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09/09/2004
-
07h02
da Folha de S.Paulo
Dama absoluta do teatro brasileiro, indicada ao Oscar por seu desempenho no cinema --"Central do Brasil", de Walter Salles, 1998, com o qual venceu o Urso de Prata em Berlim, a atriz Fernanda Montenegro, 74, não teme marinheiros de primeira viagem.
"Redentor", dirigido por seu filho Cláudio Torres, é o terceiro filme de um diretor estreante a ser lançado neste ano com seu nome no elenco.
Antes vieram "O Outro Lado da Rua" (Marcos Bernstein) e "Olga" (Jayme Monjardim).
Fernanda diz que "não há diferença entre o "diretorzão" e a "atrizona" ou o diretor de primeiro filme e o ator não-experimentado", simplesmente porque "tudo é tão sempre novo, cada coisa que você faz parte absolutamente do zero".
A afirmação não é recurso de modéstia de quem se sabe grande, mas convicção de uma atriz que encara o seu ofício como "uma vida de vestibular: você tem sempre que se aprofundar numa matéria e prestar um exame a si mesmo e a terceiros".
Na própria carreira, Fernanda imaginou que faria provas apenas eventuais no cinema, onde há o pedestal "para aquela senhora câmera, aquela coisa que é amada, alisada, limpada, medida e para a qual você não blefa, porque ela te flagra em desníveis, em desvelos, em acertos também".
A atriz enxergava no teatro o seu território por excelência. "Sempre achei que eu era uma atriz de teatro, só de teatro, com visitações esparsas em cinema".
Mas quis a história da atividade artística no Brasil que fosse este um momento em que "o cinema está vivo, diversificado, com uma pujança que talvez somente a dança tenha igual". E a atriz intensificou suas visitações a esta arte.
Com o genro Andrucha Waddington ela acaba de filmar "Casa de Areia", em que divide o set e o personagem (que atravessa um salto temporal) com a filha Fernanda Torres. "Vão dizer: "Ué, é tudo em família?!", conjectura a atriz. "E por que não? Onde está escrito que família não pode trabalhar junto em alguma coisa? Não existe compêndio sobre isso", responde a si mesma.
No domínio dos compêndios não-escritos, além da criatividade cultivada no âmbito familiar, há também dupla atuação de artistas que migram para a gestão pública. Mas dessa experiência a atriz declinou, quando foi convidada a assumir o Ministério da Cultura.
"Isso foi há 20 anos", ri, e explica a recusa: "Não tenho nada a ver com essa coisa de administrar uma vida política. Eu seria um pudim de festa, um nada. Na primeira hora que tivessem proibido "Je Vous Salue, Marie" [filme de Jean-Luc Godard censurado no Brasil em 1985] eu já largaria o cargo e iria embora para casa. Não teria a sofisticação, ou a paciência, ou o talento e a vocação para, sobre esse fenômeno da proibição, conversar, tentar liberar".
Nisso, o músico e atual ministro da Cultura Gilberto Gil é "o contrário" de Fernanda, avalia a atriz: "Acho que ele está sabendo fazer isso. É um homem corajoso, responsável. Não é um alienado. Se aceitou [o ministério], é porque quer ter presença e voz como homem político".
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Leia o que já foi publicado sobre Fernanda Montenegro
Fernanda Montenegro toca a "vida de vestibular"
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Dama absoluta do teatro brasileiro, indicada ao Oscar por seu desempenho no cinema --"Central do Brasil", de Walter Salles, 1998, com o qual venceu o Urso de Prata em Berlim, a atriz Fernanda Montenegro, 74, não teme marinheiros de primeira viagem.
"Redentor", dirigido por seu filho Cláudio Torres, é o terceiro filme de um diretor estreante a ser lançado neste ano com seu nome no elenco.
Antes vieram "O Outro Lado da Rua" (Marcos Bernstein) e "Olga" (Jayme Monjardim).
Fernanda diz que "não há diferença entre o "diretorzão" e a "atrizona" ou o diretor de primeiro filme e o ator não-experimentado", simplesmente porque "tudo é tão sempre novo, cada coisa que você faz parte absolutamente do zero".
A afirmação não é recurso de modéstia de quem se sabe grande, mas convicção de uma atriz que encara o seu ofício como "uma vida de vestibular: você tem sempre que se aprofundar numa matéria e prestar um exame a si mesmo e a terceiros".
Na própria carreira, Fernanda imaginou que faria provas apenas eventuais no cinema, onde há o pedestal "para aquela senhora câmera, aquela coisa que é amada, alisada, limpada, medida e para a qual você não blefa, porque ela te flagra em desníveis, em desvelos, em acertos também".
A atriz enxergava no teatro o seu território por excelência. "Sempre achei que eu era uma atriz de teatro, só de teatro, com visitações esparsas em cinema".
Mas quis a história da atividade artística no Brasil que fosse este um momento em que "o cinema está vivo, diversificado, com uma pujança que talvez somente a dança tenha igual". E a atriz intensificou suas visitações a esta arte.
Com o genro Andrucha Waddington ela acaba de filmar "Casa de Areia", em que divide o set e o personagem (que atravessa um salto temporal) com a filha Fernanda Torres. "Vão dizer: "Ué, é tudo em família?!", conjectura a atriz. "E por que não? Onde está escrito que família não pode trabalhar junto em alguma coisa? Não existe compêndio sobre isso", responde a si mesma.
No domínio dos compêndios não-escritos, além da criatividade cultivada no âmbito familiar, há também dupla atuação de artistas que migram para a gestão pública. Mas dessa experiência a atriz declinou, quando foi convidada a assumir o Ministério da Cultura.
"Isso foi há 20 anos", ri, e explica a recusa: "Não tenho nada a ver com essa coisa de administrar uma vida política. Eu seria um pudim de festa, um nada. Na primeira hora que tivessem proibido "Je Vous Salue, Marie" [filme de Jean-Luc Godard censurado no Brasil em 1985] eu já largaria o cargo e iria embora para casa. Não teria a sofisticação, ou a paciência, ou o talento e a vocação para, sobre esse fenômeno da proibição, conversar, tentar liberar".
Nisso, o músico e atual ministro da Cultura Gilberto Gil é "o contrário" de Fernanda, avalia a atriz: "Acho que ele está sabendo fazer isso. É um homem corajoso, responsável. Não é um alienado. Se aceitou [o ministério], é porque quer ter presença e voz como homem político".
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