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23/08/2004
-
07h02
MARCELO PEN
Crítico da Folha de S.Paulo
O crítico literário Roberto Schwarz fez 66 anos na última sexta-feira, mas a maior homenagem, se o termo se aplica, ele recebe a partir de hoje, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo.
Trata-se de um ciclo de seminários que pretende avaliar a crítica materialista, com ênfase na obra de Roberto Schwarz, considerado seu maior representante na América Latina.
A idéia partiu da professora Maria Elisa Cevasco, 52, que, junto com Milton Ohata, do Instituto de Estudos Brasileiros, organiza o evento. Ela se inspirou num simpósio de avaliação da obra de Schwarz, a que assistiu no ano passado na Universidade de Stanford, nos EUA.
Em Stanford, os debates contaram com expoentes do pensamento de esquerda nos Estados Unidos, como o crítico literário Fredric Jameson e o historiador Perry Anderson, que considera "Um Mestre na Periferia do Capitalismo", obra de Schwarz sobre Machado de Assis, "o mais importante livro de estudos literários publicado no mundo todo nos últimos 50 anos".
Não que Schwarz precise do aval do exterior. No Brasil, no ano passado, um evento realizado no Centro Universitário Maria Antonia, para marcar os 30 anos de seu ensaio "As Idéias Fora do Lugar", foi tão badalado que inúmeras pessoas ficaram de fora.
O simpósio desta semana é aberto hoje de manhã com um depoimento do crítico Antonio Candido, maior influência brasileira ao pensamento de Schwarz. Em seguida falam Fernando Novais, José Arthur Giannotti e Paul Singer, que, junto com Schwarz e Fernando Henrique Cardoso, englobaram o grupo que, no final dos anos de 1950, se reunia para estudar a obra "O Capital", de Karl Marx.
O historiador Luiz Felipe de Alencastro e o poeta Francisco Alvim vêm ao Brasil para o evento. Do Rio de Janeiro, chega o escritor Paulo Lins, de "Cidade de Deus". Além deles, o encontro conta com a presença de convidados estrangeiros, como o alemão Robert Kurz, o norte-americano Neil Larsen e a salvadorenha Silvia Lopez.
Para o sociólogo Francisco de Oliveira, 69, que participa da mesa de hoje à tarde, o seminário é fundamental, pois, "na tradição de Antonio Candido, Schwarz elabora uma crítica originalíssima, materialista no melhor sentido, pois atenta à forma literária", mas cujas "ressonâncias vão muito além da crítica literária".
Maria Elisa, para quem as condições atuais favorecem a reflexão da crítica materialista, concorda com ele. "Num mundo dito globalizado, o pensamento de Schwarz constitui uma forma produtiva de examinar a relação entre os países dispostos na periferia do capitalismo, num "espaço distinto, mas não alheio", e aqueles que estão em seu centro", argumenta.
Além disso, no espaço periférico, é possível observar melhor as contradições do capitalismo. Maria Elisa ilustra seu ponto de vista ao lembrar que não longe do local onde ocorreu na quinta-feira passada o ataque aos moradores de rua, no centro de São Paulo, situa-se a opulenta Bolsa de Valores. "As pessoas não enxergam essas contradições flagrantes. Para entendê-las, é preciso ler a obra de Schwarz", arremata.
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre Roberto Schwarz
Ciclo em SP aborda a crítica materialista de Roberto Schwarz
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Crítico da Folha de S.Paulo
O crítico literário Roberto Schwarz fez 66 anos na última sexta-feira, mas a maior homenagem, se o termo se aplica, ele recebe a partir de hoje, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo.
Trata-se de um ciclo de seminários que pretende avaliar a crítica materialista, com ênfase na obra de Roberto Schwarz, considerado seu maior representante na América Latina.
A idéia partiu da professora Maria Elisa Cevasco, 52, que, junto com Milton Ohata, do Instituto de Estudos Brasileiros, organiza o evento. Ela se inspirou num simpósio de avaliação da obra de Schwarz, a que assistiu no ano passado na Universidade de Stanford, nos EUA.
Em Stanford, os debates contaram com expoentes do pensamento de esquerda nos Estados Unidos, como o crítico literário Fredric Jameson e o historiador Perry Anderson, que considera "Um Mestre na Periferia do Capitalismo", obra de Schwarz sobre Machado de Assis, "o mais importante livro de estudos literários publicado no mundo todo nos últimos 50 anos".
Não que Schwarz precise do aval do exterior. No Brasil, no ano passado, um evento realizado no Centro Universitário Maria Antonia, para marcar os 30 anos de seu ensaio "As Idéias Fora do Lugar", foi tão badalado que inúmeras pessoas ficaram de fora.
O simpósio desta semana é aberto hoje de manhã com um depoimento do crítico Antonio Candido, maior influência brasileira ao pensamento de Schwarz. Em seguida falam Fernando Novais, José Arthur Giannotti e Paul Singer, que, junto com Schwarz e Fernando Henrique Cardoso, englobaram o grupo que, no final dos anos de 1950, se reunia para estudar a obra "O Capital", de Karl Marx.
O historiador Luiz Felipe de Alencastro e o poeta Francisco Alvim vêm ao Brasil para o evento. Do Rio de Janeiro, chega o escritor Paulo Lins, de "Cidade de Deus". Além deles, o encontro conta com a presença de convidados estrangeiros, como o alemão Robert Kurz, o norte-americano Neil Larsen e a salvadorenha Silvia Lopez.
Para o sociólogo Francisco de Oliveira, 69, que participa da mesa de hoje à tarde, o seminário é fundamental, pois, "na tradição de Antonio Candido, Schwarz elabora uma crítica originalíssima, materialista no melhor sentido, pois atenta à forma literária", mas cujas "ressonâncias vão muito além da crítica literária".
Maria Elisa, para quem as condições atuais favorecem a reflexão da crítica materialista, concorda com ele. "Num mundo dito globalizado, o pensamento de Schwarz constitui uma forma produtiva de examinar a relação entre os países dispostos na periferia do capitalismo, num "espaço distinto, mas não alheio", e aqueles que estão em seu centro", argumenta.
Além disso, no espaço periférico, é possível observar melhor as contradições do capitalismo. Maria Elisa ilustra seu ponto de vista ao lembrar que não longe do local onde ocorreu na quinta-feira passada o ataque aos moradores de rua, no centro de São Paulo, situa-se a opulenta Bolsa de Valores. "As pessoas não enxergam essas contradições flagrantes. Para entendê-las, é preciso ler a obra de Schwarz", arremata.
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