Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/09/2004 - 09h36

Em "Irmãos de Fé", Padre Marcelo retorna no papel de si mesmo

Publicidade

INÁCIO ARAUJO
Crítico da Folha de S.Paulo

Em "Irmãos de Fé", sua nova incursão fílmico-evangélica, padre Marcelo propõe associar a história de são Paulo, narrada nos "Atos dos Apóstolos", com a de um jovem marginal paulistano.

Paulo, como se sabe, foi uma conversão-chave no desenvolvimento do cristianismo. O menino, que tem o mesmo nome, é preso após uma tentativa de assalto e, graças à intercessão de sua irmã, recebe na cela a visita do padre Marcelo em pessoa, que lhe presenteia com uma Bíblia.

Como Paulo, o apóstolo, o menino torce o nariz, mas começa a ler a história do xará, que antes da conversão era um violento. A leitura o seduz pouco a pouco.

Ao contrário de "Maria, Mãe do Filho de Deus", desta vez o filme toca em uma questão controversa, na medida em que diversos momentos opõem cristãos e judeus --estes últimos na condição de vilões, claro.

Para limpar a barra, o padre Marcelo faz uma visita a Jerusalém, no final do filme, quipá na cabeça, canônico, pregando a paz entre cristãos, judeus e muçulmanos. Fica um certo mal-estar, nada que se pareça com o que fez Mel Gibson em sua "Paixão de Cristo", em todo o caso.

O certo é que o problema aqui, assim como na discussão que opõe Paulo a Tiago, é, por assim dizer, "intracristão".

Nela, Paulo defendia que se evangelizassem os gentios, inclusive dando-lhes o direito de serem circuncidados, comerem carne de porco etc. (em suma, de não seguirem a lei de Moisés). Da mesma forma, o padre Marcelo propõe, hoje, formas heterodoxas de vínculo ao catolicismo.

Elas não são universalmente aceitas, é fato sabido (e não será por acaso que logo no início podemos ver o padre cantando e fazendo cantar, numa seqüência documental). Essa história de padre popstar encontra resistências em setores laicos e provavelmente também no clero. Não esqueçamos que a pregação do padre Marcelo é de natureza bem mais política do que possa parecer-se opõe à parte esquerdista da Igreja no Brasil, por exemplo.

Com isso, é possível que embole um pouco o meio de campo do evangelismo cinematográfico. "Maria" era um tema que calhava bem aos católicos e não suscitava polêmicas. São Paulo é um tanto controverso e, no mais, leva o filme para discussões até interessantes, porém abstratas.

Moacyr Góes desta vez contenta-se em empacotar a mercadoria, sem nenhum empenho em especial (ao contrário do que acontecera em "Maria"). Ainda assim, a proximidade de "Irmãos de Fé" com uma tradição popular do cinema brasileiro (que nada tem a ver com o "povo" dos shopping centers de agora) volta a ser reatada, o que é interessante.

Quem se sai melhor da aventura é, no fim das contas, o padre Marcelo: faz o papel de si mesmo e fala frases que certamente deve falar no dia-a-dia. Não faz o papel ridículo que fez em "Maria".

Irmãos de Fé

Produção: Brasil, 2004
Direção: Moacyr Góes
Com: Thiago Lacerda, padre Marcelo Rossi
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco 8, Continental, HSBC Belas Artes/Sala Aleijadinho, Interlagos 2 e circuito

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o filme "Irmãos de Fé"
  • Leia o que já foi publicado sobre o padre Marcelo Rossi
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página