Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/11/2004 - 09h09

Oito exposições envolvendo 24 fotógrafos dominam agenda cultural de SP

Publicidade

EDER CHIODETTO
da Folha de S.Paulo

Oito exposições envolvendo 24 fotógrafos em cinco locais diferentes dominam a agenda cultural de São Paulo nesta semana.

Entre amanhã e sábado serão abertas as mostras da 13ª edição Coleção Pirelli-Masp, a visão de São Paulo pelo fotógrafo italiano Mimmo Jodice, duas abordagens sobre o presídio do Carandiru por Maureen Bisilliat e Ricardo Hantzschel, a extinção das cachoeiras no sul do país por Valdir Cruz, uma foto-instalação do aclamado artista plástico Miguel Rio Branco, além das mostras sobre religiosidade afro de Adenor Gondim e novamente São Paulo, agora vista a partir da periferia, por Iatã Cannabrava.

Cabem aos 17 fotógrafos que compõem a nova seleção da Coleção Pirelli-Masp abrir a semana fotográfica da cidade amanhã à noite no Masp. Seguindo uma tendência que já havia ocorrido em edições anteriores, o conselho deliberativo da coleção optou por resgatar o trabalho de fotógrafos que atuaram no início do século e mesclar com autores contemporâneos.

Desta feita destacam-se os belos e nostálgicos trabalhos do alemão naturalizado brasileiro Theodor Preising (1883-1962), que chegou a trabalhar como fotógrafo na frente de combate da 1ª Guerra Mundial antes de vir morar no Brasil, onde se estabeleceu como comerciante. Foi o responsável por introduzir no Brasil as primeiras câmeras Leica. Ao estabelecer um laboratório fotográfico em São Paulo, em 1924, Preising passou a fotografar paisagens para a confecção de cartões-postais.

Decorrem daí as belas imagens incorporadas agora ao acervo do Masp como "Vista do Corcovado" (1930), "Caminho do Mar" (final dos anos 20) e a inusitada fotografia em que o dirigível Graf Zeppelin sobrevoa a baía de São Vicente, em São Paulo, em 1933, entre outras.

Seguindo nessa linha de resgate de trabalhos antigos, a coleção ganhou uma pitada surrealista ao incorporar três obras do fotógrafo, pintor e escritor húngaro Francisco Aszmann (1907-1988), um ativo fotoclubista que emigrou com a família para o Rio de Janeiro em 1948, após sucessivas fugas originadas pelo bombardeamento de sua casa quatro anos antes durante a 2ª Guerra Mundial. A fotomontagem "Mania" (1941), em que uma série de olhos inquiridores observa o desespero de um homem é um ícone da Europa do entre guerras.

Entre os fotógrafos contemporâneos que chegam agora à coleção destacam-se o rigor de formas e cores obtidas por Delfim Martins em fotografias de plantações e colheitas, as polaroids de Armando Prado e a série "Os Últimos Dias de Meu Pai", do baiano Fernando Augusto.

No mesmo momento e lugar será aberta a mostra "São Paulo", mais uma homenagem em branco-e-preto aos 450 anos da cidade, agora pelo olhar do premiado fotógrafo italiano Mimmo Jodice, 70. Nascido em Napoli, é reconhecido por seu trabalho de documentação de sua cidade natal e pela vasta iconografia sobre o mediterrâneo, que pode ser vista no livro "Mediterrâneo", da editora Aperture. Sem conhecer a cidade, Jodice se pautou pelo espanto do primeiro olhar. Grafismos e formas que se repetem na arquitetura caótica da cidade servem de base para uma edição que busca semelhanças estéticas entre lugares díspares como as árvores do hotel Unique e os pilares do pavilhão da Bienal, por exemplo.

Se São Paulo foi um dos temas que dominaram o ano por conta do aniversário da cidade, o mesmo aconteceu com o Carandiru, que volta à cena no Centro Cultural São Paulo. A casa de detenção é retratada nos painéis fotográficos com inserções de textos organizados por Maureen Bisilliat a partir de entrevistas com detentos realizadas por Sophia Bisilliat e André Caramante e de imagens de João Wainer, da Folha, que originaram o livro "Aqui Dentro Páginas de Uma Memória".

Em contraponto a essa vertente testemunhal, mas igualmente revelador do universo do presídio, Ricardo Hantzschel inaugura "Vestígios", também no CCSP, na qual ele trabalha com imagens de mulheres que ilustravam as celas além de objetos abandonados pelos presidiários durante a desocupação dos pavilhões que seriam implodidos mais tarde.

Fotografar o que está em vias de desaparecer, na tentativa de tornar perene na imagem aquilo que o homem inevitavelmente transforma e destrói na realidade, também é a tônica do trabalho de Valdir Cruz, brasileiro radicado em Nova York, que mostra a partir de quarta, na galeria Rosa Barbosa, a exposição "O Caminho das Águas". Fotografando em preto-e-branco com forte sotaque pictorialista, Cruz documenta várias cachoeiras entre Curitiba e Foz do Iguaçu que correm o risco de desaparecer em virtude da construção de represas e usinas hidroelétricas. O artista aproveita sua passagem por São Paulo para lançar oficialmente seu livro "Faces da Floresta - Os Yanomami", editado pela Cosac Naify.

Na quinta é a vez de Miguel Rio Branco mostrar fotografias, vídeos e instalações sob o título "Gritos Surdos", na galeria Millan Antonio. A maratona fotográfica termina no sábado, na Pinacoteca do Estado, com as exposições de Adenor Gondim e Iatã Cannabrava.

Em "Itaylê Ogun", sob curadoria do especialista em religiosidade afro Diógenes Moura, Gondim realizou um mergulho em seu acervo fotográfico de onde emergiu uma rigorosa iconografia acerca da religiosidade e da mística baiana. O ciclo de mostras se completa retornando novamente a São Paulo no ensaio "Uma Outra Cidade", fruto de um projeto que Cannabrava vem realizando há quatro anos no bairro de Capão Redondo, no qual se destaca a bela série de imagens panorâmicas. Coloridas, porque a periferia, em ritmo de hip-hop, tem uma palheta de cores capazes de surpreender os olhos cansados que vagam pelo centro da cidade.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre exposições fotográficas
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página