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23/10/2004 - 10h25

Cineasta austríaco educa com revolução quase desarmada

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LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
da Folha de S.Paulo

A seqüência começa com uma casa vazia. A família volta, cansada, de uma viagem. Tudo normal. Não fosse a desordem dos móveis e um pequeno bilhete nem se notaria que algum estranho esteve lá. Soldadinhos de porcelana invadiram a privada, as cadeiras subiram umas em cima das outras, a TV foi se refrescar na geladeira.

Antes que se pense que objetos inanimados ganharam vida, é bom explicar que "Edukators" é realista. Na nota, lacônica, deixada pelos invasores lê-se: "Seus dias de fartura estão contados".

Ex-neurocirurgião, o austríaco Hans Weingartner, 34, conta nesta produção alemã a história de dois jovens amigos que invadem mansões. Nada levam. Querem instaurar a revolução que não será televisionada.

O ato é pessoal, isolado, de repercussão quase nula. É maluco, ingênuo, ineficiente --e genial. O personagem de Daniel Brühl resume: "A rebelião é difícil agora. O que era subversivo hoje se compra em lojas". Partem ao ataque.

A amizade e o sucesso das operações entre os dois serão abalados por uma mulher. O clima vai pesar, algo vai dar errado e por aí segue a levada de "Edukators".

Após passar no Festival do Rio, no mês passado, e na Mostra, hoje, às 22h40, na Sala UOL (outras exibições amanhã e dias 31 e 1º/ 11), deve estrear em dezembro. O cineasta falou à Folha, por telefone, durante sua estadia no Rio.

Folha - O sr. estava presente nas sessões do Festival do Rio. O que o público achou do filme?
Hans Weingartner -
Para mim, foi fantástico. Eles gostaram do filme. A sala estava lotada, e o público ficou gritando no final de prazer. Eles realmente gostaram.

Folha - Por que fazer esse filme?
Weingartner -
Tentava entender por que a energia revolucionária da juventude tinha se perdido. Em outros tempos foram os jovens que se revoltaram, e é importante para o processo dinâmico da sociedade que haja quem a critique. Isso de certa forma acabou.

Folha - Por quê?
Weingartner -
Creio que se desenvolveu uma estratégia de pegar cada protesto, transformá-lo em produto e mandar de volta para a juventude. Não sabemos mais como e onde atacar o sistema. Os jovens estão muito desorientados. Acho que estão frustrados, porque sentem essa raiva interior e não sabem o que fazer com ela. Parece que o mundo é um muro de borracha e, quando tentam acertá-lo, o soco volta na cara.

Folha - O sr. acha que filmar é um jeito de combater o sistema?
Weingartner -
Sim, é o meu modo pessoal de fazer algo. Espero que os jovens entendam que se revoltar é mais divertido do que ficar em casa assistindo à TV.

Folha - O que o sr. achou de representar a Alemanha na competição do Festival de Cannes?
Weingartner -
Eu falo só por meu filme, não represento nenhum país. Mas foi uma boa experiência. Nunca tive o desejo de andar no tapete vermelho, mas foi divertido, é um grande circo.

Folha - O que o sr. acha do atual momento das eleições nos EUA?
Weingartner -
Acho que, se Bush ganhar novamente, vai começar uma nova guerra. Realmente tenho muito medo dele.

Folha - Há espaço hoje para ideologias ou tudo é dinheiro?
Weingartner -
Há espaço para idéias e para mudanças. Não entendo um mundo em que 90% das pessoas passam fome e os outros 10% comem tanto que têm de fazer dieta e só conseguem ser feliz à base de Prozac. É perverso esse lugar em que 100% das pessoas estão infelizes. Temos de mudar.

Folha - Por que escolheu deixar a neurocirurgia para fazer cinema?
Weingartner -
Tenho dois corações: um bate pela ciência e outro pela arte. Às vezes eles estão sincronizados. Cinema é 100% percepção e o que acontece na mente humana, porque o filme acontece basicamente na sua cabeça.

Folha - O sr. virá a São Paulo?
Weingartner -
Não vai dar tempo. Tenho ainda de ir à Polônia, Bélgica, Áustria e Espanha levando "Edukators". Depois vou recarregar minhas baterias.

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