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27/10/2004
-
18h18
JANAINA FIDALGO
da Folha Online
Defensor da simplicidade no cinema, feito com uma câmera, três lentes e um par de tripés, o diretor iraniano Abbas Kiarostami, 64, criticou hoje o domínio exercido pela indústria cinematográfica norte-americana. O cineasta, pela segunda vez no Brasil, é um dos homenageados pela 28ª Mostra BR de Cinema com uma retrospectiva de sua obra.
"Os franceses inventaram o cinema, mas os americanos o mantém. Obviamente que o cinema dos EUA tem coisas muito boas. Não posso negar a indústria do cinema, mas ela é ruim porque não deixa o cinema de outros lugares crescer", disse em entrevista coletiva.
Para o iraniano, o cinema fica cada dia mais distante da arte e mais próximo do entretenimento. "Não acho que deveria ser feito para passatempo. O cinema de arte jamais poderá competir com o cinema industrial."
Em "10 Sobre Dez" (2003), presente na retrospectiva, Kiarostami detalha em dez "lições" seu método de fazer cinema e os passos por ele trilhados em mais de 30 anos de carreira. Enquanto fala sobre o processo de produção de longas como "Dez" (2002) e "Gosto de Cereja" (1996), uma câmera fixa no carro capta seus ensinamentos. Ao fundo, imagens das estradas de Teerã relembram os cenários de seus filmes.
A subtração de recursos e de ferramentas para evitar o excesso está entre as dicas do iraniano, que vê na câmera digital um instrumento para a simplicidade e uma possibilidade de independência para os cineastas. Por outro lado, Kiarostami aponta o mau uso dado ao equipamento.
"A câmera digital foi uma grande descoberta por mostrar novos caminhos e possibilidades. Tecnicamente é maravilhosa. Mas depois de oito anos concluí que a câmera digital não funciona nas mãos de quem não tem consciência de como usá-la", afirmou.
Fazendo uma analogia, Kiarostami afirmou que com a câmera digital corre-se o risco de não olhar corretamente. "No ano passado fui fotografar natureza com um amigo. Eu levei uma câmera normal e o meu amigo, uma digital. Quando voltamos, ele tinha tirado 190 fotos e eu, nove. Das minhas nove imagens, duas prestaram. Das 190 dele, nenhuma prestou. Não se olha para o que está sendo fotografado, apenas se aperta o botão. O mesmo ocorre com a câmera digital", disse.
Kiarostami no Brasil
O cineasta dará uma aula magna hoje, às 21h, na Faap (Fundação Armando Álvarez Penteado), em São Paulo. Antes da aula, será exibido às 19h30 o longa-metragem "10 sobre Dez".
Na sexta-feira (29), o iraniano participa de um debate, às 19h, no Clube da Mostra, no Conjunto Nacional. Após o encontro, haverá uma sessão de autógrafos do livro "Abbas Kiarostami", da editora Cosac Naify.
Nascido em 1940, Abbas Kiarostami estudou Belas Artes na Universidade de Teerã e trabalhou como designer e ilustrador até 1968. Entre seus filmes estão "Cinco" (2004), "ABC África" (2001), "Através das Oliveiras" (1994), "Close Up" (1990), "O Vento Nos Levará" (1999), "First Graders" (1984) e "The Report" (1977).
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Indústria dos EUA não deixa cinema de outros países crescer, diz iraniano
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da Folha Online
Defensor da simplicidade no cinema, feito com uma câmera, três lentes e um par de tripés, o diretor iraniano Abbas Kiarostami, 64, criticou hoje o domínio exercido pela indústria cinematográfica norte-americana. O cineasta, pela segunda vez no Brasil, é um dos homenageados pela 28ª Mostra BR de Cinema com uma retrospectiva de sua obra.
"Os franceses inventaram o cinema, mas os americanos o mantém. Obviamente que o cinema dos EUA tem coisas muito boas. Não posso negar a indústria do cinema, mas ela é ruim porque não deixa o cinema de outros lugares crescer", disse em entrevista coletiva.
Para o iraniano, o cinema fica cada dia mais distante da arte e mais próximo do entretenimento. "Não acho que deveria ser feito para passatempo. O cinema de arte jamais poderá competir com o cinema industrial."
Em "10 Sobre Dez" (2003), presente na retrospectiva, Kiarostami detalha em dez "lições" seu método de fazer cinema e os passos por ele trilhados em mais de 30 anos de carreira. Enquanto fala sobre o processo de produção de longas como "Dez" (2002) e "Gosto de Cereja" (1996), uma câmera fixa no carro capta seus ensinamentos. Ao fundo, imagens das estradas de Teerã relembram os cenários de seus filmes.
A subtração de recursos e de ferramentas para evitar o excesso está entre as dicas do iraniano, que vê na câmera digital um instrumento para a simplicidade e uma possibilidade de independência para os cineastas. Por outro lado, Kiarostami aponta o mau uso dado ao equipamento.
"A câmera digital foi uma grande descoberta por mostrar novos caminhos e possibilidades. Tecnicamente é maravilhosa. Mas depois de oito anos concluí que a câmera digital não funciona nas mãos de quem não tem consciência de como usá-la", afirmou.
Fazendo uma analogia, Kiarostami afirmou que com a câmera digital corre-se o risco de não olhar corretamente. "No ano passado fui fotografar natureza com um amigo. Eu levei uma câmera normal e o meu amigo, uma digital. Quando voltamos, ele tinha tirado 190 fotos e eu, nove. Das minhas nove imagens, duas prestaram. Das 190 dele, nenhuma prestou. Não se olha para o que está sendo fotografado, apenas se aperta o botão. O mesmo ocorre com a câmera digital", disse.
Kiarostami no Brasil
O cineasta dará uma aula magna hoje, às 21h, na Faap (Fundação Armando Álvarez Penteado), em São Paulo. Antes da aula, será exibido às 19h30 o longa-metragem "10 sobre Dez".
Na sexta-feira (29), o iraniano participa de um debate, às 19h, no Clube da Mostra, no Conjunto Nacional. Após o encontro, haverá uma sessão de autógrafos do livro "Abbas Kiarostami", da editora Cosac Naify.
Nascido em 1940, Abbas Kiarostami estudou Belas Artes na Universidade de Teerã e trabalhou como designer e ilustrador até 1968. Entre seus filmes estão "Cinco" (2004), "ABC África" (2001), "Através das Oliveiras" (1994), "Close Up" (1990), "O Vento Nos Levará" (1999), "First Graders" (1984) e "The Report" (1977).
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