Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/10/2004 - 08h50

28ª Mostra BR destaca retrospectiva do diretor Guy Maddin

Publicidade

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
da Folha de S.Paulo

Tudo começou faz 18 anos. Em 1986, um jovem caixa de banco, então com 30 anos, se lançou ao mundo cinematográfico utilizando um formato experimental. "The Dead Father" (O Pai Morto) foi o primeiro curta do canadense Guy Maddin. "Aprendi, logo de cara, que no cinema, sem clima, não se tem nada", conta.

O diretor fez desde então mais de 20 filmes, todos com roteiros insólitos e texturas de produções antigas. "Muitas pessoas me disseram ao longo de minha carreira que meus filmes são muito experimentais ou difíceis de serem acompanhados, mas eles sempre gostam da atmosfera e da estranheza. Ou do fato de não haver história em si nos filmes", brinca.
Maddin deve chegar hoje a São Paulo, diretamente de Montréal, para ser homenageado com uma retrospectiva na 28ª Mostra, que tem abertura à noite, para convidados, com a exibição de "Terra da Fartura", de Wim Wenders.

"É uma honra esse convite. Espero que alguém veja meus filmes [risos] e que eu descubra o que São Paulo acha deles, se eles fazem algum sentido. Quero falar com as pessoas depois das sessões para ajudá-las a compreender os filmes. É uma grande chance."

A obra de Maddin já esteve presente na Mostra do ano passado, com "A Música Mais Triste do Mundo", sua última produção. É um longa esquisito, com pitadas de bom humor e altas doses de surrealismo, como um par de pernas feitos de vidro e cheios de cerveja, em que ele retrata a ganância humana em um concurso para eleger a canção mais triste de todo o mundo, valendo US$ 25 mil em plena época da Depressão e da Lei Seca norte-americana.

A seguir trechos da entrevista, por telefone, com o cineasta.

Folha - O que o sr. acha de ter toda a sua obra disponível para o paulistano assistir de uma vez?

Guy Maddin
- É uma grande aposta. Espero que dê certo. As pessoas podem ignorar todo o meu trabalho de uma vez também. Quase nada que fiz foi exibido na América do Sul. O mais perto que cheguei foi a Buenos Aires. Acho que São Paulo é um lugar sensacional para começar.

Folha - Qual seu conselho para entrar no universo de Maddin?

Maddin
- Acho que, embora seja o mais recente, "A Música Mais Triste do Mundo" é um bom começo. Sempre tento contar histórias que importam para mim, e esse filme é dos que contam bem uma história. Se a pessoa gostar dele, pode voltar um pouco no tempo e ver algo mais primitivo como "Cuidadoso" ou "Drácula: Páginas do Diário de uma Virgem". Talvez "Arcanjo" seja o mais difícil de todos eles, mas é o meu favorito, porque a trama está tão... escondida.

Folha - Como o sr. definiria o tipo de filme que faz?

Maddin
- Gosto da idéia de conto de fadas que as histórias transmitem. Mas é um conto de fadas impróprio para crianças, é só para adultos [risos]. Durante o processo de rodar um filme, você se esquece do que estava tentando fazer, e as coisas ficam meio confusas. Bem... Não sei, definição não é o que mais aprecio no mundo.

Folha - Por que escolheu usar essa textura mais primitiva, misturando o preto-e-branco às cores?

Maddin
- Aprendi, logo em meu primeiro filme, que sem clima não se tem nada. Não foi uma coisa planejada [o uso do p&b e do estilo de longas antigos]. Foi mais uma mensagem que quis incluir no enredo. As minhas histórias ganharam sabor dessa maneira.

Folha - Foi intencional fazer em "A Música Mais Triste do Mundo" uma crítica pesada aos EUA?

Maddin
- Não pensei em fazer um filme político. Por outro lado, estava consciente de que, ao ter um personagem que era norte-americano, outro sérvio e outro africano, eles assumiriam as respectivas alegorias de seus países. O protagonista acabou se tornando a representação da relação de amor e ódio que até mesmo os americanos sentem pelos EUA.

Folha - Qual a parte mais difícil de um filme?

Maddin
- Escolher o elenco, com certeza. Costumava chorar a cada fase de testes. Certa vez, peguei uma lista de atores e liguei para o agente de um finlandês. Ele me disse que o cara tinha morrido havia três anos. Quando percebi que estava tentando contratar atores mortos, vi que estava com problemas sérios. Tinham-se acabado as opções entre os vivos [risos].

Folha - E o próximo filme?

Maddin
- Vou rodar um curta com Isabella Rossellini para homenagear o centenário de nascimento de seu pai, Roberto Rossellini, que é em 2006. Mas estou num período de transição. Terei de sentar e esperar algumas vozes me dizerem o que fazer.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Guy Maddin
  • Veja a programação, sinopses e as notícias da Mostra BR de Cinema
  • Leia o que já foi publicado sobre a Mostra BR de Cinema
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página