Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/10/2000 - 03h51

Tracey Moffatt encena tédio de mulheres ricas

Publicidade

da Folha de S.Paulo

Tracey Moffatt é a "rainha da arte". É assim que ela mesma, ironicamente, se intitula. Mas a artista australiana não está sendo egocêntrica.

Uma das mais badaladas integrantes da arte contemporânea, como fotógrafa e cineasta, apresenta a partir de hoje a exposição "Laudanum", na galeria Luisa Strina, em São Paulo.

Suas obras não são desconhecidas por aqui. Já participou de duas bienais. Na última, em 1998, apresentou o vídeo "Heaven", no qual flagrava, secretamente, surfistas se desnudarem.

Contudo sua maior característica não é a documentação, mas fotografias encenadas, em geral, em sua terra natal, a Austrália. Moffatt é filha de aborígenes.

Várias vezes, a artista se auto-retratou em suas obras. Em entrevista por e-mail à Folha, de Nova York, para onde se mudou em 1997, ela diz que, da próxima vez que fizer isso, estará mais bela que a modelo brasileira Gisele Bündchen. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - "Laudanum" é sua obra mais recente?
Tracey Moffatt -
"Laudanum" foi feita no ano passado, mas é uma obra bastante nova para amantes da arte contemporânea no Brasil. Fiz uma grande série recentemente intitulada "Invocations" e um novo curta-metragem chamado "Artist". Eles estão sendo vistos nos Estados Unidos, Europa e Austrália. Dê um tempo para a Luisa Strina, ela deve mostrar esses trabalhos no próximo ano.

Folha - Quem escolheu esta série para vir ao Brasil?
Moffatt -
A Strina pediu para mostrar "Laudanum" quando ela viu a exposição em Nova York no ano passado. Ela tem bom gosto!

Folha - Você já esteve no Brasil?
Moffatt -
Eu ainda não estive no Brasil. É uma vergonha. Meu trabalho já foi visto em duas bienais, e acho importante acompanhar uma exposição. Ter uma mostra no Brasil é uma boa razão para conhecer o país (mas quem precisa de uma razão para conhecer o Brasil?). Certamente um dia irei, até porque tenho tantos amigos aí, inclusive a Denise Stoklos, uma performer maravilhosa. Acho que ela é a melhor atriz física no mundo.

Folha - Então por que você não vem agora?
Moffatt -
Não pude viajar por problemas de saúde. Meu curandeiro hippie "new age" diz que não posso viajar por enquanto. Acho que me exaustei nos últimos três anos. Viajar pelo mundo inteiro como a "rainha da arte"... Sabe que fiz 50 exposições individuais em três anos? Preciso de um descanso. Assim, tenho de me satisfazer em apenas dar um beijo de adeus às minhas obras. É como mandar uma parte de mim.

Folha - Como você chegou à idéia de "Laudanum"?
Moffatt -
"Laudanum" era uma droga líquida feita de ópio. Mulheres ricas do século 19 usavam isso para "acalmar os nervos", o que é frequentemente mencionado nos livros de Charles Dickens. Essas mulheres entediadas ficavam loucas com isso, um tipo de Prozac da época. Eu pensei que, como uma "dramática da foto", poderia forjar uma história sensual em alguma colônia longínqua -que poderia ser Austrália, Nova Zelândia, Hong Kong ou até mesmo o Brasil-, em que uma patroa, numa grande casa, enlouquecia e fazia coisas interessantes com sua pobre empregada.

Não me pergunte de onde tiro essas idéias. Alguém disse que devo passar muito tempo sozinha. Acho que é verdade, pois nunca consigo criar quando estou feliz ou com gente à minha volta.

Eu adoro histórias perversas que ocorrem em mansões, como a peça espanhola de 1930 "A Casa de Bernarda Alba", de Lorca.

Folha - A maioria de suas fotos é encenada. Por quê?
Moffatt -
Elas são encenadas porque não sou boa como fotógrafa documental. Mesmo que eu goste de ver fotografias realistas, seria estúpido e entediante tentar fazer isso. Não tenho paciência. Sou muito controladora -como a patroa de "Laudanum". Eu gosto de tudo do meu jeito.
Na verdade, não há nenhuma outra forma, a não ser a maneira de Tracey Moffatt. Só eu posso mandar. Mas todo esse controle acaba sempre explodindo e escapando de minhas mãos. Veja que a fraca e podre patroa pega fogo no fim da história. Essa sou eu. Parte dessa encenação também é provocada pela imagem final das obras. As fotos de "Laudanum" são feitas como fotogravura, um processo muito antigo de gravura que faz as fotos parecerem antigas.

Folha - Frequentemente você aparece em suas obras. Por quê?
Moffatt -
Apareci em algumas apenas porque não encontrei alguém para posar para mim. Prefiro trabalhar com modelos que encontro na rua ou então atores profissionais. Se eu aparecesse em fotografias agora, usaria o computador para manipulá-las para que eu parecesse uma supermodel -melhor que a Gisele!
(FCy)

Exposição: Laudanum, de Tracey Moffatt
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974-A, Jardins, São Paulo, tel. 0/xx/11/3088-2471)
Quando: abertura hoje, às 19h; de segunda a sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 14h; até 4/11
Quanto: entrada franca (obras por US$ 2.500)

Leia mais notícias de Ilustrada na Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página