04/02/2005 - 09h00

Alexander Payne registra avesso do sonho americano

SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha

O diretor e roteirista Alexander Payne vem se especializando, discretamente, em revelar os EUA --ou, como preferem por lá, a "América"-- pelas beiradas. O espírito competitivo germinado na escola alimentava "Eleição" (99); a cultura do trabalho e do consumo, anestesiando o prazer e as relações afetivas, pautava "As Confissões de Schmidt" (02).

Em ambos, pairava a amargura da frustração em uma sociedade que oferece prêmios para bem poucos como se eles estivessem ao alcance de todos.

"Sideways - Entre Umas e Outras" localiza esse mesmo estado de espírito, de modo muito feliz, na faixa dos homens de 40 anos. Miles (Paul Giamatti, de "Anti-Herói Americano") é um professor de literatura que sonha se tornar escritor e aguarda, ansioso, a resposta da editora para a qual enviou seu primeiro romance. Jack (Thomas Haden Church) é um ator de TV, medíocre e mulherengo, prestes a se casar com uma jovem que desconhece o seu pior lado.

Amigos de universidade, eles programam viagem de uma semana pelos vinhedos da Califórnia como despedida de solteiro de Jack e, quem sabe, comemoração pelo aguardado futuro de Miles. Na jornada, encontram uma garçonete (Virginia Madsen), uma vendedora de vinhos (Sandra Oh) e um bocado de confusão, além de uma questão de fundo: cada um, à sua maneira, é obrigado a reavaliar o que espera da vida para escapar da solidão e da angústia.

Pricipal representante dos "independentes" na corrida ao Oscar, com cinco indicações (incluindo melhor filme), "Sideways" recebeu os principais prêmios da temporada nos EUA, o que talvez leve o espectador a encará-lo com expectativa elevada. É o que de pior poderia ocorrer a essa comédia dramática, discreta na realização e modesta nas intenções, mas eficiente na tentativa de registrar o avesso do sonho americano.

Especial

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