oito internacionais). Segundo o coordenador-geral do FIT-BH, Marcelo Bones, 43, "a programação foi definida a partir do aprimoramento do conceito do festival, em discussões com a classe artística e a sociedade desde 2003". Os coordenadores-adjuntos são Bya Braga e Guilherme Marques.
Bones estima que os espetáculos (palco, rua e alternativos) e demais atividades atraiam de 120 mil a 130 mil pessoas. O orçamento é de R$ 2,8 milhões.
7º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO - PALCO & RUA DE BELO HORIZONTE
Quando: de hoje a 30/8
Quanto: R$ 20 e grátis
Informações: tel. 0/xx/31/ 3273-2051; www.fitbh.com.br
Patrocinadores: Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, Telemar, Vallourec & Mannesman do Brasil, Coca-Cola e Cemig
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