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27/08/2004
-
07h06
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
"Colateral" é como um jazz saído do sax de Dexter Gordon. Há, primeiramente, um sentimento de solidão acompanhado de êxtase. Depois, a dissonância e o improviso atentando contra o que seria uma ordem (a sonora), mas resultando numa harmonia que ludibria a dor e a tristeza. Ou seja, um certo jogo entre forças contrárias.
Pois o filme de Michael Mann mostra já no início uma harmonia aparente, nas previsões de congestionamento, horários, carros lustrosos que percorrem as ruas daquela Los Angeles noturna que mais parece uma Bagdá devastada, de tão deserta e triste.
O taxista Max (Jamie Foxx) peleja há 12 anos por seus projetos e discursa sobre o controle das coisas. Seguro, em princípio, este homem é mais outro bastardo nesse mundo de solitários inseguros.
Daí chega à cidade o matador de aluguel Vincent (Tom Cruise), contratado para executar uma meia dúzia de testemunhas de acusação contra um traficante. A idéia é usar o mesmo táxi para fazer o serviço, e um incidente faz com que Max tenha de acompanhar a noitada do cliente.
Vincent, logo que entra no carro, confessa detestar Los Angeles, sobretudo pela falta de conexão entre as coisas. Este homem, não menos solitário que Max, percebe a dureza da vida e a impossibilidade de controle das coisas, que acabam sempre vazando para um terreno desconhecido e brutal.
Ele está um passo à frente do taxista que ainda crê na solidariedade daquela cidade-fantasma. E não é mais feliz, mas sim resolvido o bastante para sobreviver e rasgar ironias sobre a existência nesse mundo moderno, arrivista e desumano. A idéia de Vincent é que na fragilidade da ordem o único caminho possível é o do risco, da discrepância e, melhor ainda, do improviso.
Vincent, então, convida Max, amante da música clássica, a conhecer a arte do improviso num night club: na modernidade do cool jazz de Miles Davis, Gordon e outros. Ali, os olhos do bandido tanto brilham que o peso da morte parece sair da sua aura.
O improviso, que também nada mais é que enxergar ludicamente a dor e o inesperado, trará algo de novo a Max. Algo que, mais tarde, será explicitado num coiote que surge à frente do carro, item selvagem e discrepante naquele asfalto e que fecunda o momento de interação entre aqueles dois desgraçados que não abandonaram, cada um a seu modo, a crença na vida.
E Michael Mann, sempre grande, não troca seu cinema tão planejado para defender o improviso que dribla a dor da vida.
Avaliação:
Colateral (Collateral)
Direção: Michael Mann
Produção: EUA, 2004
Com: Tom Cruise, Jamie Foxx
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Central Plaza e circuito
Especial
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre Michael Mann
Arquivo: veja o que já foi publicado sobre Tom Cruise
"Colateral" defende improviso como saída para incertezas do mundo
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free-lance para a Folha
"Colateral" é como um jazz saído do sax de Dexter Gordon. Há, primeiramente, um sentimento de solidão acompanhado de êxtase. Depois, a dissonância e o improviso atentando contra o que seria uma ordem (a sonora), mas resultando numa harmonia que ludibria a dor e a tristeza. Ou seja, um certo jogo entre forças contrárias.
Pois o filme de Michael Mann mostra já no início uma harmonia aparente, nas previsões de congestionamento, horários, carros lustrosos que percorrem as ruas daquela Los Angeles noturna que mais parece uma Bagdá devastada, de tão deserta e triste.
O taxista Max (Jamie Foxx) peleja há 12 anos por seus projetos e discursa sobre o controle das coisas. Seguro, em princípio, este homem é mais outro bastardo nesse mundo de solitários inseguros.
Daí chega à cidade o matador de aluguel Vincent (Tom Cruise), contratado para executar uma meia dúzia de testemunhas de acusação contra um traficante. A idéia é usar o mesmo táxi para fazer o serviço, e um incidente faz com que Max tenha de acompanhar a noitada do cliente.
Vincent, logo que entra no carro, confessa detestar Los Angeles, sobretudo pela falta de conexão entre as coisas. Este homem, não menos solitário que Max, percebe a dureza da vida e a impossibilidade de controle das coisas, que acabam sempre vazando para um terreno desconhecido e brutal.
Ele está um passo à frente do taxista que ainda crê na solidariedade daquela cidade-fantasma. E não é mais feliz, mas sim resolvido o bastante para sobreviver e rasgar ironias sobre a existência nesse mundo moderno, arrivista e desumano. A idéia de Vincent é que na fragilidade da ordem o único caminho possível é o do risco, da discrepância e, melhor ainda, do improviso.
Vincent, então, convida Max, amante da música clássica, a conhecer a arte do improviso num night club: na modernidade do cool jazz de Miles Davis, Gordon e outros. Ali, os olhos do bandido tanto brilham que o peso da morte parece sair da sua aura.
O improviso, que também nada mais é que enxergar ludicamente a dor e o inesperado, trará algo de novo a Max. Algo que, mais tarde, será explicitado num coiote que surge à frente do carro, item selvagem e discrepante naquele asfalto e que fecunda o momento de interação entre aqueles dois desgraçados que não abandonaram, cada um a seu modo, a crença na vida.
E Michael Mann, sempre grande, não troca seu cinema tão planejado para defender o improviso que dribla a dor da vida.
Avaliação:
Colateral (Collateral)
Direção: Michael Mann
Produção: EUA, 2004
Com: Tom Cruise, Jamie Foxx
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Central Plaza e circuito
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