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20/09/2004 - 04h27

Com prosa fluente, obra resgata polêmicas sobre a Bienal de SP

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FELIPE CHAIMOVICH
da Folha de S.Paulo

"As Bienais de São Paulo" é um livro esclarecedor. Os autores, Francisco Alambert e Polyana Lopes, apoiam-se em relevante bibliografia e pesquisa documental para narrar a história da instituição. Porém se eximem de uma linha crítica autônoma, optando por recriar o debate polifônico em torno da maior exposição internacional regular de arte contemporânea da América Latina.

O livro propõe um modelo interpretativo em quatro etapas. "Entre os Dias da Semana e os Anos da Bienal" tematiza a origem da mostra entre modernistas ligados à Semana de 22 e ao casal Yolanda Penteado e Ciccilo Matarazzo.

"A Era dos Museus" cobre a união inicial com o Museu de Arte Moderna de São Paulo, entre a 1ª Bienal, em 1951, e o desligamento do MAM, em 1963. "A Era Matarazzo" vai de 1963 a 1979 e "A Era dos Curadores" vem de 1980 até a escolha do alemão Alfons Hug como o primeiro curador estrangeiro da Bienal, em 2001.

A exposição do tema é acompanhada de abundantes citações de vozes documentais dos períodos sucessivos. Mas a prosa fluente dos autores do livro torna a leitura dinâmica e bem articulada.

Dois aspectos conflitantes marcam a história reconstruída no volume: a busca da autonomia de nossa cultura por meio da experiência cosmopolita da megamostra e a pressão para internacionalizar a arte brasileira devido ao confronto entre nacionais e estrangeiros.

Por um lado, o espírito modernista original está sintetizado em posições a favor da produção daqui, como as do crítico Mário Pedrosa. Diz o texto do livro:

"Se um jovem brasileiro ingênuo, bárbaro poderia assumir uma nova postura diante da cultura quando em contato direto com o melhor e o mais arrojado que a arte moderna poderia produzir, então o projeto de criar grandes exposições periódicas era a chance de ver esse processo multiplicado. As bienais seriam a garantia da realização do espírito moderno entre nós, para todos nós. Para Pedrosa, como para muitos de seus contemporâneos, as artes visuais teriam a capacidade pedagógica de nos afastar de nossos preconceitos" (pág. 22).

Por outro, a implantação do modernismo do pós-guerra no Brasil alinhava-se à política norte-americana de difusão da agenda única da abstração contra o realismo soviético. Como lembra Yolanda Penteado a Aracy Amaral:

"Era evidente que havendo um museu [de arte moderna, criador da Bienal] aqui implantado que traria exposições da mais alta e diversa qualidade, abrindo janelas, os artistas naturalmente se distanciariam de idéias políticas que somente os faziam conglomerar-se em debates prejudiciais" (pág. 47).

Cética é a conclusão do texto, um dos raros momentos opinativos dos autores: "É para ensinar ao mundo a importância de um curador que um país miserável deve manter uma caríssima rotina de eventos periódicos como as bienais? Por mais que as crises se afigurem, o projeto das bienais ainda encontra na sociedade brasileira quem acredite nele e em seu futuro" (pág. 240).

As guinadas e polêmicas da instituição do Ibirapuera acompanham o desenvolvimentismo cinqüentista, a ditadura militar, a volta da democracia e a globalização. Contudo a metodologia cronológica acaba por fragmentar a percepção de características crônicas que reaparecem em diferentes momentos da história.

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