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23/10/2004 - 09h19

Alemanha busca identidade em mundo global

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CHRISTIAN PETERMANN
free-lance para a Folha

Já se fala em uma nova geração de cineastas alemães, pós-Tom Tykwer e seu "Corra Lola, Corra" (98), que foi o primeiro filme a recolocar a Alemanha no cenário internacional desde os anos 60/70 --época de nomes como Fassbinder e Wim Wenders, que hoje prefere fazer cinema nos EUA.

Estes jovens diretores distanciam-se dos exercícios estéticos de Tykwer e trabalham geralmente temas sociopolíticos, sempre em busca de uma identidade alemã em meio à globalização. A Mostra traz alguns deles.

O mestre da classe é Fatih Akin, que, com o ótimo "Contra a Parede" (exibições hoje e dias 26 e 27), foi o primeiro cineasta alemão a receber o Urso de Prata no Festival de Berlim em 18 anos. Ele conta uma história de amor que começa com um casamento arranjado, entre Cahit (Birol Ünel), um vagabundo, e Sibel (Siebel Kekilli), que só quer fugir dos rigores morais de sua família turca.

Akin entrega, em um enredo bruto, uma imagem melancólica da presença turca na Alemanha, no caso Hamburgo. À base de gritos, sangue e baladas noturnas, o filme avança com incrível musicalidade. Sua obra é pontuada por canções folclóricas, rock e música eletrônica e há vinhetas em estilo Emir Kusturica com um sexteto instrumental e uma cantora. Akin ainda está presente na Mostra com o curta "Velhas Canções Malditas" (datas de exibição a definir) e um episódio do filme "Visões da Europa" (domingo, dias 25, 30 e 2/ 11).

Outro nome é Hans Weingartner, que, em "Edukators" (hoje, domingo, dias 31 e 1º/11), imagina três jovens que, com amor e atos de protesto, procuram definir seu lugar em um mundo perdido em ideologias. Peter (Stipe Erceg) e Jan (Daniel Brühl, de "Adeus, Lênin!") formam o grupo que invade mansões apenas para bagunçar seus móveis e deixar mensagens contra a burguesia.

Jule (Julia Jentsch), a namorada de Peter, desequilibra o processo. O astro Brühl protagoniza ainda "Amor em Pensamento" (dias 26, 28, 1º e 4/11), de Achim von Borries, inspirado em fatos reais. É mais uma crônica de juventude desencontrada, mas desta vez ambientada nos anos 20. Um fim de semana de consumo de absinto, bissexualidade latente e ciúmes descontrolados entre bem-nascidos e um proletário (Brühl) termina com a formação de um clube de suicídio. O resultado trágico serviu por anos para os nazistas como prova da decadência moral burguesa.

Como verificado também com o sucesso de "Adeus, Lênin!", o cinema alemão ainda tem muitas contas para ajustar com seu passado. Vale aí abrir uma brecha para um veterano, Edgar Reitz, que volta à Mostra com a conclusão de sua trilogia épica "Heimat" (Pátria), cujas partes anteriores datam de 1984 e 1992.

Está mais "conciso", com seis capítulos distribuídos em pouco mais de 11 horas, que começam a ser exibidos hoje. Reitz estuda a Alemanha do século 20 a partir da crônica de três famílias na pequena cidade de Schabbach. Neste último recorte, ele vai da queda do Muro à virada do milênio.

No microcosmos concebido, o cineasta, de 72 anos, registra com lucidez e incrível jovialidade as mudanças que levaram o país a recuperar o amor-próprio, mesmo com a difícil administração das desigualdades alimentadas pela unificação. Com Heimat, obra que consagra toda uma vida, Reitz tem muito o que ensinar a qualquer geração.

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