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05/10/2000 - 05h27

"O Lixo e a Fúria", longa sobre os Pistols, chega ao país

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LÚCIO RIBEIRO, da Folha de S.Paulo

Prepare olhos e ouvidos (e bolso). Começa hoje o superoutubro da cultura, maratona de eventos internacionais de cinema e música que reunirá cerca de 400 filmes do Festival do Rio BR 2000, mais os 200 da Mostra de Cinema de SP (a partir do dia 19), mais as 20 atrações do Free Jazz Festival (de 19 a 21 no Rio, de 20 a 22 em SP).

A largada é dada hoje no Rio de Janeiro, quando, no "novo" e clássico Cine Odeon, o festival carioca tem abertura.

Das mais de 1.200 horas de cinema promovidas pelo Festival do Rio, seis das mais significativas e históricas serão gastas nas três sessões de "O Lixo e a Fúria", documentário de Julien Temple sobre a banda punk Sex Pistols, que tem exibição no próximo domingo e na segunda-feira.

O badalado filme, destaque também da programação da Mostra de SP, conta como uma banda de plebeus ingleses misturou a insatisfação social e o marasmo cultural e, do caldo, forjou a mais avassaladora e seminal revolução da história do rock.

"O Lixo e a Fúria" é dirigido por Julien Temple, conhecido por sempre dar relevo à música em seus filmes, como "Absolute Beginners" (86, com David Bowie).

Julien Temple tem seu capítulo à parte na história da cultura pop britânica por ter se transformado em uma espécie de cronista visual dos Sex Pistols. E a história do punk, que vem pelos olhos de Temple, está contada neste impressionante "O Lixo e a Fúria".

Do condado de Somerset, a oeste de Londres, Temple, que hoje gosta de Eminem e Primal Scream, falou à Folha sobre o filme e sobre os Pistols.

Folha - Como foi a performance de "O Lixo e a Fúria" na Inglaterra, terra dos Sex Pistols? As pessoas foram ver de cabelo moicano, botas Dr. Martens e jaquetas com pins e alfinetes?
Julien Temple -
Teve uma mistura visual interessante. Senhores, jovens, pessoas da velha guarda trajados a caráter, com a vestimenta que você citou, sessões lotadas. A história dos Sex Pistols está bem viva no fundo da consciência inglesa. Foi um período de transformação profunda da cultura pop e não há como apagar isso. Não deve haver um só inglês vivo para quem o nome Sex Pistols não signifique nada.
Nos EUA, entrou para o top 20 dos documentários de cinema mais vistos em todos os tempos.

Folha - Você foi um seguidor do movimento punk desde o começo e dos Sex Pistols em particular. Como você conheceu a banda?
Temple -
Eu cruzei o caminho do grupo meio sem querer. Foi antes do primeiro concerto deles. Eu me lembro de que estava caminhando numa manhã de domingo ao longo do rio (Tâmisa). Daí comecei a ouvir uma música que vinha de um daqueles depósitos perto do porto. Segui a canção até a porta do armazém e percebi que era uma música dos Small Faces (banda inglesa dos anos 60, que chegou a ter Rod Stewart e o stone Ron Wood).
Subi ao topo do prédio, onde tinha uns caras tocando. Percebi que, no meio daquele barulho, estava sendo tocada a música "I Want You to Know That I Hate You". O que eu estava ouvindo era uma versão tocada de um jeito tão diferente daquilo que estava acontecendo na música na época.
Aquilo me chocou. Era dilacerante. Parecia que uma banda formada por alienígenas havia aterrissado naquele armazém e começado a tocar Small Faces.

Folha - O primeiro show dos Pistols data de novembro de 1975. Quando foi esse episódio do armazém?
Temple -
Foi alguns meses antes. Diante daquilo comecei a frequentar os shows da banda. Na época eu estudava cinema e passei a levar minha câmera para as apresentações da banda.

Folha - Daí você virou amigo de Johnny Rotten (líder dos Pistols, hoje John Lydon)?
Temple -
É. No final, acabei chamando a atenção dele de tanto que eu aparecia em frente do palco, durante os shows, filmando a banda. Eles não gostavam de me ver filmando. No começo pediam para eu ir embora, sair dali. Cuspiam muito na câmera.

Folha - "O Lixo e a Fúria" é um projeto seu ou você foi convidado pela banda para realizá-lo?
Temple -
Ambos. Eu queria fazer o filme, a banda queria que eu o fizesse.

Folha - Você dirigiu o irônico "The Great Rock'n'Roll Swindle" (A Grande Farsa do Rock'n'Roll, 1978/79) e o pistol principal, Johnny Rotten , não participou. Como agora ele está em "O Lixo e a Fúria", dá para dizer que a verdadeira história dos Sex Pistols finalmente foi contada, 25 anos depois?
Temple -
O filme foi feito para ser uma piada de época, com a função de gozar daquela gente que adorava os Pistols e via os membros da banda como ídolos pop. E ser idolatrada era tudo o que a banda menos queria.
Depois que a banda terminou,"Rock'n'Roll Swindle" virou um documento de época. E, se você ligá-lo a este "sério", "O Lixo e a Fúria", a verdadeira história do que aconteceu naqueles tempos está bem contada.

Folha - Para uma certa nova geração que gosta de rock desde Nirvana, como você a chamaria para ver "O Lixo e a Fúria"?
Temple -
Na Inglaterra, havia pencas de teenagers. Uns sabiam mais ou menos o que estava acontecendo na tela. Outros viram o filme como uma ficção. Devem ter pensado: "Ei, parecem cópia do Green Day"? (risos)

Folha - Qual é sua banda punk predileta, fora os Pistols?
Temple -
A banda mais interessante do punk, além dos Pistols, foi o Clash. O Damned foi muito engraçado. Tem também o X-Ray Specs, de quem eu gostava. Mas o negócio é que eu não faria um filme sobre essas bandas.

Folha - Depois do punk, qual é a banda, na sua opinião, que mais reuniu os predicados dos Pistols, na atitude explosiva, no inconformismo?
Temple -
Não sei se uma banda, mas os artistas do hip hop, numa linha diferente, têm um pouco dessa energia dos Pistols. O Public Enemy, quando começou, Tupac Shakur. No pop, o Primal Scream carrega a energia punk.

Folha - De quais bandas de rock você gosta atualmente?
Temple -
Gosto de Eminem, Primal Scream. Acho o Asian Dub Foundation muito bom. Gosto até de jazz, hoje.

Folha - Você vem para as sessões no Rio e em SP?
Temple -
Devo ir, sim. Não sei se consigo chegar para o Festival do Rio. Devo só arrumar tempo para chegar aí no final do mês.

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