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28/08/2004 - 10h26

Jonathan Coe faz girar história inglesa recente

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MARCELO PEN
Crítico da Folha de S.Paulo

Berlim, Alexanderplatz. É nessa praça, que também dá título à famosa série do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, que o inglês Jonathan Coe, 43, escolheu para começar e encerrar os romance "Bem-Vindo ao Clube" e sua seqüência --a ser lançada na Inglaterra em setembro-- "O Círculo Fechado".

As narrativas acompanham um grupo de personagens, oriundos principalmente da cidade de Birmingham (Inglaterra), em períodos pré e pós Margaret Thatcher. Mas Coe optou pelo cenário inaugural da Alexanderplatz por causa de um café giratório.

Ele queria produzir uma seqüência de ficções num desses restaurantes rotatórios (a inspiração veio a Coe quando conheceu o de Cingapura): a história terminaria quando o restaurante voltasse ao ponto inicial. "Acabei escrevendo apenas dois romances --que não é lá muito uma seqüência!-- mas a idéia permaneceu", diz o escritor à Folha.

Coe passou meio despercebido no Brasil em julho deste ano, quando veio para a Festa Literária Internacional de Parati. É uma injustiça. Escritor prolífero, mas dos mais interessantes, sabe dosar emoção com boas manobras de estilo e crítica social não sectária.

Ganhou o prêmio do Writers" Guild e o John Llewellyn Rhys. Também escreveu biografias dos atores Humphrey Bogart e James Stewart e do escritor B. S. Johnson.

Leia a seguir, trechos da entrevista, em que Coe fala sobre música, cinema, política de Thatcher e de Tony Blair entre outros temas.

Folha - Nos anos 70, como alguns personagens de "Bem-Vindo ao Clube", o senhor aderiu ao rock progressivo ou ao punk?
Jonathan Coe
- A nenhum dos dois. Minhas bandas favoritas, de quando eu era adolescente, foram Henry Cow, Caravan, Hatfield and the North --as chamadas bandas da "cena da Cantuária". A música é complexa, mas não pomposa, experimental, mas acessível --qualidades a que aspiro em minha ficção. Fiz parte de uma banda num breve espaço de tempo na década de 1980. Tentamos tocar esse tipo de música, mas era o momento histórico errado, para dizer o mínimo!

Folha - A certa altura, J.R.R. Tolkien (nascido em Birmingham) é acusado de racismo. Esse tipo de ataque ao autor de "O Senhor dos Anéis" era comum?
Coe
- Não muito. O que é interessante, acerca de Tolkien, é que ele foi aproveitado, em momentos diferentes, por todo tipo de movimentos políticos --de fascistas a ambientalistas, que o alçaram à condição de porta-voz. Quanto a mim, creio que sua ideologia, no que diz respeito a "O Senhor dos Anéis", é muito conservadora, mas não é racista.

Folha - No seu livro, um galês acusa os ingleses de serem cruéis e imperialistas. O senhor concorda?
Coe
- Pode-se acusar outros países europeus de crimes similares, através da história. O discurso do tio de Cicely, que defende bem seu ponto de vista, é mais anticolonialista do que anti-inglês.

Folha - O que representou, para o senhor, a mudança para a era ditada pelo mercado, instaurada por Margaret Thatcher, oposta a tudo que seu romance descreve?
Coe
- As conseqüências estão à nossa volta --a priorização do estilo sobre a substância, o modo como julgamos o valor das pessoas em termos monetários, e não em termos de sua contribuição para a sociedade. Um terrível senso de ironia enfastiada e repúdio ao conhecimento, que nada tem a ver com a humildade e sinceridade às vezes cômicas que havia na cultura britânica dos anos 70. Mas a culpa não é de Thatcher como indivíduo. Essas forças já estavam presentes, como corrente subterrânea. Ela apenas as libertou.

Folha - O senhor também escreveu biografias de Humphrey Bogart e James Stewart...
Coe
- Escrevi esses livros por dinheiro. Dos dois, prefiro o que trata de James Stewart, porque gosto muito de seus filmes com Anthony Mann e Hitchcock, especialmente "Um Corpo que Cai". Mas não me sinto confortável com biografias e só escreverei outra se me apaixonar pelo tema.

Folha - Mas o senhor também lançou uma monumental biografia sobre B.S. Johnson, um autor bastante desconhecido. Que aspectos o interessaram aí?
Coe
- Na década de 1980, quando meu ponto de vista sobre a ficção era mais estridente e imaturo, atraíram-me o radicalismo de Johnson, sua ênfase num romance mais experimental. Agora eu o aprecio mais por sua franqueza emocional, sua honestidade, e pela qualidade de sua prosa --ele é um dos maiores estilistas da prosa inglesa dos anos de 1960. Creio que também fui atraído por sua veia melancólica.

Folha - Quais são seus cineastas favoritos?
Coe
- Billy Wilder, Billy Wilder e Billy Wilder.

Folha - E filmes?
Coe
- "Se Meu Apartamento Falasse", "Quanto Mais Quente Melhor", "Avanti! Amantes à Italiana", "A Vida Íntima de Sherlock Holmes" e a maioria dos outros filmes de Billy Wilder.

Folha - "O Círculo Fechado" será lançado na Inglaterra em setembro. Que podemos esperar desse seu novo romance?
Coe
- Os mesmos personagens, 20 anos mais tarde, mais velhos, tristes e não muito mais sensatos. Um país transformado, a ponto de ser tornar irreconhecível, por duas décadas de thatcherismo (ou "blairismo", que é a mesma coisa). E um retorno àquele café giratório em Berlim, Alexanderplatz!

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