19/11/2004 - 08h12

Diretor estréia mostrando violência na periferia de SP

SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha

Um sentido de urgência transparece em "Contra Todos". A sensação é fruto, em boa medida, do uso de suporte digital: a captação de imagens com câmeras portáteis, que operam com pouca luz e grande mobilidade, sobretudo em espaços reduzidos, aproxima o espectador dos personagens e o torna testemunha privilegiada da ação, como se estivesse bisbilhotando a rotina (e a intimidade) daqueles desconhecidos.

Não foi exatamente uma opção: ou o filme era realizado dessa maneira, ou seria preciso escolher outro argumento. O diretor e roteirista Roberto Moreira ambienta seu primeiro longa-metragem de ficção em um bairro da periferia de São Paulo. A ação se concentra na casa de Teodoro (Giulio Lopes), sujeito taciturno, que mora com a segunda mulher, Cláudia (Leona Cavalli), e a filha adolescente do primeiro casamento, Soninha (Silvia Lourenço).

A dinâmica conflituosa da família envolve aspectos religiosos, machismo, violência doméstica e uma nuvem de elementos apenas sugeridos, alguns dos quais vão aos poucos se delineando melhor. Na órbita desse núcleo, circulam também um amigo (Ailton Graça) e uma colega de igreja (Martha Meola) de Teodoro, além de um vizinho, filho do açougueiro (Ismael de Araujo).

Entre quatro paredes, as relações entre os personagens se tensionam, mas ainda respeitam certas regras, ao menos por algum tempo. A céu aberto, no entanto, todos parecem viver em terra de ninguém. Quem está contra eles? Na frase que deu origem ao título, criada por Mário de Andrade em "Macunaíma", Deus. A lógica do "cada um por si" define bem essa leitura direta da violência urbana, similar na concepção (embora bem menos no impacto) a "Um Céu de Estrelas", de Tata Amaral, também estrelado por Leona Cavalli, e do qual Moreira foi co-roteirista.

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