24/11/2004 - 10h07

"Senhora do Destino" terá a primeira cena de sexo entre mulheres

JAMES CIMINO
do Agora

As novelas brasileiras são famosas por abordar temas realistas. Já foram ao ar cenas de morte por bala perdida, alcoolismo, barriga de aluguel e até clonagem. Um assunto, contudo, sempre foi tratado como tabu: a homossexualidade --mesmo já tendo sido mostrado nas novelas "A Próxima Vítima" (1995) e "Mulheres Apaixonadas" (2003), entre outras. "Senhora do Destino", no entanto, promete entrar para a história da teledramaturgia brasileira como a primeira trama a exibir uma cena em que duas mulheres têm uma noite de amor.

Entre hoje e amanhã, as personagens Jenifer (Bárbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie), que já trocaram "selinhos" várias vezes, vão assumir o amor que sentem uma pela outra e ter sua primeira relação sexual. Mas nada será explícito --a cena não terá beijo de língua nem carícias ousadas entre as personagens.

O autor Aguinaldo Silva conta que a cena será clara, mas sutil. "Inicialmente, elas iriam para um motel, mas eu achei que era muito pouco romântico para a primeira noite de duas moças. Elas vão para o apartamento de um médico, colega de Eleonora, que se separou há pouco da mulher e eventualmente o empresta aos colegas --sem distinção de sexo", conta ele.

De acordo com Silva, a conversa entre as duas é tão intensa que beijos ou carícias deixariam a cena menor. "O importante é o que elas dizem uma à outra", conta o autor. Mesmo não mostrando o que aconteceu, vai ficar claro o que houve entre as garotas. "As duas vão acordar na mesma cama, mas não é minha intenção mostrar o que rolou", diz o autor.

Outro aspecto que chama a atenção no tema tratado é a aceitação dos familiares quanto à condição sexual das filhas. Depois de Janice (Mara Manzan) e Venâncio (André Gonçalves), mãe e irmão de Eleonora, será a vez de o bicheiro Giovanni (José Wilker) saber da boca da filha que ela e a namorada, presente à revelação, viverão juntas. "É nessa conversa que Jenifer finalmente toma uma posição definitiva em relação ao assunto e deixa Giovanni, como ele mesmo diz, 'completamente troncho'", adianta Silva.

Opiniões divididas

A pesquisadora em telenovelas da USP Maria de Lourdes Motter acha que o assunto está sendo tratado com a delicadeza devida. "Mostrar a Eleonora sofrendo por amor é muito importante. Isso mostra que o objetivo não é fazer apologia [à homossexualidade], mas mostrar que isso deve ser tratado com naturalidade."

O público acha o tema inadequado, enquanto ativistas do movimento gay se dividem. André Fischer, diretor do Festival Mix Brasil, diz que essa forma de exibição é ideal. "Vivemos em um país careta. Tem de mostrar a coisa de maneira dosada."

Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, acha as cenas muito tímidas. "Enquanto os heterossexuais quase praticam sexo explícito, os gays têm de ficar 'no armário'."

Especial

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