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16/09/2004 - 04h57

Artistas ocupam hotel desativado no centro de São Paulo

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DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Rua das Palmeiras, 78. O endereço do outrora glorioso Lord Palace Hotel, no centro de São Paulo, será ocupado, a partir do próximo sábado, por uma série de artistas que farão do estabelecimento não só o abrigo mas o personagem principal de suas obras.

É a exposição "Lord Palace Hotel", que vem sendo idealizada desde fevereiro deste ano pelo coletivo Casa Blindada e fica "em cartaz" até o próximo dia 7 de novembro, no local. Participam da mostra 27 artistas das mais diferentes correntes, além de três críticos que ajudaram na discussão e viabilização das intervenções.

O que a princípio previa uma interação com hóspedes e funcionários do estabelecimento, por obra do destino acabou se tornando o último suspiro de vida do hotel, que em maio fechou suas portas após 46 anos no bairro Santa Cecilia.

O sentimento de ausência não tardou a aparecer em diversas instalações/quartos do hotel.

Esse é o caso da obra de Sheila Hara. Batizado de "Era uma Vez...", seu trabalho justapõe dois quartos comunicantes em que, no primeiro, todos os objetos (cama, abajures, cortinas, quadros etc.) estão no lugar; no segundo, eles foram retirados e só o que resta são as marcas no chão e nas paredes de algo que um dia esteve ali.

Os objetos dos quartos de Silvia Cruz também foram cobertos com capas brancas e dispostos de maneira tal que sugerem a impossibilidade de utilização do espaço.

"De início pensamos a exposição para o cotidiano do hotel. Mas com o desativamento, as obras foram mudando. Há essa sensação de abandono, de um espaço vazio", afirma o crítico Cauê Alves.

Com a falta de movimento no hotel, outros artistas, como Cláudio Cretti e Samantha Moreira, resolveram se apropriar dos objetos do Lord para criar suas obras. A instalação de Cretti consiste em uma "escultura" formada por pilhas de lençóis e toalhas de banho que ocupam todo um quarto.

Já Moreira teve a idéia de reunir em duas habitações parte dos quadros da decoração (kitsch) do hotel em uma miniexposição dentro da exposição.

É o "acervo de arte do Lord", com suas dezenas de gravuras impressionistas, naturezas-mortas e até alguns trabalhos originais comprados pelo hotel ao longo de sua existência.

Outras "peças" deixadas de lado com o fechamento do hotel chamaram a atenção de Graciela Rodriguez. No documentário "O Lord que o Hóspede Não Viu", a artista registrou depoimentos de camareiras, cozinheiras, garçons, entre outros, durante os últimos sete dias de funcionamento.

O vídeo, de aproximadamente 15 minutos, poderá ser visto durante toda a exposição de confortáveis sofás da sala de TV do hotel.

"Muitos trabalham mostram isso. O antes e o depois. O espaço que se fecha, que se transforma. Refletem sobre interrupções, situações de morte e ruptura", sugere Paula Alzugaray, que completa o trio de críticos da mostra, juntamente com Juliana Monachesi, colaboradora da Folha.

Foram as janelas que chamaram a atenção da artista plástica Bia Gayotto, radicada em Los Angeles. Em parceria com outros artistas da ocupação, Gayotto vai utilizar 12 janelas como suporte para 12 composições geométricas amarelas e vermelhas que poderão ser vistas da rua e do lado de dentro do quarto/instalação.

"A arte deve transpor fronteiras, o público não precisa entrar no espaço para ter acesso às obras", defende Eduardo Srur, outro que, como fez recentemente em um prédio desativado da av. Doutor Arnaldo, em que instalou diversas barracas de camping iluminadas com lâmpadas, optou por expor seu trabalho à vista dos passantes.

Convencido de que a arquitetura externa do Lord "parece o Titanic" e que o Minhocão, a poucos metros dali, seria o seu cais, elaborou uma enorme âncora de navio (de 3 m x 2 m) que será lançada sobre a marquise do hotel e ficará presa a uma de suas janelas por um cabo de aço.

Levando adiante a idéia de arte pública, o artista pretende itinerar sua "Âncora" para "outras instituições de arte que estão afundando, como o Masp, o MuBE ou a própria Bienal".

Ainda rompendo os limites da galeria/hotel, o grupo Casa Blindada disponibilizará uma van, batizada de "Fluxo", que fará o trajeto do Lord à Bienal, de duas em duas horas. "O mundo é apenas uma paisagem vista pela janela do veículo", sugerem os idealizadores da exposição, considerada como uma alternativa estética e política à Bienal de Arte de São Paulo, que acontece simultaneamente a "Lord Palace Hotel".

Também tem reserva marcada no hotel dos artistas o grupo Corpo de Baile, com performances nos dias 2 e 3/10, num mix de artes plásticas, dança e moda.

LORD PALACE HOTEL
Abertura sáb., às 15h
Quando: de qui. a dom., das 10h às 19h. Até 7/11
Onde: r. das Palmeiras, 78, Santa Cecilia, SP, tel. 0/xx/11/3225-0022
Quanto: entrada franca.

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