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17/09/2004 - 06h29

"Intelectual", Nei Lopes traz Cuba ao samba carioca

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio

Quem acompanha Nei Lopes à distância pode ver nele um caso de dupla personalidade: de um lado, o compositor divertido de "Tempo de Dondon" e "Goiabada Cascão"; de outro, o intelectual e militante da cultura afro-brasileira, que escreve cartas e artigos sérios para jornais.

Pífio engano. O compositor e o intelectual são partes de uma mesma personalidade, tão divertida quanto aguerrida. O novo CD, "Partido ao Cubo", reflete isso: são 14 sambas temperados com influências cubanas, opção que conta com a argumentação do pesquisador das tradições africanas e a alegria do autor de sambas. "Cuba entra como pano de fundo. O disco é samba o tempo inteiro. Não houve a pretensão de criar nada de novo, nenhum "samba-Havana", porque ser pioneiro aos 62 anos seria algo muito complicado", brinca ele.

"Partido ao Cubo" tem, em todas as suas faixas, uma retaguarda de sopros que explicita a referência cubana. Na primeira e na última faixas, as extremamente dançantes "Samba de Eleguá" e "Partido ao Cubo", fica ainda mais claro. "Alguns sambistas mais tradicionalistas fazem uma música meio triste. Mas o samba sempre teve um lado moleque, de brincadeira, que não pode perder. O bom é ouvir e dançar", diz ele, que está fazendo shows no Centro Cultural Carioca (centro) nas quartas-feiras de setembro.

A ode à alegria não significa liberalidade absoluta. Ao sublinhar as afinidades entre Brasil e Cuba, ele não propõe fusões sonoras. "Toda fusão leva a um enfraquecimento das vertentes que estão se fundindo. Busco o máximo de fidelidade à tradição do samba."

Por esta razão, Lopes é um praticante e apologista do partido-alto, que considera a forma de se fazer samba mais ligada às tradições africanas e a mais complexa. O partido é formado, basicamente, por um refrão forte e estrofes que podem se prolongar em improvisações. "O partido começou a ser recuperado com Martinho da Vila e, desde os anos 80, vive um bom momento", exalta Lopes.

Ele não tem a mesma visão positiva quanto aos prêmios e homenagens que veteranos do samba como Monarco e Nelson Sargento vêm recebendo. "É tudo simbólico, porque ganha-se muito pouco [dinheiro]. A intenção é manter o samba no gueto do folclore, não considerá-lo como algo competitivo no sentido mercadológico."

Como se pode deduzir, o sucesso de "Tempo de Dondon" na trilha da novela "Celebridade" (na voz de Dudu Nobre) não deslumbrou em nada o compositor. "Por trás de iniciativas da Globo, como o [seminário] "Conteúdo Brasil", há toda uma estratégia para buscar apoio do governo, do BNDES. Sou muito realista", diz.

Autor de vários livros, Nei Lopes deve lançar outros em breve. Acabou de escrever "Partido-Alto, Samba de Bamba", para a editora Pallas, e de revisar os 10 mil verbetes da "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana", que a editora Summus pretende publicar em novembro. Também está concluindo "Kitabu - O Livro do Espírito e do Pensamento Negro Africano", para o Senac, e escrevendo contos a partir de histórias reais do samba.

PARTIDO AO CUBO
Artista: Nei Lopes
Lançamento: Fina Flor
Quanto: R$ 23

Especial
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